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28/10/2003 - 03h00

Versão brasileira é mais "light"

VERÔNICA FRAIDENRAICH
free-lance para a Folha de S.Paulo

Se na Alemanha optou-se por incluir uma disciplina de bom comportamento, no Brasil as instituições trabalham o tema de formas diversas. Com os nomes "educação moral", "hábitos e atitudes" ou "construção de valores", cada escola tem uma abordagem diferente não só para o bom comportamento mas para assuntos extracurriculares, como cidadania, sexualidade e ambiente.

Cris Bierrenbach/Folha Imagem
Rafael Miguel (à dir.), que tem caderno de comportamento, e sua família
No formato, há desde a promoção de discussões em classe até a criação de quadros de registros de atitudes positivas e negativas dos alunos e a aplicação de notas pelo comportamento em sala de aula.

A Escola da Vila, em São Paulo, por exemplo, promove assembléias de classe de forma sistemática desde o início do ano. Os temas discutidos são colhidos de um quadro fixado na parede da escola. Na seção "Eu critico", os alunos registram atitudes negativas dos colegas. Do outro lado do quadro, "Eu felicito" é o espaço onde eles elogiam ações positivas, como emprestar o brinquedo para o amigo.

A diretora pedagógica da escola, Sônia Barreira, explica que a assembléia não resolve problemas, mas cria instrumentos para o diálogo e traz à tona a reflexão. "Por meio das discussões, eles podem perceber o sentido de determinadas regras." As assembléias têm duração de uma hora e ocorrem semanalmente da primeira à quarta série, e quinzenalmente, da quinta à oitava.

A preocupação com que as crianças entendam o porquê de certas regras também é um dos principais aspectos do projeto "Diga não aos maus hábitos", desenvolvido em outra escola paulistana, a Mágico de Oz. "Se encontramos um papel jogado no chão do parque, isso já serve como ponto de partida para abordar temas relacionados ao ambiente", comenta Cláudia Tricate, diretora de ensino infantil da instituição. Desde cuidados com o corpo até noções de cidadania, a intenção, segundo a diretora, é trabalhar os limites com as crianças.

Na Mágico de Oz, os pais também participam. São encarregados de anotar, num caderninho, episódios da vida cotidiana em que seus filhos utilizaram expressões como "obrigado" e "por favor". Uma das anotações recentes no caderninho de Rafael Fonseca Mateus Miguel, 6, foi sobre o desperdício de água. Mas não foi ele o protagonista da ação, e sim sua mãe, Márcia Fonseca Mateus Miguel, 36, que deixou a torneira aberta enquanto escovava os dentes. "Não dá para o pais trabalharem sozinhos em casa. Esse projeto está me ajudando bastante", afirmou Márcia.

No colégio Santo Inácio, também na capital paulista, os alunos da quinta à oitava série são avaliados por "hábitos e atitudes". Em cada disciplina, eles também têm uma nota de comportamento, que avalia, por exemplo, se o aluno colaborou com os amigos ou se foi responsável na entrega dos trabalhos. As duas médias aparecem no boletim e são somadas e divididas.

Maria Luiza Faria, diretora pedagógica da escola e coordenadora de quinta a oitava série, explica que a nota é dada com a participação do próprio aluno. "Além de ele saber porque ganhou um nove ou um cinco, poderá discordar do professor e argumentar sobre a nota recebida."

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