Folha Online sinapse  
25/11/2003 - 03h20

Dez livros, sombra e água fresca

OSCAR PILAGALLO
especial para a Folha de S.Paulo

Brasil contemporâneo: O retrato sem retoque de Geisel e Golbery

A Ditadura Derrotada (Elio Gaspari, Companhia das Letras, 538 págs., R$ 49,50)
O merecido destaque dado pela imprensa à gravação em que Geisel diz ser favorável a assassinatos políticos colocou em segundo plano o conjunto do livro de Elio Gaspari. Outras muitas informações colhidas em primeira mão podem não ser tão bombásticas, mas ajudam a compor um painel da primeira metade do regime militar.

A revelação é mais uma mancha na biografia do general, mas não provoca uma reavaliação de seu papel na abertura democrática. "Geisel recebeu uma ditadura triunfalista", diz Gaspari, e "decidiu administrá-la de maneira que ela se acabasse." O autor não se furta à interpretação: "Não fez isso porque desejava substituí-la por uma democracia. Queria mudar porque tinha a convicção de que faltavam ao regime brasileiro estrutura e força para se perpetuar".

Sem qualquer concessão ao maniqueísmo, "A Ditadura Derrotada" entrelaça os perfis do Sacerdote e do Feiticeiro, como o autor se refere a Geisel e Golbery. Ambos emergem em sua dimensão política e humana. O presidente, a quem é dada mais ênfase, é retratado de muitos ângulos: como alguém que nunca superou a mágoa de ter sido excluído da lista de convocação de oficiais da Força Expedicionária Brasileira, como apreciador de filmes de kung fu (banidos pela censura devido a um "derivativo maoísta"), como pai que sofreu até o fim da vida pela morte do filho adolescente e, claro, como vencedor da batalha contra a linha dura do governo.

Frase: "Luterano por hábito familiar, o general era um agnóstico discreto e anticlerical assumido. Acreditava quando muito na existência de uma força criadora do universo, a qual, no entanto, seria um ente da física, não uma divindade. [...] Entendia as religiões como sacrários de princípios. [...] Em condições normais, Geisel era anticlerical por agnóstico. Com uma Igreja na oposição, à sua esquerda, por convicção."

Fique sabendo:
  • Geisel, que nunca fora entusiasta do sufrágio universal, decepcionou-se de vez com essa forma de escolha de governantes depois da eleição de 1950, que levou Getúlio Vargas de volta à Presidência da República

  • Na crise das eleições de 1965, enquanto era uma incógnita a posse do governador eleito da Guanabara, Golbery desejou se tornar interventor do Estado. Não conseguiu



  • Brasil colonial: A escrava que não era Chica da Silva

    Chica da Silva e o Contratador de Diamantes (Júnia Ferreira Furtado, Companhia das Letras, 403 págs., R$ 48,50)
    A Chica da Silva do domínio público, do filme de Cacá Diegues ou da novela dos anos 90, pode ser uma personagem memorável, mas nunca existiu além da ficção. A escrava sedutora é um mito criado no século 19.

    A Chica da Silva histórica só ganhou vida neste ano, com o livro da professora Júnia Ferreira Furtado. A biografia ensina que essa mulata alforriada era um tipo bem mais comum do que as telas fazem supor. Nos povoamentos mineiros do século 18, onde havia escassez de mulheres brancas, o concubinato com escravas se generalizou.

    A concubina do poderoso contratador de diamantes teve 13 filhos dele. "A média de um parto a cada 13 meses faz desmoronar o mito da figura sensual e lasciva, devoradora de homens", diz Furtado.

    Rica, Chica da Silva teve mais de uma centena de escravos. O comportamento era comum. "Tratava-se de um mecanismo essencial para sua inserção no mundo dos livres, onde reinava o desprezo pelo trabalho." Permitiu que seus escravos recebessem sacramentos cristãos, mas isso só demonstra que foi proprietária convencional: converter escravos à fé católica era um meio de aculturação, de acomodamento ao cativeiro. Por isso, para Furtado, não se sustenta a figura da redentora dos escravos, romantizada pela historiografia.

