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29/06/2004 - 02h48

A música clássica em 12 notas

João Batista Natali
da Folha de S.Paulo

Vamos começar pelo começo: quais são os tipos de música clássica? Existem as sinfonias, que são peças normalmente em quatro movimentos (partes) para grandes orquestras. Mas há também: os concertos, para orquestras e solistas (um instrumento, como piano, violino ou violoncelo); as missas (orquestras, corais e solistas vocais), entre as quais as de réquiem, para os mortos; e o "lied", ou canção, normalmente para piano e voz. E não acaba aí: existem ainda sonatas, estudos, oratórios, suítes, tocatas e muitas outras variações de gênero.

Quais são os instrumentos principais? Os instrumentos de uma orquestra são classificados por famílias. São as cordas (violino, viola, violoncelo e contrabaixo), as madeiras (flauta, oboé, clarineta, fagote, trompa etc.), os metais (trompete, trombone, tuba) e a percussão (tímpano, gongo, xilofone etc.). Saxofone e violão eventualmente também participam de uma orquestra, além de pianos, órgãos e celestas.

E as vozes? Na música clássica, as vozes são classificadas pela extensão de notas que elas são capazes de cantar. A mais aguda é a da soprano. A mais grave, a do baixo. Existem ainda a do meio-soprano (ou "mezzo-soprano"), a do contralto, a do tenor e a do barítono. Os castrados cantavam há 150 anos no mesmo registro que as sopranos; hoje, homens de voz muito aguda são chamados contratenores. As vozes participam de óperas, canções, missas ou algumas sinfonias, como a "Nona", de Beethoven.

Quem manda num concerto? Se for uma orquestra, é o maestro. Se for um conjunto de câmara (quarteto de cordas, por exemplo), quem manda é o primeiro violino, também conhecido por uma palavra italiana, "spalla". Nas orquestras sinfônicas, o spalla é a segunda autoridade da récita. Em caso de dúvidas sobre as indicações do maestro, os músicos prestam atenção no "spalla". É também o primeiro violino que, ao entrar no placo, orienta a afinação da orquestra segundo a nota lá.

A "etiqueta" das salas de concerto também tem poucas regras. A primeira é saber quando aplaudir. A música clássica é quase sempre dividida em "movimentos" (partes). Só se aplaude depois do último movimento, quando a música chegou mesmo ao fim. No caso de um ciclo de sonatas para piano, aplaude-se só depois da última sonata. Aplaudir nas pausas entre os movimentos atrapalha os músicos, porque eles perdem a concentração.

Há bons compositores brasileiros para conhecer? O Brasil produz excelente música desde o século 18. Os nomes de Carlos Gomes e Heitor Villa-Lobos são os mais conhecidos. Mas que tal tentar Lobo de Mesquita, José Maurício Nunes Garcia, Alberto Nepomuceno, Leopoldo Miguez, Cláudio Santoro, Guerra Peixe, Francisco Mignone, Francisco Braga, Radamés Gnatalli e Mozart Camargo Guarnieri? Há mais de duas centenas de grandes compositores brasileiros de música clássica ainda vivos. Experimente Osvaldo Lacerda, Amaral Vieira, Jorge Antunes, Marlos Nobre, Flo Menezes, Almeida Prado, Gilberto Mendes, Villani-Côrtes, Ricardo Tacuchian, Ronaldo Miranda, Edino Krieger, Kilza Setti e André Mehmari, entre muitos, mas muitos outros.

Quais são as opções de concertos para começar a ouvir música clássica? A quantidade de opções é espantosa. A revista "Concerto" (www.concerto.com.br), que traz o melhor roteiro paulistano de espetáculos, registra 227 apresentações apenas neste mês de junho. Em média, são mais de sete récitas por dia. Para quem mora no Rio, basta acessar o site Viva Música (www.vivamusica.com.br). Ele também relaciona os principais concertos em todo o país, promovidos em 104 cidades e publica um anuário (R$ 39, pedidos pelo tel. 0/xx/21/2296-8245).

Onde ouvir música sinfônica? São Paulo possui cinco grandes orquestras. São elas a Osesp (Sinfônica do Estado, sempre na Sala São Paulo), a Sinfônica Municipal e a Experimental de Repertório (no Teatro Municipal), a Sinfônica da USP (Sala São Paulo e Cidade Universitária) e a Sinfonia Cultura (no Sesc Belenzinho). Há ainda a Banda Sinfônica do Estado e a Jazz Sinfônica (que se apresentam no Teatro Sérgio Cardoso) e as orquestras jovens. A capital paulista tem ainda 31 pequenos grupos instrumentais. No Estado, há orquestras em Santo André, São Caetano, Santos, Campinas, Ribeirão Preto e outras cidades. Boa parte dessas orquestras vende assinaturas para suas temporadas. É uma comodidade para que se comprem pacotes mais baratos.

E as temporadas internacionais? Duas entidades, a Sociedade de Cultura Artística (tel. 0/xx/11/3256-0223) e o Mozarteum Brasileiro (tel. 0/xx/ 11/3815-6377), ambas em São Paulo, têm temporadas com grupos estrangeiros. São espetáculos em geral mais caros, mas todos eles têm ingressos para estudantes e aposentados. Vale conferir.

Nesta época, a agenda de opções é engrossada pelos festivais de inverno. Esses festivais promovem encontros de jovens músicos com professores e de músicos com o público. O maior e mais tradicional deles é o de Campos do Jordão (SP). Será neste ano o 35º, de 3 a 25 de julho, e terá a direção artística de Roberto Minczuk. Serão 160 bolsistas participantes, além de espetáculos com estrelas como Nelson Freire (piano) e Antonio Meneses (violoncelo), além de apresentações da Osesp, da Petrobras Pró-Música e da Sinfônica Municipal (programação completa em www.festivaldeinverno.sp.gov.br). Há outros festivais de inverno tradicionais no país, como os de Bonito (MS, www.festinbonito.com.br), Campina Grande (PB), Campos (RJ), Londrina (PR, www.filo.art.br), Poços de Caldas (MG), São João Del Rey (MG), Ouro Preto (MG) e Santa Maria (RS).

Se não conseguir ouvir ao vivo as muitas apresentações, vale arriscar em bons CDs. Os brasileiros compraram em 1997, melhor ano do setor, 1,43 milhão de CDs de música clássica. São inúmeros os caminhos para montar uma discoteca. Pode-se começar com Bach, Beethoven ou Brahms. O selo Paulus tem boas gravações de compositores brasileiros. Não há uma cartilha consensual com os primeiros passos. Vale o que agradar.

Por último, é preciso derrubar um mito: não é caro ouvir música clássica. Nenhuma grande orquestra estrangeira que visita o Brasil cobra ingressos tão caros quanto uma estrela pop de primeira linha, como Madonna ou Michael Jackson. Um excelente lugar custa no máximo R$ 200. O ingresso mais caro no Teatro Municipal de São Paulo custa R$ 150. A Osesp, a melhor orquestra brasileira, cobra no máximo R$ 70 por um lugar em seu espetáculo. A Sinfônica da USP, uma das excelentes orquestras, cobra no máximo R$ 20 por seus concertos mensais.

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