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17/02/2004 - 03h10

A favor do olhar seguro

CAROLINA CHAGAS
free-lance para a Folha de S.Paulo

Cris Bierrenbach/Folha Imagem
Raio-X

Nome: Wallace Chamon, 40
Especialidade: cirurgião oftalmológico
Formação: USP de Ribeirão Preto. Mestrado, doutorado e livre-docência na Unifesp. Doutorado "sanduíche" na Johns Hopkins University School of Medicine (EUA)
Onde atua: consultório particular e Unifesp

A vida do cirurgião oftalmológico Wallace Chamon, 40, deu uma desacelerada há três meses. Amante de corridas em Interlagos, viagens de moto e dado a horas de trabalho, ele resolveu diminuir o ritmo das atividades para curtir Laura, sua primeira filha, com a também oftalmologista Norma, sua mulher há dez anos. Ainda assim, a ante-sala de sua clínica estava cheia e, durante a entrevista, o computador em sua mesa teimava em apitar —é assim que ele é avisado da chegada ou da urgência de atendimento de um paciente.

Nos últimos dez anos, a vida de Chamon tem sido atribulada. Depois de passar pouco mais de um ano na Johns Hopkins University School of Medicine (o maior hospital de oftalmologia dos EUA), se especializando em cirurgia a laser para corrigir ametropias (nome genérico para todos os problemas de alteração da qualidade da visão), ele voltou ao Brasil decidido a montar o primeiro centro universitário da técnica. Em 1994, o oftalmologista contou com o aval do professor Rubens Belfort Jr. e inaugurou o sonhado centro na Unifesp. "Até 1998, quando deixei a cria andar sozinha, supervisionei mais de 20 mil cirurgias", orgulha-se.

Seguro da eficácia do uso do laser em cirurgias oftalmológicas, ele é taxativo: "Se seu médico é contra, está na hora de mudar de especialista. Ele parece não estar se atualizando". Mas faz a ressalva: "Como em qualquer caso, deve-se ser cauteloso antes de indicar uma cirurgia".

Essa cautela o leva a recusar cerca de 30% das pessoas que o procuram. "Só opero quando acredito que vai mesmo melhorar a vida do paciente. Uma pessoa que enxerga bem com uma lente de contato dura não vai enxergar melhor depois da cirurgia." Ele afirma, no entanto, que a maioria dos operados fica satisfeita.

Depois de deixar o dia-a-dia do centro da Unifesp, Chamon passou a se dedicar à orientação de alunos da pós-graduação. Foi na coordenação de um desses trabalhos que surgiu outro motivo de orgulho. Um aluno desenvolveu um aparelho para o exame de "wavefront", capaz de colher uma "impressão digital" do olho do paciente. "Com essa informação, podemos programar o laser para fazer a correção personalizada, o que torna a cirurgia mais segura." Depois de patenteado, o aparelho está em via de virar realidade. "Teremos uma abordagem do exame totalmente desenvolvida no país."

Também com seus alunos, Chamon realiza uma pesquisa com os índios do Parque Indígena do Xingu (MT). "Queremos saber mais sobre seus olhos, como os problemas mais comuns." O trabalho não acabou, mas a viagem rendeu outros elogios.

Fotógrafo nas horas vagas, ele voltou com um lote de imagens, que foram publicadas em uma revista especializada. "Brinco que podem me bater na cirurgia, mas na fotografia tenho mais anos de estrada."

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