    Ao contextualizar Chica da Silva, a autora reconstrói um pedaço do Brasil colonial. Pelo interesse que desperta, a história nada fica a dever à ficção.

    Frase: "Escravos não tinham sobrenome, uma vez que não possuíam personalidade jurídica, eram apenas coisas, propriedades de um senhor; nos documentos, eram tratados pelo prenome seguido do termo indicativo de origem: o nome da tribo no caso dos africanos, e o termo crioulo, mulato, pardo ou cabra para aqueles nascidos no Brasil. [...] Francisca parda, uma vez liberta, se tornou Francisca da Silva."

    Fique sabendo:
  • No século 18, Portugal não permitia a união de indivíduos de condições desiguais. Negras ou mulatas podiam se casar apenas com homens de igual condição

  • O pai dos filhos de Chica da Silva foi um dos homens mais ricos de Portugal. Sua trajetória simbolizava uma era em que, sob a batuta do marquês de Pombal, a classe mercantil ascendera econômica e socialmente



  • Música: Silêncio, cantor frustrado trabalhando

    Tropicalista Lenta Luta (Tom Zé, Publifolha, 287 págs., R$ 39)
    Tom Zé escreve, e compõe, como quem não quer nada. Mas não se engane. A naturalidade da prosa, e da música, é construída. No livro, como nos discos, o improviso resulta de exaustivo treino. Nesse registro, informal e rigoroso, o "bode inspiratório", como se define, ganha o leitor de "Tropicalista Lenta Luta", a quem brinda com bem-humorada aula de arte e vida.

    As duas coisas se misturam: a música de Tom Zé nasce da deficiência. A "des-canção" que o projetou mundialmente é um drible em sua incapacidade de cantar como cantor. "Quem não sabe fazer certo, você há de imaginar, fica trabalhando no limite." Como transformar restrição em singularidade, eis a essência do depoimento.

    Ao contrário de Caetano Veloso, que vestiu o chapéu de ensaísta em "Verdade Tropical", Tom Zé escreve como artista. Não é objetivo e faz com que o leitor não sinta falta da objetividade. Sua abordagem das funções harmônicas, para ficar num único exemplo, é tão original quanto didática. "O Romance Tonal, assim como a trama de qualquer novela, se faz com uma situação de tensão e repouso", começa. E só termina, depois de, com metáforas de paixões e traições, explicar os conceitos de tônica, subdominante e dominante.

    O relato autobiográfico de Tom Zé, permeado por uma erudição discreta de quem não quer se exibir, é também uma história da Tropicália da perspectiva de quem, estando dentro, preferiu ver de fora.

    Frase: "Para compor, escolhia temas numa hierarquia que privilegiava inicialmente o humor, depois os paradoxos sociais. E um natural engajamento, já que eu nunca morei em Marte. No que se refere à música de protesto, considero-a uma trava no pensamento. É o método jesuítico, acrescentado do que o prof. Paulo Freire chama de hospedar o opressor."
    "Por uma atração misteriosa, na profunda timidez mora a radical impudicícia."


    Fique sabendo:
  • Foi do poeta Décio Pignatari a idéia de colocar a famosa foto de um ânus com uma bola de gude na capa do disco "Todos os Olhos", de 1973. Por causa da censura, Tom Zé achou aquilo "muito perigoso"

  • Koellreuter, guru da vanguarda e professor de Tom Zé, só aceitou dar aula na Bahia com a liberdade de ignorar o currículo do Ministério da Educação



  • Biologia: A origem (e a atualidade) de Darwin

    Evolução - O Triunfo de uma Idéia (Carl Zimmer, Ediouro, 598 págs., R$ 63)
    Por que o cérebro dos primatas era maior do que o de seus ancestrais? Por que nós sobrevivemos enquanto o homem de neandertal, de quem chegamos a ser contemporâneos, foi extinto?

    As respostas a essas perguntas remetem à idéia da evolução das espécies e da seleção natural, um dos achados científicos de maior impacto sobre a sociedade do século 19. Depois de ter se conformado com o fato de não estar no centro do universo, a humanidade precisaria se acomodar à evidência de não ter origem divina.

