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29/10/2002 - 02h50

Leia a introdução da "Estratégia de Segurança Nacional dos EUA"

da Folha de S.Paulo

Leia abaixo a introdução do documento "A Estratégia de Segurança Nacional dos EUA", divulgado em setembro deste ano e que consolida a chamada "doutrina Bush". Para ler o texto na íntegra —e em inglês—, visite o site www.whitehouse.gov/nsc/nss.html.

Casa Branca
Washington


As grandes lutas do século 20 entre liberdade e totalitarismo terminaram com uma vitória decisiva das forças da liberdade —e um único modelo sustentável para sucesso nacional: liberdade, democracia e livre iniciativa. No século 21, somente nações que compartilhem um comprometimento para proteger direitos humanos básicos e garantindo liberdade política e econômica serão capazes de libertar o potencial de seu povo e garantir sua prosperidade futura. Pessoas em todos os lugares querem ser capazes de falar livremente; escolher quem as vai governar; cultuar conforme seu desejo; educar suas crianças —dos sexos masculino e feminino; possuir propriedade; e aproveitar os benefícios de seu trabalho. Esses valores de liberdade são direitos e verdadeiros para todas as pessoas, em todas as sociedades —e a tarefa de proteger esses valores contra seus inimigos é a exigência básica de pessoas, em todo o globo e de todas as idades, que apreciam a liberdade.

Hoje, os Estados Unidos aproveitam uma posição de poderio militar sem paralelos e grande influência política e econômica. Mantendo nossas heranças e princípios, nós não usamos nossa força para pressionar por vantagem unilateral. Nós buscamos, em vez disso, criar um equilíbrio de poder que beneficie a liberdade humana: condições de acordo com as quais todas as nações possam escolher por si mesmas as recompensas e desafios da liberdade política e econômica. Em um mundo seguro, as pessoas podem fazer suas próprias vidas melhores. Nós defenderemos a paz lutando contra terroristas e tiranos. Nós preservaremos a paz construindo boas relações entre as grandes potências. Nós estenderemos a paz encorajando sociedades livres e abertas em todos os continentes.

Defendendo nossa nação contra seus inimigos é o primeiro e fundamental comprometimento do Governo Federal. Hoje, essa tarefa mudou dramaticamente. Inimigos no passado precisaram de grandes exércitos e grande capacidades industriais para ameaçar a América. Agora, redes obscuras de indivíduos podem trazer grande caos e sofrimento para nossas terras por menos do custo de um único tanque. Terroristas estão organizados para penetrar em sociedades abertas e para virar o poder de tecnologias modernas contra nós.

Para derrotar essa ameaça, nós devemos fazer uso de toda ferramenta em nosso arsenal —poderio militar, melhores defesas do território, garantia de obediência às leis, inteligência e esforços vigorosos para cortar o financiamento de terroristas. A guerra contra terroristas de alcance global é uma iniciativa global de duração incerta. A América vai ajudar as nações que precisem de nossa assistência para combater o terror. E a América vai desafiar nações que estão comprometidas com o terror, incluindo aquelas que guardam terroristas, porque os aliados do terror são os inimigos da civilização. Os Estados Unidos e países colaborando conosco não podem permitir que terroristas desenvolvam novas bases. Juntos, vamos buscar negar a eles refúgio, a todo momento.

O mais grave perigo que a nossa nação encara está no cruzamento de radicalismo e tecnologia. Nossos inimigos declararam abertamente que estão procurando armas de destruição de massas, e evidências indicam que eles estão fazendo isso com determinação. Os Estados Unidos não permitirão que esses esforços sucedam. Nós construiremos defesas contra mísseis e outros modos de ataques. Nós trabalharemos em conjunto com outras nações para negar, conter e reduzir os esforços de nossos inimigos para adquirir tecnologias perigosas. E, como um problema de senso comum e autodefesa, a América vai agir contra as ameaças desses inimigos antes que elas estejam totalmente formadas. Nós não podemos defender a América e nossos amigos somente esperando pelo melhor. Por isso devemos estar preparados para derrotar os planos de nossos inimigos, usando a melhor inteligência e procedendo com deliberação. A história julgará cruelmente aqueles que viram esse perigo, mas não agiram. No novo mundo em que entramos, o único caminho para paz e segurança é o caminho de ação.

