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16/12/2003
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03h32
Trabalho a favor do tempo
MAURÍCIO TUFFANI free-lance para a Folha de S.Paulo
O capitalismo começa a dar os primeiros passos para permitir que as famílias conquistem de volta o tempo perdido para o trabalho.
A redução nas faltas ao trabalho e no chamado "turnover" foram os resultados mais evidentes de estudos realizados em empresas dos EUA que adotaram programas de flexibilização de horários de trabalho.
Mas o grande passo por parte de um governo aconteceu no Reino Unido, com o início, em 2000, do programa Work-Life Balance (equilíbrio trabalho-vida, em inglês). O programa, que consiste em orientar as empresas a reestruturar horários, rotinas e procedimentos pensando também em seus funcionários, vem conseguindo reduzir a carga horária dos profissionais e os consequentes prejuízos do estresse, como afastamentos por licença médica e queda na produtividade.
Cinquenta empresas britânicas de portes variados apresentaram os últimos resultados em abril, no relatório "Flexible Working - The Business Case: 50 Success Stories", do Departamento do Trabalho e da Indústria (www.dti.gov.uk/work-lifebalance).
Apesar de serem um avanço, as políticas de flexibilização dos horários de trabalho não são suficientes para compensar as perdas das famílias pelo tempo dedicado ao trabalho. É preciso resolver o paradoxo que a sociedade moderna criou e não enfrentou, o de que o dia das mulheres não cabe dentro de um dia, segundo a socióloga Rosiska Darcy de Oliveira, professora de pós-graduação da Faculdade de Letras da PUC-RJ e autora de "Reengenharia do Tempo" (Rocco).
De acordo com Rosiska, a expressão "jornada dupla de trabalho", aplicada ao tempo da mulher, "é um equívoco, porque não se trata de atividades que esperam remuneração, mas de atos que dão trabalho e ocupam tempo".
"A presença maciça das mulheres no mercado de trabalho foi para elas uma transgressão; para os homens, uma concessão", afirma em seu livro. Segundo ela, ao entrarem nesse mercado como por um favor da sociedade, as mulheres não puderam ou não souberam negociar o tempo que dedicam à vida privada —tempo que ninguém calcula e que as contas públicas desconhecem, mas que garante a preservação de crianças e idosos.
"As mulheres não voltarão para casa, e o mundo tem de ser pensado incluindo esse dado, desocultando o papel civilizador da vida privada."
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