    A descoberta de Charles Darwin, exposta em "A Origem das Espécies", é o ponto de partida do livro de Carl Zimmer, uma história que começa há 3,8 bilhões de anos, com os primeiros sinais de vida na Terra, e chega aos dias de hoje, quando o evolucionismo, apesar do consenso da comunidade científica, ainda encontra resistência por parte dos criacionistas. (Darwin, que era agnóstico, não especulou sobre o papel de Deus à luz de sua teoria.)

    Para as perguntas iniciais não ficarem sem respostas: 1) O cérebro dos primatas estava relacionado à inteligência social. O tamanho do neocórtex (onde se processa o pensamento de alto nível) era maior quanto maior fosse o grupo, que precisava ser grande para enfrentar os predadores; 2) O Homo sapiens sobreviveu porque, ao contrário dos neandertais, inventava novas ferramentas e armas.

    Zimmer aprofunda as respostas, claro, mas sabe como não aborrecer o leigo com minúcias

    Frase: "Uma linguagem completa pode ter aparecido tão recentemente quanto há 50 mil anos. É só então que o registro fóssil documenta uma explosão mental espetacular, na qual as pessoas se entendiam e ao mundo ao seu redor de maneira que seus ancestrais nunca teriam imaginado. Foi então que a mente moderna nasceu e a linguagem pode ter sido um ingrediente essencial para esse nascimento."

    Fique sabendo:
  • A biodiversidade se concentra em 25 "pontos quentes", como a floresta atlântica do Brasil. Com 1,4% da área da Terra, esses pontos contêm 35% dos vertebrados

  • A grande quantidade de parceiros sexuais da chimpanzé fêmea é uma defesa contra o instinto infanticida do macho, que, diante da incerteza sobre a paternidade, não mata os filhotes para não colocar em risco a transmissão de seus genes



  • Matemática: O desafio de apreender o infinito

    O Mistério de Alef (Amir O. Aczel, Editora Globo, 218 págs., R$ 29)
    O infinito é um conceito intimidador, em que a intuição cotidiana não tem mais utilidade para nos orientar. A frase, de Amir Aczel, pode ser lida como advertência ou convite, dependendo da disposição do leitor que se aproximar de "O Mistério do Alef". O foco do autor é a vida do matemático Georg Cantor (1845-1918) e sua equação sobre a natureza do infinito, em que utiliza a letra "alef" do alfabeto hebraico. Talvez não por coincidência, Cantor enfrentou severos distúrbios mentais quando estava no auge do trabalho intelectual.

    Não foi o primeiro a queimar neurônios com idéia tão avassaladora. O conceito, desenvolvido pelos gregos antigos, também confundiu filósofos da época. Mais tarde, nos tempos medievais, quando o interesse pela questão renasceu, o ângulo religioso causava problemas nada abstratos a quem procurasse novos enfoques. Foi em plena inquisição, porém, que Galileu recolocou o tema nos trilhos da ciência. "Ele entendeu um fato crucial, contra-intuitivo, sobre o infinito: um conjunto infinito pode, em certo sentido, ser 'igual a uma parte de si mesmo'."

    Há limites para captar o infinito. O próprio Cantor, a certa altura, desistiu de provar sua hipótese. "É a palavra de Deus", dizia ele sobre o mais persistente mistério da matemática.

    O leitor que suportar a eventual frustração de não apreender as passagens mais abstratas do livro será recompensado.

    Frase: "Anaxágoras tentou construir um quadrado cuja área fosse exatamente igual à de um dado círculo. Assim nasceu o maior problema matemático da história, que iria capturar a imaginação dos matemáticos por quase dois milênios e meio. Esse problema [por ser abstrato] diferenciou a matemática da Grécia daquela praticada na Babilônia e no Egito. O problema da quadratura do círculo era uma persecução puramente intelectual."

