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29/07/2003 - 03h10

Uma escolha para reduzir as incertezas do presente

VERÔNICA FRAIDENRAICH
free-lance para a Folha de S.Paulo

Se é grande o número de estudantes que decidem abandonar o ensino superior por acharem que não fizeram a escolha certa, também é significativa a quantidade de universitários recém-ingressos que se diz satisfeita com o curso escolhido. Uma pesquisa realizada com 2.131 alunos do primeiro ano do ensino superior em São Paulo revelou que a maioria (80%) declarou estar frequentando o curso idealizado.

Esse grau de confiança na escolha universitária, de acordo com o estudo, não condiz com o período —conturbado por uma série de dúvidas e indefinições, comuns nessa fase da vida dos estudantes. A pesquisa verificou que uma parcela significativa dos universitários até percebe que não fez a escolha certa, mas permanece no curso e confirma a decisão tomada.

"Isso pode ser explicado pelo fato de que, num ambiente de incerteza, o indivíduo se esforça para manter coerentes suas ações e seu pensamento", comenta a pesquisadora Cleide Fátima Moretto na sua tese de doutorado, "Ensino Superior, Escolha e Racionalidade: Os Processos de Decisão dos Universitários do Município de São Paulo". O trabalho foi defendido em março deste ano na FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade).

O objetivo da tese de Moretto foi tentar entender, logo após a tomada de decisão, as escolhas dos universitários. A pesquisadora sugere uma abordagem por meio da economia psicológica, teoria que aceita e respeita as diferenças dos indivíduos tanto nos comportamentos como nos processos de escolha.

A tese identifica que os estudantes foram motivados pelo desejo de realização pessoal, pouco influenciados pela família em suas escolhas, e estavam parcialmente informados sobre o curso desejado. De acordo com Moretto, o baixo nível de informação seria um dos fatores que poderia contribuir para a decepção no primeiro ano universitário. Ainda segundo o estudo, os estudantes tendem a se orientar pelo futuro no curto prazo —ou seja, a possibilidade de concluir o curso e as oportunidades que possam surgir no mercado de trabalho.

Para a psicoterapeuta e orientadora profissional Kelen de Bernardi Pizol, os alunos passam por um período estressante durante o vestibular. "Por isso, quando conseguem entrar, a satisfação pode ser tão grande que eles vêem como secundárias as dificuldades que surgem", diz.

A pesquisa também revelou dados sobre o momento de tomada de decisão: 33,4% dos alunos fizeram a escolha no último ano do ensino médio, e 28,1%, às vésperas do vestibular. Uma parcela significativa (38,5%), porém, tomou essa decisão no primeiro grau ou no começo do ensino médio.

Moretto explica que esses valores variam de acordo com os cursos. "Estudantes que escolhem carreiras tradicionais, como engenharia, direito, medicina e odontologia, tendem a tomar a decisão mais cedo", afirma. Cursos como letras, serviço social e ciências contábeis atraem alunos que, geralmente, só se decidem na época do vestibular.

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