Estranha coincidência. No mesmo fim-de-semana em que
mais um piloto brasileiro faz sua estréia na F-1, o
país vive difícil momento na categoria.
Graças
a uma dor de barriga de Eddie Irvine, Luciano Burti foi alçado
de uma hora para outra a um dos postos de titular da Jaguar
em plena fogueira.
Não
lhe falta familiaridade com o carro, claro, mas com o circuito
austríaco e com os ritos de treino e corrida, algo
nada fácil de se apreender _sem contar com o fato de
Irvine ter lhe roubado duas importantes sessões de
treinos livres para adaptação.
Enfim,
Burti ou faz história ou será apenas mais um,
como estão sendo os outros representantes do país
nesta temporada.
Zonta,
por exemplo, encabeça a lista dos que estarão
a pé no próximo ano, e Diniz, sem nenhum ponto
até aqui, vem sendo "cotado" para ocupar
uma das vagas da Minardi, o mais triste crepúsculo
de um piloto na F-1.
Barrichello,
fora todo o carnaval que mereceu desde o ano passado, só
voltará a causar suspiros quando vencer uma corrida.
Pior,
o próprio piloto só espera o feito para quando
Michael Schumacher tiver o título assegurado _se isso
acontecer_, quando a proeza não valerá tanto
para um público quase sempre implacável.
O
leitor pode recorrer ao futuro, onde se encontram o próprio
Burti e algumas outras promessas, como Enrique Bernoldi, Bruno
Junqueira e Antonio Pizzonia. Mas, com um mercado agitado
como o de agora, nada é certo, a não ser as
lúdicas promessas de empresários e assessores
de imprensa.
A
essa altura do campeonato, no ano passado, a quase certeza
da contratação de Barrichello pela Ferrari e
seu bom momento na Stewart projetavam um novo boom brasileiro
na F-1.
Acreditava-se
que as cotas de patrocínio aumentariam, que as audiências
cresceriam e que novos talentos oxigenariam a presença
nacional na categoria.
Passado
um ano, Barrichello, aquele que no GP Brasil afirmava que
iria correr pelo título, afirma ao colega Fábio
Seixas, nesta Folha, que "é essa minha
paciência, é essa minha vontade que vai me trazer
um dia uma vitória".
Tudo
bem que ele seja paciente. Mas cobrar isso da torcida e da
mídia já é pedir demais. A paciência
do público, que já não é grande,
está no limite.
Barrichello,
basicamente, precisa mostrar a que veio. E já está
ficando tarde para tanto.
*
Dizem que David Coulthard e Schumacher bateram boca ontem
em uma reunião dos pilotos, em Zeltweg. E que Jacques
Villeneuve, durante o entrevero, tomou as dores do escocês,
um de seus poucos amigos no grid.
O episódio faz lembrar a polêmica decisão
de 1997, quando o canadense, após escapar do desespero
do alemão e assegurar o título, abriu passagem
para a dupla da McLaren vencer a corrida.
A rivalidade de Coulthard e Schumacher, que não é
nenhuma novidade, deve ser o combustível da segunda
metade do campeonato, que se inicia agora. Aliás, que
promete ser bem mais interessante que a primeira.
Para quem consegue prescindir do nacionalismo, a F-1 promete.
NOTAS
Novo
A Ferrari estréia na Áustria seu novo aparato
de pit wall, aquela tenda onde os engenheiros e técnicos
acompanham treinos e corridas. Exagerado, como tudo no time,
com absurdos 28 monitores.
Velho
A quebra do motor de Schumacher na França ressuscitou
a aspereza da mídia italiana com a escuderia. Foto
do alemão pulando de pára-quedas, a última
de suas estripulias fora da pista, mereceu a seguinte legenda
de jornal: "Ferrari em queda livre?".
Frase
Indagado sobre Barrichello, Schumacher, durante entrevista
coletiva, afirmou: "Acho que ele está se saindo
bem. Não sei o que esperam dele, mas ele nunca disse
que rivalizaria comigo. Tem coisas para melhorar, claro, mas
está se saindo bem".
E-mail: mariante@uol.com.br
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