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17/02/2004 - 03h06

Segurança máxima contra a Aids

CAROLINA CHAGAS
free-lance para a Folha de S.Paulo

Janine Lim/Folha Imagem
Raio-X

Nome: Ricardo Sobhie Diaz, 41
Especialidade: infectologista
Formação: Unifesp (também mestrado e doutorado), pós-doutorado no Blood Center of Pacific
Onde atua: Laboratório de Retrovirologia da Unifesp e clínica particular

Um laboratório instalado no alto de um dos prédios do campus da Unifesp não deixa a desejar em nada a seus pares norte-americanos. É muito comum, até mesmo, os pesquisadores ali estarem averiguando nos supermicroscópios e máquinas que valem muitos milhares de dólares suspeitas levantadas pelos cientistas de Berkeley e de outros centros de pesquisa californianos.

Idealizado e comandado pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz, 41, o Laboratório de Retrovirologia da Unifesp foi o primeiro com nível de biossegurança 3 (NB-3) instalado no país. Na prática, o tipo de construção —com paredes largas de materiais altamente resistentes— e o cuidado que o pesquisador tem de tomar ao entrar e ao sair do local —veste roupas especiais e passa por esterilizações— impede que os vírus estudados "fujam" para o ambiente externo.

A história do laboratório começou em 1993, quando Ricardo Diaz conseguiu um pós-doutorado no Blood Center of Pacific, em San Francisco (EUA). A perspectiva era ficar dois anos, mas o pesquisador, contratado como "senior research scientist" do laboratório, acabou ficando três e só foi embora porque sua mulher, Zuleica, disse que "não ficaria mais nenhum dia".

Sorte nossa. De volta ao Brasil, Diaz levantou fundos para a criação de uma réplica do laboratório onde tinha trabalhado. Tinha um grande trunfo: um dos seus artigos já recebera mais de 200 referências em importantes publicações da área —um texto citado por seus pares dez vezes já é considerado com uma boa média.

O tal artigo trazia uma evidência nova. Graças a um banco de sangue excepcional feito nos EUA desde o início da década de 80, Diaz pôde comprovar, rastreando o sangue infectado de um bebê que recebera a transfusão de sangue de dois portadores do vírus da Aids diferentes, que o vírus do rebento era uma recombinação dos dois que ele recebera. "Foi a primeira evidência inequívoca de infecção dupla [ou recombinação de genes] feita no mundo", afirma ele.

O laboratório nacional foi inaugurado em janeiro de 2002, e o desafio de Diaz agora é levantar fundos para expandir o Sparc, sigla em inglês —para ajudar a atrair verbas internacionais— do Centro de Pesquisa de Aids de São Paulo (São Paulo Aids Research Center).

Recentemente, uma pesquisa ainda inédita feita em Santos (SP), um dos maiores centros de infecção pelo vírus da Aids do país, mostrou que, nos últimos anos, o perfil da doença mudou. "Hoje, mais mulheres têm o vírus da Aids, a doença atingiu as classes mais pobres e está saindo dos grandes centros urbanos", explica Diaz. O estudo de Santos também mostrou que os apelos pela prevenção devem ser redobrados. "Dos pesquisados lá, 35% dos que adquiriram os vírus nos últimos seis meses apresentam uma variação do vírus resistente a algum remédio dos coquetéis usados para conter a doença", diz.

O pesquisador é otimista em relação aos avanços da pesquisa com o HIV. "Acho que estamos muito distantes de desenvolver uma vacina, mas, provavelmente, em cerca de dez anos teremos a cura para a Aids", aposta o infectologista.

Apesar de dedicar quase todo o tempo à Unifesp —no laboratório ou dando aulas—, não abandonou a clínica. "Acho importante desenvolver esse lado, mas não deixo meu número de pacientes aumentar muito."

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