Folha Online sinapse  
28/01/2003 - 02h39

O mundo da moda, passo a passo

ERIKA PALOMINO
colunista da Folha de S.Paulo

Reuters
Yves Saint Laurent
A alta-costura é um território de sonho a que pouquíssimas pessoas podem ter acesso. Surgiu em 1858 com Charles Worth e hoje é sinônimo de roupa muito bem feita e muito cara. Para ganhar o status de alta-costura, são necessários alguns requisitos de estrutura e refinamento só encontrados em Paris e, quando muito, em Milão. Por isso, não acredite quando falarem "Faço alta-costura". Pode fazer roupa de luxo ou de festa. "Couture", não. Atualmente, a alta-costura é território para estrelas da música ou de Hollywood, além de socialites poderosas e princesas árabes. Ajuda a inspirar os estilistas e a mídia. O gênero sofreu golpe mortal em 2002, com o fechamento do ateliê do mestre Yves Saint Laurent. Leia "Yves Saint Laurent - Forty Years of Creation", editado por Beatriz Dupire, Marie-Jo Lepicard & Hady Sy (Roy P. Jensen Inc., 1998).

O prêt-à-porter —que parece tão chique— nada mais é do que a estrutura de comercialização das roupas em série , em tamanhos e modelagens pre-determinados. O sistema apareceu em 1948, mas foi mesmo nos anos 60 que explodiu, sendo responsável pela primeira onda de popularização da moda. Os desfiles femininos do prêt-à-porter internacional, por exemplo, acontecem duas vezes ao ano, no chamado Planeta Fashion (Paris, Londres, Milão e Nova York) e são o ponto de partida para toda a moda do mundo. Para saber mais sobre o assunto, vale dar uma olhada em "As Espirais da Moda", de François Vincent-Ricard (Paz e Terra, 1989, 250 págs., esgotado) e "Fifty Years of Fashion", de Valerie Steele (Yale University Press, 1997).

É no âmbito do prêt-à-porter e da alta-costura que funciona a indústria dos bens de luxo (luxury). As grifes internacionais relacionadas aos grandes conglomerados fazem o dinheiro circular e a moda chegar a todos os pontos do planeta, graças a megainvestimentos de marketing, mídia e talentos, apoiados pelo fenômeno da globalização. Esse segmento agora tenta absorver as características de praças e consumidores locais, depois do baque de 11 de setembro. Para entender um pouco mais, há dois bons sites sobre o assunto: www.eluxury.com e www.style.com.

Por que toda mulher gosta tanto de sapatos e de bolsas, perguntam homens em todo o planeta? Porque com os acessórios é possível criar alternativas bacanas para os looks, mudando todo o tempo (algo que a moda adora). A indústria de acessórios ajuda a colocar em funcionamento a engrenagem dos bens de luxo: quem não pode comprar uma grande grife compra uma bolsa aqui, um sapato ali... O mesmo vale para perfumes —que ganham status de roupa— e maquiagem. Há muitas referências sobre acessórios. Vale consultar os sites www.netaporter.com e www.sephora.com e os livros "Sapatos", de Linda O'Keeffe (Konemann Port, 1996, R$ 42) e "Manolo Blahnik", de Colin McDowell (Harper USA, 2000).

A customização é o processo de deixar tudo com a cara do próprio cliente (vem de "custom made", feito sob medida, na tradução do inglês). É manifestação da luta pela individualização dos looks, contra a massificação proposta pelas grandes grifes. Pegou de uma maneira que as grandes grifes estão dando um jeito de fazer seus looks diferenciados. Para se atualizar, basta acompanhar as edições de revistas inglesas como "The Face", "i-D" e "Tank" e a americana "Nylon".

France Presse
Gisele Bündchen
Pós-11 de setembro, reduzida a confiança do consumidor em gastar dinheiro com roupas, entra em cena o fundamento "cross-shopping" . Ou seja: gastar pouco, sabendo comprar, em lojas mais populares. Sobe Zara, desce Gucci. Aqui, Gisele Bündchen deu seu aval à C&A e legitimou algo que os brasileiros já sabem fazer faz tempo: dar o truque com coisas baratinhas. Confira as novidades diretamente nos sites de marcas como C&A (www.cea.com.br), Lojas Riachuelo (www.riachuelo.com.br) ou Renner (www.lojasrenner.com.br).

