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29/04/2003 - 03h28

Sobe e desce no catálogo

CYNARA MENEZES
free-lance para a Folha de S.Paulo

A mais antiga profissão do mundo, segundo se costuma dizer, tem lugar garantido no futuro. Aliás, vários lugares: a prostituição aparece 14 vezes na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) do Ministério do Trabalho, sob codinomes como "trabalhador do sexo", "michê" ou "messalina". Sua função, de acordo com a classificação, que reconhece, nomeia e codifica as profissões oficialmente no país: "batalham programas sexuais".

A CBO não era assim modernizada desde que foi criada, em 1982. Em 1994, sofreu alterações pontuais, mas só no ano passado o ministério atualizou a relação, incluindo algumas ocupações —caso dos profissionais do sexo ou dos esotéricos e paranormais— e excluindo outras, que desapareceram em virtude dos avanços tecnológicos. Sete setores aparecem como emergentes: meio ambiente, biotecnologia, telecomunicações, multimídia, eletrônica, informática e aeroespacial.

Os técnicos que participaram da elaboração da Classificacão Brasileira de Ocupações avaliam que uma das profissões que tendem a desaparecer é a de telefonista, substituídas pelos sistemas automatizados de atendimento ou pelos operadores de telemarketing —outra função em alta que aparece com diversos nomes, muitos deles sofisticados para uma ocupação aparentemente tão simples.

Como toda a origem dessas modernas posições é norte-americana, um operador de telemarketing chega a aparecer como "entrevistador de Cati (Computer Assisted Telephone Interviewing)". Isto é, pessoas que fazem pesquisa de mercado por telefone.

Algumas profissões resistem bravamente: mesmo que você nunca mais tenha visto um, o lanterninha ainda existe. E o radiotelegrafista, mantido na classificação por causa principalmente da Funai (Fundação Nacional do Índio), que ainda possui alguns em atividade, em locais menos acessíveis do Norte do Brasil.

Por falar em telegrafista, os Correios há muito deixaram de ser Correios e Telégrafos. A profissão, surgida no Brasil em 1852 com a inauguração do primeiro telégrafo Morse, tinha sofrido o abalo da implantação do telex, na década de 1960, quando, em tese, deixou de existir. Na CBO de 1994 já não aparece com essa denominação. De qualquer forma, como os telegramas incorporaram a linguagem abreviada do sistema anterior, que decodificava o morse por meio de perfurações no papel (método similar ao do holerite), ainda havia a necessidade de uma pessoa que digitasse rápido —o operador de telex.

Neste ano, acabou tudo: para incrementar as vendas, que caíam a cada ano, o telegrama passou a ser transmitido via internet, cobrando por página, não por palavras, sem necessidade de abreviação. Nada de "pt saudações" —embora, quem sabe, possam ser incorporadas siglas internautas como "vc" (você) ou "bj" (beijo). E qualquer funcionário poderá enviar a mensagem. O "telegrafista" se foi de uma vez.

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