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17/02/2004 - 03h14

Em defesa da prevenção

CAROLINA CHAGAS
free-lance para a Folha de S.Paulo

Sergio Vignes/Tempo Editorial
Raio-X

Nome: Bernardo Garicochea, 43
Especialidade: hematologista e oncologista
Formação: Faculdade de Medicina da PUC-RS, mestrado e doutorado na USP, pós-doutorado na Royal Post-Graduate School of Medicine, em Londres
Onde atua: Hospital Sírio- Libanês (SP) e Faculdade de Medicina da PUC-RS)

Foi debaixo de um temporal de arrastar carros, em São Paulo, que, em janeiro de 1999, o hematologista e oncologista Bernardo Garicochea, 43, resolveu, com a mulher, Maria Cristina, e as filhas, Julia e Sofia (hoje com nove e cinco anos), mudar de CEP.

Naquele mesmo ano, a PUC de Porto Alegre, onde ele se formara médico, estava recrutando mestres e doutores para dar um caráter mais científico à formação. Depois de passar temporadas em Londres e Nova York e ajudar a montar o Laboratório de Genética Molecular do Hospital Sírio-Libanês, mais uma mudança não o assustou.

Diretor do Serviço de Oncologia Clínica da PUC de Porto Alegre e coordenador do Serviço de Aconselhamento Genético do Sírio-Libanês, Garicochea vive hoje na ponte-aérea. "Estou acostumado a ligar e desligar as chavinhas dos trabalhos no avião."

O desafio em cada uma das capitais é diferente: em São Paulo, trabalha com prevenção de câncer em famílias com alta incidência da doença; em Porto Alegre, coordena pesquisas, cuida de uma parte administrativa do curso e trata de pacientes.

Até chegar a ponto de ser tão requisitado, Garicochea passou um bom tempo vendo amigos trocar de carro, sem ter dinheiro para comprar o seu. Depois de formado, foi para São Paulo fazer residência no Hospital do Servidor Público. Em seguida, mestrado e doutorado na USP. "Mudei meu modelo de o que é ser um profissional de medicina. Deixei de desejar meu consultório e me apaixonei pela curiosidade científica."

Com uma bolsa de estudos, foi pesquisar leucemia em Londres, onde passou três anos. Depois embarcou para Nova York (EUA), para integrar uma nova equipe do Memorial Sloan-Kattering Cancer Center.

Com dados estatísticos de que 5% dos casos de câncer de mama, útero e cólon estavam ligados a um componente genético, o grupo de pesquisadores que incluía Garicochea começou a fazer um trabalho de diagnóstico precoce nas famílias dos pacientes.

Com o domínio da técnica, o oncologista voltou para São Paulo em 1997 e passou a desenvolver o trabalho no Sírio-Libanês até o fatídico temporal.

Hoje, o médico vê com otimismo as perspectivas do tratamento de cânceres. "Cuidados simples, como parar de fumar, diminuir a exposição ao sol e ter uma dieta menos rica em gordura, podem reduzir drasticamente a incidência da doença."

Garicochea diz que, se tivéssemos uma cultura de busca por diagnósticos, a porcentagem de cura subiria de 50% para 85%. "No futuro, o trabalho de prevenção ao câncer será tão comum quanto ir ao dentista."

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