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29/07/2003 - 03h16

Foco ajustado

VERÔNICA FRAIDENRAICH
free-lance para a Folha de S.Paulo

Programas com foco em educação, saúde ou esporte. Especializações nas áreas tecnológica, de segurança de empresas e de regulação de serviços públicos. Os MBAs, que sofreram um boom há cinco anos, são agora alvo de uma diversificação que vai além da administração de negócios. Os motivos, afirmam seus organizadores, são atender a novas exigências do mercado de trabalho e, mais ainda, poder ampliar o leque de alunos.

Cris Bierrenbach/Folha Imagem
A médica Maria Cristina Balestrin, recém formada em um MBA da área de saúde

A variedade de cursos atrai profissionais dos mais diversos ramos (veja quadro abaixo). "Nosso objetivo é suprir as necessidades de formação dos executivos", afirma o professor Heliomar Quaresma, diretor-presidente do Business Institute, órgão conveniado da Fundação Getúlio Vargas que funciona em Belo Horizonte e Campinas.

As escolas mais tradicionais não perderam tempo. A PUC-SP, por exemplo, lançou no ano passado o MBA em economia e gestão das organizações de saúde. O curso é dividido em seis módulos e trata de temas como análise de sistemas de saúde e economia aplicada a esses sistemas.

A médica Maria Cristina Balestrin, 40, uma das alunas do novo programa de MBA, entregou em junho seu trabalho de conclusão do curso. Ela conta que se interessou pelo programa pelo fato de ele oferecer uma abordagem diferente, e não ser dado exclusivamente por profissionais de saúde.

Maria Cristina diz que o MBA foi importante exatamente por demonstrar todas as particularidades e, ao mesmo tempo, fornecer uma visão global do sistema. Outro atrativo do programa, em sua opinião, foi a possibilidade de conviver com profissionais de diversos setores, como funcionários de empresas de planos de saúde e da indústria farmacêutica. "São todos da mesma área, mas com posicionamentos e visões diferentes", afirma a médica, que, após realizar o curso, foi promovida a superintendente do Centro de Hematologia de São Paulo.

Roberto Tanure Roque, 47, advogado do grupo mineiro Arizona, diz que resolveu fazer MBA em direito tributário no Business Institute, em Belo Horizonte, para se aprofundar no tema e preparar-se como profissional e cidadão diante das mudanças que estão sendo discutidas na proposta de reforma tributária do país (leia a seção "Verbete"). "É uma forma de me atualizar para fiscalizar e atuar, verificando se as modificações estão de acordo com a Constituição e a legislação."

Além de atender às atuais demandas do mercado, muitos cursos querem antecipar nichos que, futuramente, deverão requisitar profissionais especializados. A Escola Politécnica da USP lançou, nos últimos dois anos, 11 MBAs com ênfase, principalmente, em tecnologia.

"Esses cursos foram criados devido às exigências que, prevemos, o mercado terá em breve", afirma José Roberto Cardoso, professor titular e coordenador-geral do Pece (Programa de Educação Continuada em Engenharia), da Poli. Um dos cursos mais recentes é o MBA em tecnologia e gestão da geração distribuída e co-geração. "O programa desse MBA prepara os alunos para que tenham condições de evitar um futuro apagão", diz o professor. A maioria dos participantes são diretores, gerentes, engenheiros e consultores atuantes no setor energético.

Luciene Peraro, 31, trabalha com informática há 14 anos e atualmente é coordenadora de tecnologia da Associação Brasileira de Educação e Cultura, uma entidade filantrópica responsável pela administração de instituições educacionais. Há cerca de dois meses, ela começou na Poli as aulas do MBA em tecnologia da informação. Luciene não queria um curso voltado somente para a administração, mas um que se aprofundasse na área técnica da informática. "Gosto de orientar a minha equipe tendo pleno conhecimento do que eles devem fazer."

Outro estudante que se sentiu atraído por um MBA que combina gestão com uma área específica do conhecimento foi o empresário Altemir Carlos Farinhas, 38. Aluno da primeira turma do MBA em responsabilidade social corporativa, oferecido pela FGV Management em Curitiba, o empresário viu no curso uma forma de conhecer a fundo o tema.

"Não sei se vou criar uma fundação ou ajudar alguma existente. O curso é que vai me orientar sobre isso", diz Farinhas, cuja empresa patrocina alguns alunos do curso.

Mas, se os participantes estão satisfeitos com os MBAs voltados para setores específicos do mercado, há também quem não veja grande vantagem nesse tipo de formação.

Aldemir Drummond, diretor de recursos humanos da Fundação Dom Cabral, em Minas Gerais, considera inadequado chamar de MBAs os cursos voltados para áreas mais específicas. "Especialização ou pós-graduação seria o nome correto, mas vende melhor chamá-los de MBAs".

Drummond avalia que ambos os formatos de cursos —generalista ou mais especializado— são importantes, pois são direcionados a públicos diferentes. "Os específicos são para pessoas que, normalmente, estão na fase inicial da carreira e desempenham uma função determinada." O diretor acrescenta que os MBAs tradicionais são desenhados para profissionais que desempenham uma função mais geral e precisam ter uma visão integrada do negócio.

Antônio Carlos Brito, vice-presidente de planejamento do grupo Catho, concorda com Drummond e diz que esses novos programas de MBA estão perdendo sua função original de formar profissionais generalistas.

Brito lembra que, em 2000, houve o boom da telecomunicação e, com ele, dos programas de MBA nessa área. Já no ano passado, a moda eram os cursos voltados para o problema do setor de energia, cuja crise estourou no final de 2001.

"Qualquer curso de MBA é bem-visto, porque mostra dedicação e vontade de se atualizar, mas, ao estudar um assunto tão específico, pode acontecer de o profissional não conseguir empregar o conhecimento tão duramente adquirido, porque a moda passou, e o mercado já não precisa de gente com essa formação", avalia.

O que não passa, no entanto, são as oportunidades para o profissional qualificado.

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