Enquanto defendemos a paz, nós também tiraremos proveito de uma oportunidade histórica para preservar a paz. Hoje, a comunidade internacional tem sua melhor chance desde a ascensão do estado-nação no século 17 para construir um mundo em que grandes poderes compitam em paz em vez de continuamente se preparar para a guerra. Hoje, as maiores potências do mundo se encontram do mesmo lado —unidas pelos perigos comuns de violência terrorista e caos. Os Estados Unidos se basearão nesses interesses comuns para promover a segurança mundial. Nós estamos também crescentemente unidos por valores comuns. A Rússia está no meio de uma transição esperançosa, alcançando seu futuro democrático e de parceira contra o terror. Líderes chineses estão descobrindo que liberdade econômica é a única fonte de riqueza nacional. Em tempo, descobrirão que liberdade política e social é a única fonte de grandiosidade nacional. A América encorajará o avanço da democracia e abertura econômica em ambas as nações, porque essas são as fundações de estabilidade doméstica e ordem internacional. Nós vamos resistir fortemente à agressão de outras grandes potências —ao passo que damos as boas-vindas a suas buscas por prosperidade, comércio e avanço cultural.

Finalmente, os Estados Unidos usarão esse momento de oportunidade para estender os benefícios de liberdade por todo o globo. Nós lutaremos ativamente para trazer a esperança de democracia, desenvolvimento mercados livres e livre comércio para todos os cantos do mundo. Os eventos de 11 de setembro de 2001 nos ensinaram que Estados fracos, como o Afeganistão, podem ser uma grande ameaça aos nossos interesses como Estados fortes. A pobreza não torna pessoas pobres em terroristas e assassinos. Mas a pobreza, instituições fracas e corrupção podem tornar Estados fracos vulneráveis para redes terroristas e cartéis de drogas em suas fronteiras.

Os Estados Unidos estarão ao lado de qualquer nação determinada para construir um futuro melhor por meio da busca de recompensas de liberdade para seu povo. Livre comércio e livre mercados provaram sua habilidade de tirar sociedades da pobreza —por isso os Estados Unidos trabalharão tanto com nações individualmente, regiões inteiras e toda a comunidade global de comércio para construir um mundo que negocia com liberdade e, portanto, cresce em prosperidade. Os Estados Unidos fornecerão maior assistência de desenvolvimento por meio do "New Millennium Challenge Account" para nações que governem com justiça, invistam em seu povo e encorajam liberdade econômica. Nós também continuaremos a liderar o mundo nos esforços para reduzir o terrível índice de HIV/Aids e outras doenças infecciosas.

Construindo um equilíbrio de poder que favoreça a liberdade, os Estados Unidos estão guiados pela convicção de que todas as nações têm responsabilidades importantes. Nações que aproveitam liberdade devem ativamente lutar contra o terror. Nações que dependem de estabilidade internacional devem ajudar a evitar a distribuição de armas de destruição de massas. Nações que buscam ajuda internacional devem governar a si mesmas com inteligência, para que a ajuda seja bem gasta. Pela liberdade de prosperar, responsabilidade deve ser esperada e exigida.

Nós também somos guiados pela convicção de que nenhuma nação sozinha pode construir um mundo mais seguro e melhor. Alianças e instituições multilaterais podem multiplicar a força de nações que apreciam a liberdade. Os Estados Unidos estão comprometidos com instituições como as Nações Unidas, a Otan e outras alianças duradouras. Coalizões com interessados pode aumentar as instituições permanentes. Em todo caso, obrigações internacionais devem ser levadas a sério. Elas não devem ser subestimadas simbolicamente para reunir apoio por um ideal sem ampliação de esforços.

A liberdade é uma exigência não-negociável da dignidade humana. O direito inato de todas as pessoas —em todas as civilizações. Ao longo da história, a liberdade foi ameaçada pela guerra e pelo terror; ela foi ameaçada pelos desejos conflitantes de Estados poderosos e ordens perniciosas de tiranos; e ela foi testada por amplas pobreza e doença. Hoje, a humanidade tem em suas mãos a oportunidade para ampliar o triunfo da liberdade sobre esses opositores. Os Estados Unidos dão as boas-vindas à nossa responsabilidade de liderar essa grande missão.

George W. Bush
CASA BRANCA,
17 de setembro de 2002

Tradução de Marcelo Vaz.

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