    Fique sabendo:
  • Segundo a lenda, Pitágoras teria estrangulado ou afogado Hipaso, um de seus seguidores, pela divulgação da existência dos números irracionais. Para Pitágoras, que cultuava os números inteiros, a descoberta dos irracionais

  • Georg Cantor era estudioso de Shakespeare. Quis provar, sem sucesso, que Francis Bacon teria sido o verdadeiro autor das peças



  • Literatura: As influências fantásticas de García Márquez

    Viver para Contar (Gabriel García Márquez, Record, 474 págs., R$ 55)
    A vocação literária de Gabriel García Márquez se manifestou cedo. "Quem me conheceu aos quatro anos diz que meus relatos eram em grande parte episódios simples da vida diária, que eu tornava mais atrativos com detalhes fantásticos para que os adultos me levassem a sério", diz em sua autobiografia o autor de "Cem Anos de Solidão".

    O escritor aprendeu a escrever numa escolinha montessoriana, da qual tem boa recordação: "Não creio que exista método melhor que o montessoriano para sensibilizar as crianças nas belezas do mundo e para despertar nelas a curiosidade pelos segredos da vida. O método foi acusado de fomentar a independência e o individualismo, que no meu caso talvez seja verdade". Mais tarde, abandonou a faculdade animado por uma frase que seria de Bernard Shaw: "Desde pequeno tive que interromper minha educação para ir à escola".

    Leitor voraz, García Márquez conta que empacou com "Dom Quixote" e "Ulysses", e só depois de muito insistir reconheceu o talento de Cervantes e Joyce. Já com Kafka o impacto foi imediato: "'A Metamorfose' definiu um novo caminho para a minha vida desde a primeira linha".

    Aprendeu com o livro que não era necessário demonstrar os fatos: "bastava o autor haver escrito para que fossem verdade, sem outra prova além do poder de seu talento e da autoridade de sua voz". E, "suando gotas de inveja", confessou: "Ficaram em mim os anseios de viver naquele paraíso alheio".

    Frase: "A pobreza de meus pais em Barranquilla era exaustiva, mas me permitiu a sorte de estabelecer uma relação excepcional com minha mãe. Sentia por ela, mais que o compreensível amor filial, uma admiração assombrosa pelo seu caráter de leoa calada mas feroz diante da adversidade, e pela sua relação com Deus, que não parecia de submissão mas de combate."

    Fique sabendo:
  • García Márquez nunca esqueceu a reação de desprezo de um amigo por uma crônica mal escrita: "Até hoje a lição me serve quando sou assaltado pela preguiça e surge a tentação de escrever um parágrafo de qualquer jeito, só para cumprir um compromisso".

  • A estréia do jogador brasileiro Heleno de Freitas num time colombiano de futebol foi capa do primeiro número da revista "Crónica", que García Márquez ajudou a fundar em 1950



  • Psicanálise: Literatura, a dívida intelectual de Freud

    Os Dez Amigos de Freud (Sergio Paulo Rouanet, Companhia das Letras, 850 págs., 2 vols., R$ 75)
    A psicanálise é tributária da literatura. O próprio Freud via os escritores como precursores da psicanálise, como descobridores intuitivos de verdades psíquicas. Ele tinha seus favoritos: o americano Mark Twain, o indiano Rudyard Kipling, o francês Émile Zola e outros, menos conhecidos do brasileiro, que integram um grupo de dez autores de quem selecionou livros que considerava "amigos".

    É sobre a relação entre Freud e esses escritores que trata a obra de Sergio Paulo Rouanet, um erudito que não permite que o peso de sua cultura se transforme em fardo para o leitor.

    Alguns dos melhores momentos se devem a relatos sobre escritores obscuros. É o caso do holandês Multatuli, criador da mitologia das divindades Logos e Ananké, usadas por Freud. Para Freud, Logos é a razão secular, que substitui o mito e a religião. Quanto à Ananké, sua função é vencer o narcisismo do homem, educando-o para a aceitação do sofrimento e da morte. "O preço de ignorar Ananké é a doença: tornamo-nos neuróticos quando nos limitamos a fugir da realidade, e psicóticos quando a recriamos imaginariamente", afirma Rouanet.

    Multatuli e os outros não eram psicanalizados. Freud os tratava como aliados, não como objetos de interpretação. Rouanet, porém, aventura-se por essa trilha. Sobre Twain, por exemplo, observa que a combinação de puritanismo exacerbado e erotismo imaturo deixou traços na vida adulta do escritor.

