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28/10/2003 - 03h20

Budistas na universidade

RÔMULO NEVES
free-lance para a Folha de S.Paulo

Está marcado para 2004 o início das aulas na Universidade Livre de Estudos Budistas, a primeira desse tipo no Brasil. Trata-se de uma empreitada do Templo Zu-Lai, em Cotia, na Grande São Paulo, que inaugurou seu novo prédio neste mês.

Cris Bierrenbach/Folha Imagem
Edificações do templo Zu-Lai, em Cotia, na Grande São Paulo

Segundo Sullivan Pouza, um dos coordenadores do projeto, a universidade começará oferecendo disciplinas independentes, "pois ainda estamos pedindo autorização para o MEC para a formalização de um curso superior, o de cultura religiosa, em 2005". O objetivo inicial da universidade livre é a formação de instrutores laicos de budismo e a preparação para aqueles que querem se tornar monges.

No programa para o próximo ano, estão os cursos de introdução aos estudos religiosos, de introdução aos estudos budistas e de meditação e prática, com as aulas programadas para acontecerem sábados e domingos. "Vamos tentar fazer com que os créditos feitos na universidade livre possam ser aproveitados pelo estudante que ingressar no curso em 2005", diz Moacir Soares, outro coordenador do projeto.

As atividades de uma universidade livre não precisam de autorização do MEC para acontecerem e não dão direito a um diploma de nível superior.

Para a monja Sinceridade, coordenadora geral do templo, "será muito bom construir posteriormente uma universidade, com cursos de filosofia, psicologia, letras e outros, para difundir a filosofia e a ética budista mesmo entre profissionais leigos". "Não queremos cobrar mensalidades, mas contar com as doações dos alunos para a manutenção das atividades", explica.

Universidades budistas são numerosas em países onde a religião é seguida por uma parcela considerável da população, como o Japão —onde são budistas algumas das maiores instituições—, a China, a Coréia e a Tailândia. No Brasil, a comunidade não chega a 400 mil praticantes.

Mas o vínculo de uma religião com o ensino superior tem raízes históricas (veja quadro abaixo). Segundo Fernando Althemeyer, professor do Departamento de Ciências da Religião da PUC-SP, as instituições religiosas montam faculdades, universidades e cursos superiores por dois motivos. "Primeiro, para educar as pessoas dentro do modo de vida da religião, cultivando, com o uso do aparelho educacional, seus valores; depois, para estabelecer um fórum de diálogo da fé com a razão, na busca da 'verdade'." É, talvez, uma forma mais prática de evangelização.

No Brasil, há muitas universidades ligadas a entidades religiosas, como as católicas —entre elas as Pontifícias Universidades Católicas—, as metodistas, as presbiterianas, as luteranas e as judaicas, além das faculdades batista e adventista. Nem todas, no entanto, têm um curso superior de teologia ou de ciência da religião em seu programa. A Igreja Católica é uma importante mantenedora de instituições de ensino no mundo. Segundo Althemeyer, são cerca de 173 mil instituições de educação, das quais 3.719 de ensino superior.

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