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30/03/2004 - 02h48

Caminho das Pedras: A corrida do ouro

SANDRO MACEDO
free-lance para a Folha de S.Paulo

De volta ao começo. Em agosto de 2004, os Jogos Olímpicos voltam a ser disputados em Atenas, capital da Grécia. Além do fato de os gregos serem os inventores da competição, mais de mil anos antes de Cristo, foi em Atenas que se realizou a primeira Olimpíada da era moderna, em 1896, tal qual a conhecemos atualmente.

Associated Press
Prova dos 110 m com barreiras na Olimpíada de 2000, em Sydney
Esse projeto de "resgate olímpico" foi em grande parte obra dos ideais do francês Pierre de Fredy, conhecido também como barão Pierre de Coubertin, um educador que queria criar algo parecido com uma "competição cooperativa", na qual o importante não fosse vencer, mas competir e interagir com povos de diferentes culturas.

As Olimpíadas cresceram muito mais do que poderia prever seu idealizador. Provas inusitadas, como cabo-de-guerra e subida na corda lisa de 8 m, já não existem. A profissionalização chegou à maioria dos esportes e, de quatro em quatro anos, milhões de telespectadores grudam os olhos na TV para ver "o homem superando seus limites", como gostam de noticiar os locutores esportivos.

Se você ainda não conhece o representante do país no ciclismo, não sabe quem é o artilheiro do time de handebol masculino nem decorou o nome do cavalo de Rodrigo Pessoa, não se preocupe: quase ninguém sabe.

O fato é que os Jogos Olímpicos exercem um fascínio que os esportes, individualmente, têm dificuldade em atingir. A Copa do Mundo de futebol ou o Mundial de rúgbi são raras exceções de eventos com apelo ao redor do mundo. Competições de atletismo, natação ou ginástica têm pouca repercussão fora da temporada olímpica. Mas, em ano de Olimpíada, seus praticantes se tornam estrelas tão grandes quanto Ronaldo ou Shaquille O'Neal.

Com essa visibilidade, a briga para sediar os Jogos —e a chance de faturar muito com eles— é acirrada. Nove cidades disputam o direito de receber as competições de 2012 (a Olimpíada de 2008 acontecerá em Pequim, na China), incluindo o Rio de Janeiro, que, depois da tentativa fracassada de abrigar os Jogos de 2004, ganhou a chance de organizar o Pan-Americano de 2007. A decisão do COI (Comitê Olímpico Internacional) sobre a sede de 2012 sai no ano que vem.

Para acompanhar a 28ª edição dos Jogos sem frustrações, é melhor esquecer os bons resultados obtidos pela delegação brasileira no Pan de Santo Domingo, realizado no segundo semestre do ano passado, quando o Brasil conquistou 123 medalhas (28 de ouro). Além da ausência dos australianos na natação, dos asiáticos no judô e dos africanos nas pistas de atletismo, os norte-americanos mandam atletas do segundo escalão para a competição —apenas o suficiente para garantir a hegemonia do país no continente.

Apesar da evolução brasileira em várias modalidades, como a ginástica olímpica, com Daiane dos Santos, ou o salto triplo, com Jadel Gregório, conquistar uma medalha de ouro não será tarefa fácil. O nadador Gustavo Borges (prata em Barcelona, em 1992), que participa de sua quarta Olimpíada, disse que vê poucas chances de um pódio brasileiro nas piscinas de Atenas.

De qualquer forma, há boas possibilidades na vela, com Robert Scheidt (ouro em Atlanta, em 1996, e prata em Sydney, em 2000), no vôlei de quadra e de praia —masculino e feminino— e na prova de solo da ginástica feminina, com Daiane (primeira colocada no ranking mundial). O judô costuma reservar boas surpresas e merece ser acompanhado atentamente.

Os Jogos de 2004 podem ser, para o Brasil, os Jogos das mulheres. A participação feminina aumentou e está mais competitiva, o que dá ao país a chance de voltar de Atenas com mais heroínas que heróis.

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