Folha Online sinapse  
25/03/2003 - 02h52

Tecnologia perfumada

HELOÍSA HELVÉCIA
free-lance para a Folha de S.Paulo

Os códigos da linguagem tecnológica são lineares, racionais e masculinos em excesso. Precisam ser "perfumados", ou seja, humanizados, defende a futurista Rosa Alegria, uma das criadoras da Sociedade dos Saberes Femininos. "A relação entre mulher e tecnologia é esquizofrênica. Ela é usuária, mas nunca agente da tecnologia. É preciso realinhar essas duas realidades."

Não que a mulher tenha uma dificuldade especial de aprendizado, por favor. O ponto da pesquisadora é: quem usa liquidificador também deve participar de sua criação, do design à tecnologia. "Todas as tecnologias da história foram desenvolvidas por homens e são, até hoje —de eletrodomésticos a tecnologia da informação. É preciso conhecer melhor a mulher para potencializar seu universo tecnológico. Como inseri-la nessa vertente de evolução econômica se a linguagem é masculina? Como atender suas necessidades se ela não está nas equipes de desenvolvimento tecnológico?", pergunta.

Mas a pesquisadora, que integra o Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP e responde no Brasil pelo Projeto Milênio (pesquisa da Universidade das Nações Unidas que envolve mais de mil futuristas e 90 países), é otimista. "No Brasil e no mundo, os centros para mulheres de formação em tecnologia estão aumentando. Já há estudos para o desenvolvimento de linguagens que possam atender o universo cognitivo da mulher e grupos de feministas trabalhando ao lado de linguistas nessa questão".

Entre os exemplos, cita o Instituto da Mulher na Tecnologia, liderado pela tecnóloga Anita Borg, a Metodologia GEM (Gender Evaluation Methodology), iniciativa da Associação para o Progresso da Comunicação, que mede até que ponto as tecnologias melhoram a condição da mulher, cartilhas para uso da internet e programas de combate à exclusão digital —fundamentais, considerando que as mulheres constituem dois terços da população pobre do mundo.

Para Rosa Alegria, a internet é feminina: "É a tradução tecnológica mais afinada da mulher, um ser que atua em rede. As empresas que não tiverem os "insights" de mulheres podem estar perdendo grandes oportunidades", diz.

Feminina ou não, a internet vem sendo uma aliada das profissionais interessadas em equilibrar vida pessoal e carreira. A área de tecnologia, segundo Gladys Zrncevich, da empresa de recrutamento Korn/Ferry, é uma das mais procuradas hoje pelas mulheres, em função da flexibilidade de horários e da facilidade em montar uma empresa em casa.

Mulheres são quase 60% da população on-line nos EUA. No Brasil, segundo dados da E-Consulting, elas respondem por 23% do e-commerce. Nas operações web das agências de publicidade, são 59%; entre produtores de conteúdo, são 41%; entre integradoras de tecnologia, são 16%; e representam 29% na área de consultoria da internet.

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