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13/09/2010 - 08h55

Vida na Casa Branca é cheia de mimos; e o futuro, de pressões

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ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Apesar da vida controlada e do cerco da mídia, a parte mais dura de ser filho de presidente é construir uma identidade separada da dos pais.

A afirmação é de Doug Wead, historiador, assessor de George H.W. Bush (1989-1993) e autor de "Todos os Filhos dos Presidentes" ("All the Presidents" Children", First Atria Books, 2004).

Leia, abaixo, sua entrevista ao Folhateen.

*

FOLHA - O que é mais difícil em ser filho de um presidente, especialmente nos anos em que o pai está na Casa Branca?
DOUG WEAD - Na verdade, não são os anos na Casa Branca que são os mais difíceis. Essa é a suposição geral, mas eu entrevistei 19 filhos de presidentes e a maioria gostou muito de morar na Casa Branca. É um período muito curto da vida deles, porque é tão cheio de atividades que passa muito rápido (quatro ou oito anos, se o pai é reeleito).

A maioria dos que eu conversei achou esse período ótimo. Foi um tempo que passaram com suas famílias, que em geral estava separada antes por causa das campanhas políticas.

E a Casa Branca significa poder. Podem mandar um avião particular te buscar e levar a qualquer lugar do mundo. Conhecem muita gente, muitos artistas. Ganham todos os brinquedos, os filmes de Hollywood às vezes são exibidos para eles antes de estrearem no cinema. É um erro pensar que essa é a parte difícil.

O que é difícil é construir uma identidade separada de seus pais famosos depois. É uma luta que dura o resto da vida. Qualquer coisa que o filho alcança não é muito em comparação com o que o pai fez. É muito difícil ter uma boa autoestima.

E não importa a idade do filho quando o pai foi presidente, nem mesmo se nasceram depois que o pai saiu da Presidência.

E a questão da privacidade?
A filosofia para criar filhos na Casa Branca evoluiu por muito anos, e a conclusão é que o melhor é manter os filhos longe da atenção pública.

São muito agressivos nisso. Não é suficiente apenas não dar entrevistas coletivas. O presidente e a primeira-dama precisam ser muito ativos.

Telefonam para editores de jornais e revistas e pedem para que não escrevam sobre os filhos. Também falam com produtores de TV. Os amigos dos filhos, os professores, os pais dos amigos, todos são informados de que se falarem com qualquer pessoa serão excluídos do círculo da Casa Branca.

Os mais bem-sucedidos filhos de presidentes ao longo da história foram os que estiveram longe da Casa Branca ou se mantiveram totalmente fora do olhar público.

É interessante, quase todos os filhos de presidentes poderiam ter tido vidas públicas se quisessem, como ativistas, filantropos, políticos, etc. Mas quase nenhum quis fazer isso. [O ex-presidente] George W. Bush [filho de George H.W. Bush, que governou entre 1989 e 1993) foi decididamente uma exceção, assim como John Kennedy Jr. Muitos em um período curto experimentam rapidamente ter uma vida mais pública e decidem que não vale a pena.

Veja Caroline Kennedy, que pensou em tentar o Senado. Ela foi muito criticada e voltou para a vida privada.

Há diferenças nas dificuldades entre os filhos de um mesmo presidente?
Sim. O filho mais velho, em geral o que tem o mesmo nome do pai, sofre muito mais pressão. Muitos morrem jovens e tem muitos problemas na vida. Não acho que é coincidência. São as expectativas muito altas que as pessoas têm em cima deles.

Deve ser especialmente difícil para um adolescente...
Sim. Com as filhas gêmeas do presidente George W. Bush (Jenna e Barbara), houve muitas reportagens sobre problemas com bebidas quando elas eram jovens. Essa era uma questão oficial, pública, e no resto do tempo a Casa Branca não divulgava informação nenhuma sobre as duas. Então por anos tudo o que havia para um repórter que fosse mencionar as gêmeas era a bebida, e foi essa imagem que ficou.

Agora, os Obama estão dando pequenas doses de informação para a imprensa sobre Malia e Sasha, para que seja construída uma imagem mais completa. Também criam a impressão de que elas são acessíveis, o que não é verdade. Ninguém as entrevista, não há como conseguir informação não oficial, a escola e os amigos não dizem nada.

Os Obama vendem a imagem de ser muito unidos, com o presidente jantando com a família todas as noites etc. Essa é a regra ou a exceção?
A exceção. Os Obama têm sido muito diferentes da maioria dos presidentes do passado. Woodrow Wilson (1913-1921) também jantava em casa com os filhos todas as noites. Mas os Obama não mimam as filhas como os outros. Há exemplos ridículos pela história, de filhos que ganham tudo o que querem e não têm qualquer supervisão. Isso ocorre porque os presidentes se sentem culpados. São forçados a ficar muito longe dos filhos antes de chegar à Casa Branca por causa das campanhas, e depois não têm coragem de controlá-los.

Barack Obama e Michelle, por outro lado, disciplinam os filhos. Limitam o tempo de TV e computador e tem muita presença familiar. É uma situação única.

Houve muitos filhos de presidentes envolvidos em escândalos?
Sim, por toda a história. Durante a Segunda Guerra, os filhos de Franklin D. Roosevelt (1933-1945) eram cinco se casaram um total de 19 vezes, o que dá uma ideia da vida que levavam. Andrew Johnson (que serviu em 1865 e sofreu impeachment) tinha um filho que trabalhava na Casa Branca e foi pego levando prostitutas para lá.

Há "bad boys" e "bad girls" entre filhos de presidentes. Mas há também muita gente que se destacou, fundou universidades, liderou exércitos, construíram grandes corporações. Parece que ou vão muito bem na vida ou são um grande fracasso. Há pouco no meio.

 
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