    Frase: "O cristianismo e a educação que dele deriva transgridem fundamentalmente essa lei da atração universal, a lei do amor. A educação sexualmente repressiva destrói sobretudo as mulheres. Ela as força à mentira e à hipocrisia."
    "As opiniões de Mark Twain sobre a moral sexual eram quase histéricas. Ele aprovava a castração de Abelardo como justo castigo pela sedução de Heloísa."


    Fique sabendo:
  • Freud e Zola chocaram os bem-pensantes do início do século 20 ao destacar o papel dominante da sexualidade na vida humana: Freud foi acusado de pansexualismo e Zola, de sofrer de priapismo mórbido

  • Kipling foi um dos primeiros, fora do círculo médico de Freud, a admitir a histeria masculina. E pressentiu, por meio de seus personagens, a origem sexual da histeria



  • História da cultura: Bibliotecas contam história das civilizações

    A Conturbada História das Bibliotecas (Matthew Battles, Planeta, 239 págs., R$ 42)
    A conquista do México, no século 16, significou o fim de uma cultura sofisticada. A população local dominava a tecnologia do livro mil anos antes da chegada dos espanhóis. Volumes escritos em hieróglifos mesoamericanos foram queimados pelos invasores, como parte do esforço de conversão dos astecas ao cristianismo.

    Não foi a primeira vez que a cultura da região virou fumaça. Cem anos antes, os próprios astecas tinham atentado contra os livros. Seus ancestrais, os mexica, nômades vindos do norte, haviam legado crônicas de suas andanças e selvagerias, origem que o império nascente não queria lembrar. Em consequência, os relatos foram atirados à fogueira.

    A história, contada por Matthew Battles, é uma das muitas em que livros e bibliotecas figuram como vítimas de invasões, revoluções e guerras. Ao enfocar a destruição e a construção das grandes bibliotecas, o autor narra a ascensão e o declínio das civilizações.

    Outro caso que muitos imaginam conhecer é o destino da biblioteca de Alexandria, que concentrava a literatura e a ciência produzidas na Grécia Antiga. Na versão de Battles, o desfecho é surpreendente. O fato foi que, antes de ter sido incendiada, no século 7º, ela já havia definhado devido ao desinteresse de gerações de leitores, para quem o grego clássico se tornara incompreensível.

    Quanto ao método de Battles, a livre associação, mostrou ser um fio condutor eficiente para ligar pontos distantes no tempo e no espaço.

    Frase: "Num esforço para impedir o crescimento das bibliotecas de Rodes e Pérgamo, que rivalizavam com a de Alexandria, os governantes da cidade proibiram a exportação de papiro. O tiro, porém, saiu pela culatra, pois os habitantes de Pérgamo foram levados, em razão do embargo, a inventar o pergaminho, [...] reciclável e mais resistente."

    Fique sabendo:
  • A Biblioteca do Congresso, dos EUA, a maior do mundo, acrescenta todos os dias 7.000 títulos ao seu acervo, que tem mais de 100 milhões de livros dispostos em 850 quilômetros de prateleiras

  • Os seguidores de Maomé se alfabetizaram para atender à recomendação do profeta de copiar o "Corão". Ele próprio, porém, prezava seu analfabetismo como prova da autenticidade de seu testemunho: ele não poderia ter sido influenciado por outro texto sagrado



  • Segunda Guerra: Churchill, o anticomunista que entendeu Stálin

    Churchill: Visionário. Estadista. Historiador. (John Lukacs, Jorge Zahar Editor, 177 págs., R$ 25)
    A aliança entre opostos, na Segunda Guerra, costuma ser atribuída apenas ao inimigo comum: capitalismo e comunismo se uniram para derrotar o nazismo. Mas, quando se olha o período mais de perto, como tem feito o historiador John Lukacs, percebe-se que as associações contra Hitler resultaram de uma realidade mais complexa.

