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02/08/2010 - 14h16

Jovens do Nordeste mostram como é a vida de quem perdeu tudo nas enchentes

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FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A MURICI (AL)

Leo Caldas/Folhapress
Taís Rosa da Silva, 14, entre as tendas do abrigo onde está vivendo
Taís, 14, entre as tendas do abrigo onde está vivendo

Já pensou como seria a vida se, de uma hora para outra, uma enchente levasse sua casa com tudo dentro?

E se, depois disso, você ainda fosse obrigado a morar em um galpão com 200 famílias que você nunca viu na vida, sem água e com luz na base da gambiarra?

Pois foi isso o que aconteceu com milhares de pessoas em Pernambuco e em Alagoas. Em junho, a chuva fez os rios transbordarem, e a correnteza, como um tsunami, varreu do mapa bairros inteiros nesses Estados.

A tragédia mudou a história das famílias desabrigadas. Pais ficaram desempregados, e os filhos, acostumados à vida pacata das cidades do interior, assumiram tarefas importantes, como buscar comida e fazer bicos. Festas e lazer nem pensar.

Garotas que só ficaram com a roupa do corpo não se veem no espelho há mais de um mês. Espelhos não existem nos abrigos coletivos onde passaram a viver, em Murici (a 50 km de Maceió).

Leo Caldas/Folhapress
Jovem carrega o que sobrou de sua casa em Murici (AL)
Jovem carrega o que sobrou de sua casa em Murici (AL)

"A voz das amigas é o nosso espelho", diz a estudante Daniela Maria de Araujo Silva, 15. "Elas vão falando, e a gente vai se ajeitando, vendo se o cabelo está assanhado, se a blusa está combinando."

O máximo que conseguem, afirma Daniela, é ver seus reflexos nos vidros dos carros que param próximos aos galpões. "É melhor que olhar no espelhinho retrovisor, onde a gente só vê o olho e o nariz", diz ela.

Ruim mesmo, diz a garota, é tomar banho de roupa. Sem chuveiro, o pessoal se vira no "banho de gato" com balde e caneca na beira da estrada, onde foram instalados banheiros químicos e caixas d'água para os flagelados.

"Na hora de trocar de roupa, então, tem que ficar esperta", reclama. "Os caras ficam "brechando" [espiando] a gente no meio dos panos", diz, referindo-se aos lençóis e lonas plásticas que delimitam os territórios de cada família dentro dos abrigos.

SAUDADES DO BATOM

Leo Caldas/Folhapress
Eliel Luis da Silva, 18, mostra os panos que dividem os quartos de cada família
Eliel, 18, mostra os panos que dividem os quartos

No galpão onde vivem com suas famílias, as amigas Daniela, Maiane Alves da Silva e Jamile Fernandes de Moura, 13, estão sempre juntas. E compartilham uma correntinha, uma pulseira e alguns elásticos de cabelo que sobreviveram à enchente.

"A gente tinha calça cigarrete, vestido, sapato de bico fino, rasteirinha... Hoje, usamos roupas doadas", conta Maiane. "Perdemos tudo. Dá saudade de usar um batom."

Os amigos sumiram, dizem elas. A paquera dos tempos em que frequentavam a praça Padre Cícero também acabou. "Ninguém mais olha para a gente, só mesmo os bem tronchos [feios]."

Transferida há poucos dias de um abrigo coletivo para uma barraca individual em Murici, Taís Rosa da Silva, 14, prefere as amizades on-line.

"Gastei R$ 2 [em uma lan house] e contei para o pessoal na internet o que tinha acontecido. Eles ficaram passados", conta. "Mas ficaram felizes porque souberam que estou viva. É isso o que importa, não é?"

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ESTUDANTES COLETAM DOAÇÕES DURANTE AS FÉRIAS

MAYRA MALDJIAN
DE SÃO PAULO

David Artur, 18, passou o aniversário carregando roupas doadas, enquanto Catarina Calheiros, 15, ajudava na triagem das peças.

Thiago Gonçalvez, 19, juntou amigos para carregar mantimentos em dia de jogo do Brasil na Copa.

Assim como eles, dezenas de jovens trocaram as férias pelo voluntariado na ONG S.O.S. Alagoas, em Maceió. Eles organizam as doações e promovem encontros com as famílias desabrigadas.

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