Gisele em si abriu o caminho para o fashion "made in Brazil". A menina de Nova Horizontina, no Rio Grande do Sul, é um dos maiores fenômenos da moda de todos os tempos. Se ela pudesse ser comparada a alguém, seria algo como Twiggy e Linda Evangelista. Mas ela é incomparável e maior do que isso. É um ícone dos tempos atuais, uma estrela no sentido hollywoodiano, grandioso, da palavra. Se quiser saber mais sobre esse mundo, vale ler "Modelo", de Michael Gross (Objetiva, 1995, R$ 40, 406 págs.).

Publius Vergilius/Folha Imagem
Jade, personagem de "O Clone"
A moda brasileira hoje tenta ganhar auto-estima, lutando contra o pensamento colonizado das elites, que insistem em pensar que o que vem "de fora" é melhor. No final dos anos 70, as novelas se posicionaram como lançadoras de tendência, com a TV espalhando modismos por todo o país. Está aí a recente história da Jade (protagonista da novela das oito da Globo "O Clone") para não deixar nenhuma dúvida sobre isso... Até meados dos 90, não havia nem sequer um calendário organizado de desfiles, que só foi surgir em 94, quando a moda virou coqueluche na mídia brasileira. Desde então, São Paulo e Rio se acostumaram a acompanhar o vaivém das modelos. É uma febre. O que a moda brasileira tem a dar para o mundo? O olhar sensual e pós-moderno, a fusão da tecnologia com a manufatura, do chique e do popular. Leia "Bordados da Fama - Uma Biografia de Dener", de Carlos Alberto Doria (Editora Senac, 1988, 204 págs., R$ 30); "Modos de Homem e Modas de Mulher", Gilberto Freyre (Record,1987, 184 págs., R$ 23) e "Moda Brasil: Fragmentos de um Vestir Tropical", de Kathia Castilho Cunha e Carol Garcia (Anhembi Morumbi, 2001, 157 págs., R$ 25). E não deixe de acessar o www.modabrasil.com.br, que tem sempre novidades.

Reuters
Modelo com roupas "streetwear"
A moda jovem é a grande renovadora de tudo e faz a rua importar mais que a passarela, fenômeno detonado no final dos anos 80, cristalizado no início dos 90 e elevado ao status de culto nos anos 2000. Hoje, o estilo praticado nas ruas dá o selo de aprovação ao que é criado pela alta moda. Ao mesmo tempo, o varejo vive crise de criação e identidade. Carece de paixão e entusiasmo para detonar o ato que move a moda: a compra. As armas da moda jovem: underground, streetwear, clubwear, internet, customização, preços mais baixos. Para saber mais, vale dar uma olhada em "Streetstyle: From Sidewalk to Catwalk", de Ted Polhemus (Thames & Hudson, 1997, Londres) e, do mesmo autor, "What to Wear in the 3rd Millenium" (Thames & Hudson, 1996).

Para evitar erros, a indústria segue não apenas as orientações dos especialistas em tendências (os birôs), mas confirma previsões para evitar desperdício de dinheiro na chamada cadeia têxtil (das fibras e fiações ao produto na mão do consumidor). Seguir as tendências é algo cada vez menos necessário: não seguir a moda faz de cada outsider um herói das ruas. A grande moda é a antimoda. Fique por dentro e não deixe de consultar "O Essencial", de Costanza Pascolato (Objetiva, 1999, 244 págs., esgotado), "Chic", de Gloria Kalil (edição Mulher, Editora Senac, 2001, 246 págs., R$ 48), e "O Homem Casual", de Fernando de Barros (Mandarim, 1998, 220 págs., R$ 35).

SAIBA MAIS:

Bibliografia suplementar:
"O Império do Efêmero", Gilles Lipovetsky, Companhia das Letras, 296 págs., R$ 37
"Enciclopédia da Moda", de Georgina O'Hara, Companhia das Letras, 304 págs., R$ 51
"Moda do Século", de François Baudot, Cosac & Naify, 399 págs., esgotado
"O Sexo e as Roupas: a Evolução do Traje Moderno", de Anne Hollander, Rocco, 264 págs., esgotado
"A Linguagem das Roupas", Alison Lurie, Rocco, 1997, 285 págs., esgotado

Mais informações na internet:
- www.erikapalomino.com.br
- www.chic.com.br
- www.saopaulofashionweek.com.br

Na TV, veja o "GNT Fashion" (GNT) e o canal Fashion TV, na DirecTV

Nas revistas, vale acompanhar as estrangeiras "Vogue" Itália, "Vogue" América e "Harper's Bazaar". As brasileiras: "Elle", "Vogue" e "Marie Claire"

Leia mais:
- Cada um à sua moda

     

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