Mais numerosos que nunca, escoteiros se adaptam aos novos tempos

Recentemente, a atriz Adriana Birolli ficou em terceiro lugar no reality show "Super Chef Celebridades", do programa de Ana Maria Braga. "Aprendi a cozinhar quando fui escoteira", diz.

Nos acampamentos do grupo Santa Mônica, ela também encenou seus primeiros esquetes e arranjou o primeiro namorado. Ué, mas pode namorar em acampamento?

"A paquera rolava solta, mas lá não podíamos fazer nada. Acho que uma coisa não combina com a outra mesmo. A gente esperava e resolvia fora dali", lembra a atriz da Globo.

"Não pode nem ficar de mão dada!", reforça Anauara Anic, 16, integrante do grupo São José de Vila Formosa. "Tem horário para voltar para a barraca e menino dorme separado de menina".

Ou seja, 'ficar', só escondido. "E, se descobrirem, você pode ser afastado por um tempo", esclarece a jovem.

"Como em todo lugar, no escotismo também há regras. É um ambiente, acima de tudo, educacional", explica Rafael de Macedo, vice-presidente da UEB (União dos Escoteiros do Brasil).

CARETAS NÃO!

No país, até 1990, acampamentos mistos eram proibidos. "Tem quem ache que somos tradicionalistas, mas temos os olhos voltados para o futuro", defende Rafael.

O movimento brasileiro reformulou sua logomarca, os manuais de conduta e os uniformes. Seus representantes passaram até a dar palestra em empresas sobre trabalho em grupo e liderança.

Desde 2008, ele vem crescendo cerca de 20% ao ano no Brasil. Atualmente, são cerca de 90 mil escoteiros inscritos na UEB --no mundo, são 32 milhões.

A maior concentração é nos EUA. Lá, em julho último, um jovem de 19 anos foi expulso da "Boy Scouts of America" (união escoteira do país). Motivo: ser gay.

A entidade alegou que é livre para escolher seus valores. A Suprema Corte dos EUA legitimou a decisão.

O combate ao preconceito, porém, faz parte inclusive da Lei do Escoteiro (dez regras principais que regem o grupo). "No Brasil, isso não ocorre. Conheço diversos homossexuais no movimento", conta Rafael de Macedo.

Por aqui, o escotismo surgiu em 1909, dois anos após ter sido inventado por Robert Baden-Powell, tenente-general do Exército britânico.

Barack Obama, Paul McCartney e Bill Gates foram escoteiros. Sabrina Sato, Regina Casé, Alessandra Negrini, Fernando Henrique Cardoso e Roberto Marinho também.

Hoje, os membros brasileiros pagam cerca de R$ 100 ao ano para manter a UEB funcionando --membros carentes são isentos da taxa. A organização recebe também a ajuda de pais, empresas privadas e igrejas.

Os encontros acontecem geralmente aos sábados, entre 14h e 18h. As atividades incluem criação de animais, aulas de primeiros socorros, sobrevivência na floresta, debates, boas ações... E há ainda as aguardadas viagens para acampamentos.

Há registro de escoteiros com até 90 anos. "Quero ser escoteira até o fim da vida", jura Anauara.