Folha Online sinapse  
29/04/2003 - 03h00

Iniciativa cultural tem mais visibilidade

BETH CALÓ
GUILHERME CALDERAZZO

free-lance para a Folha de S.Paulo

Doações de caráter cultural costumam ter maior visibilidade, o que estimula iniciativas semelhantes. Criador da mais completa e famosa biblioteca particular do país, José Mindlin, 89, doou os 15 mil livros nacionais do acervo para a Universidade de São Paulo. Com uma contrapartida: a USP doou um terreno para o doador. É o próprio Mindlin, porém, que se incumbe de construir o prédio que abrigará a Fundação Cultural Guita e José Mindlin. "Não temos essa mentalidade da doação dirigida para o interesse público. Precisamos criá-la até torná-la uma tradição no país", diz Mindlin.

A tradição não existe, mas as iniciativas do gênero começam a aparecer com mais frequência. No Rio, a biblioteca de Mário Pedrosa (1900-1981), intelectual pioneiro na crítica de arte, acaba de ser doada à Biblioteca Nacional. Composto por cerca de 15 mil documentos e 8.000 livros, o acervo chegou à biblioteca por decisão da família de Pedrosa, que contou com o patrocínio da Petrobrás para, durante dois anos, poder ordenar, catalogar e restaurar o material, antes de doá-lo.

Em São Paulo, a Fundação Maria Luiza e Oscar Americano também nasceu da boa vontade individual. Em 1974, o engenheiro civil e empresário Oscar Americano resolveu deixar para São Paulo o local em que morava. A partir de 1980, a residência do casal, no bairro do Morumbi, na zona sul da capital paulista, e sua coleção de quase 1.500 peças relacionadas à história do Brasil entre os séculos 17 e 20, está aberta ao público.

O acervo de Lasar Segall teve trajetória diferente. Criado em 1967 por seus filhos, Maurício e Oscar Segall, o museu com o nome do pintor deixou de ser particular em 1984, passando a integrar o patrimônio público. Hoje, conta com o apoio da Associação Cultural dos Amigos do Museu Lasar Segall, com 400 integrantes, para poder realizar atividades além da simples manutenção. "As verbas doadas pelo governo federal cobrem 60% dos custos", diz Roberto Schussel, presidente da associação. Os associados pagam uma taxa anual de R$ 120.

"Recebemos em média R$ 550 mil por ano em doações, mas a maior parte vem de pessoas jurídicas. É triste constatar que as pessoas não têm a mentalidade de doar recursos expressivos para a cultura", diz Schussel.

Leia mais
  • Ex-alunos não aprenderam a doar

         

  • Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).