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17/02/2004 - 03h08

Prêmio inédito para o Brasil

CAROLINA CHAGAS
free-lance para a Folha de S.Paulo

Cris Bierrenbach/Folha Imagem
Raio-X

Nome: Ana Claudia Latronico, 39
Especialidade: endocrinologista
Formação: Faculdade de Ciências Médicas de Santos, pós-graduação na Faculdade de Medicina da USP (mestrado, doutorado, livre-docência)
Onde atua: Unidade de Endocrinologia do Desenvolvimento e Laboratório de Hormônios e Genética Molecular do HC, Faculdade de Medicina da USP e consultório particular

Sempre que sai com a mãe, a endocrinologista Ana Claudia Latronico, 39, implora que Therezinha não conte a ninguém que ela ganhou um prêmio, pelo conjunto de sua obra, da Sociedade Norte-Americana de Endocrinologia, no final do ano passado. "Ela fala até para o caixa do supermercado", diz, encabulada.

Grande incentivadora da carreira da filha, Therezinha tem razão de se empolgar com a honraria. Criado em 1983 para premiar endocrinologistas com menos de 40 anos que tivessem uma carreira notável, o prêmio nunca tinha sido concedido a um especialista formado fora dos EUA ou do Canadá. Ana Claudia foi a terceira mulher a sair da pomposa cerimônia —que ocorre anualmente naquele país— com o troféu na mão.

O prêmio é apenas a cereja no chantilly de uma série de conquistas da "esforçada aluna". Com 17 anos, quando deixou o Colégio Emilie de Villeneuve (na zona sul de São Paulo), Ana Claudia foi incentivada pela mãe a ir para medicina. "Ela achava que eu tinha muito jeito com as pessoas", diz.

No segundo ano da Faculdade de Ciências Médicas de Santos, quando estudou fisiologia endócrina (relacionada aos hormônios), decidiu que essa seria sua área e começou a sonhar com a concorrida residência na USP. "Nem sempre os médicos de fora eram aproveitados", diz.

Passado o desafio da residência, Ana Claudia montou seu consultório, mas resolveu se dividir entre clínica e pesquisa e teve seu projeto aceito diretamente para o doutorado. Prestes a concluir sua tese sobre doenças endócrinas ligadas a más-formações genéticas (como puberdade precoce e ambigüidade sexual), área que pesquisa até hoje, Ana Claudia resolveu tentar um estágio no Instituto Nacional de Saúde, em Bethesda (EUA).

Um empurrãozinho do destino fez com que ela fosse aceita na respeitável instituição. Como não recebera uma resposta por carta, resolveu mudar o roteiro de suas férias para averiguar pessoalmente o que ocorrera. "Encontrei o professor responsável, que me contou que negara o meu pedido", lembra. Ainda no corredor da instituição, esbarrou com um colega que havia conhecido no HC. "Chorei minhas mágoas", diz. O ombro amigo também era o chefe da divisão clínica do local e, minutos depois, apresentou-a ao pesquisador George Chrousos, seu futuro orientador na bolsa "sanduíche" feita nos EUA.

"Tive muita sorte com o orientador. Ele me deixou trabalhar livremente em minhas pesquisas", afirma. Usando o material genético brasileiro, riquíssimo, por conta das diversas misturas de raças —muito incomuns nos EUA e na Europa—, Ana Claudia conseguiu um feito raro: publicou um artigo como primeira autora (que indica a autoria do texto e coordenação da pesquisa) no "The New England Journal of Medicine", uma das mais respeitadas publicações da área médica e que raras vezes abriu espaço para brasileiros.

O artigo na badalada revista foi um dos dez com que ela voltou de sua estada nos EUA. Em 1995, com o ego massageado e com a carreira respeitada, Ana Claudia terminou o doutorado. Seis anos mais tarde, a livre-docência, também na USP.

O intercâmbio de trabalho com os EUA passou a fazer parte de sua rotina. Nessa altura, ao lado da professora Berenice Mendonça, Ana Claudia já montara no HC um laboratório de hormônios e genética molecular.

Há dois anos, o nascimento da primeira filha, Ana Beatriz, fez a doutora pisar no freio. "Gostava de estudar no fim de semana. Agora, nem pensar." Apesar disso, ela diz que está longe de reduzir sua jornada no HC. "É o meu segundo filho", diz.

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