    O que de fato ocorreu foi um acordo para a defesa de interesses nacionais. As ideologias, naquele momento, não passavam de aspecto secundário. Deve-se ao notório anticomunista Churchill a aproximação com Stálin. O primeiro-ministro britânico, pensando contra a corrente conservadora, intuiu corretamente que o líder soviético se comportaria menos como um líder comunista internacionalista do que como protetor do interesse russo. Churchill, diz Lukacs, "considerava Stálin um ditador nacional: um líder brutal e desdenhoso, mas ainda assim um estadista".

    A outra ponta da aliança, com os EUA, foi mais natural. Churchill sabia que, em algum momento, os americanos teriam de entrar na guerra. O presidente Roosevelt também sabia disso, "embora preferisse não admiti-lo para o povo americano".

    Em "O Duelo Churchill x Hitler", Lukacs havia demonstrado a importância da compreensão que o político britânico tinha do líder nazista. Agora, com "Churchill: Visionário. Estadista. Historiador.", o autor completa o perfil daquele que tem sido o principal objeto de seu estudo.

    Frase: "O estímulo para escrever é o desejo de vencer uma preocupação mental expressando-a consciente e claramente, ao passo que o propósito de escrever quase sempre inclui egocentrismo e pelo menos um mínimo de vaidade. Atrevo-me a pensar que essas generalizações (reconheço: discutíveis) se aplicam a Churchill. [...] Era um escritor porque era atraído pela história, não um historiador porque era atraído pelo ato de escrever."

    Fique sabendo:
  • Até 1935, Churchill era um crítico do sufrágio universal. Achava que talvez devesse ser limitado, ou dobrado para chefes de família. Foi só durante a Segunda Guerra que se tornou defensor da democracia parlamentar

  • Nos anos 30, desiludido com a democracia liberal, Churchill demonstrou apreço por governantes autoritários, como Mussolini, a quem mais tarde combateria



  • História geral: Abelardo e Heloísa e as luzes da Idade Média

    Os Intelectuais na Idade Média (Jacques Le Goff, José Olympio Editora, 252 págs., R$ 32)
    Jacques Le Goff é um dos responsáveis pela revisão histórica da Idade Média. Graças em parte a seu trabalho, os tempos medievais não são mais associados ao obscurantismo. Em alguns períodos, ao contrário, o conhecimento se expandiu, com o nascimento, a partir do século 12, das universidades e do intelectual moderno. É disso que Le Goff trata no livro (o original em francês é de 1957).

    Num dos trechos mais instigantes, o autor identifica Abelardo (1079-1142) como o precursor do novo intelectual. A importância da Universidade de Paris, onde dava aulas, deveu-se muito à sua popularidade. Defensor da aliança da fé e da razão, "Abelardo foi antes de tudo um lógico, o grande campeão da dialética", diz Le Goff. A ele é atribuído um dos primeiros textos da teologia escolástica, que, ao desembocar mais tarde na dialética, iria marcar para sempre o pensamento ocidental.

    Abelardo é mais conhecido pelo caso de amor com Heloísa, que levou o tio de sua jovem aluna a mandar castrá-lo. O livro, porém, se concentra na aventura intelectual de Abelardo, como a disputa com São Bernardo, "um homem [sem] formação propícia para compreender a intelligentsia urbana". Considerado herege, foi condenado pelo papa. Apesar da derrota, no entanto, Abelardo contribuiu para transformar penitência em contrição e, assim, subverter um sacramento essencial do cristianismo.

    Frase: "Espírito racional porém baseado no pensamento antigo, [a escolástica] nem sempre soube escapar a essa influência, transpor os problemas de contexto histórico ultrapassado. O próprio Santo Tomás às vezes foi prisioneiro de Aristóteles. Havia alguma contradição em ir buscar explicação para o cristianismo, sua adaptação para as necessidades do tempo, com a ajuda de doutrinas anteriores ao próprio cristianismo."

    Fique sabendo:
  • Na Idade Média, a formação universitária revolucionou o modo de recrutamento das elites governantes. Antes disso, no Ocidente, o acesso ao poder dava-se sobretudo pelo nascimento

  • No Ocidente medieval, em que as pessoas não entendiam mais o grego clássico, os pioneiros do Renascimento foram os tradutores para o latim, a língua científica


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