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10/01/2011 - 10h01

Recrutados pela internet, dançarinos contam como é a vida na capital do axé

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CHICO FELITTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Atualizado às 15h01.

Contratam-se maiores de idade para morar na praia com salário de até R$ 2.000, carteira assinada e uma legião de admiradores. Isso sem falar em casa, comida e roupa (de banho) lavada.

A perspectiva seduz, mas envolve custos pessoais: rotina puxada, dieta restrita e namoros supervisionados. A carreira, voltada a jovens, tem também curta duração.

O trabalho é dançar as músicas do verão nos palcos de praia de Porto Seguro (BA).

A cidade, que viu os portugueses chegarem há 511 anos, assiste hoje a um fluxo anual de 2 milhões de turistas, diz a prefeitura.

Muitos deles são estudantes paulistanos em viagem de formatura com a galera da escola ou da faculdade.

Para entretê-los, garotos e garotas são pinçados pela internet e "importados" de outros Estados para fazer bailar na capital do axé.

Esses jovens viram uma casta superior na cidade. "É como ser ator global", compara o olheiro Sérgio Mascareinhas, 39, que recruta gente na faixa dos 20 anos para dançar na barraca Toa Toa.

"Recebo milhares de pedidos [de contratação] nos meus 12 perfis no Orkut", diz MC Sharon, 40, autor da música do "cada um no seu quadrado", que gerencia a companhia de dança Axé Moi.

Há também gente que nasceu no riscado. Filho, sobrinho e irmão de "axezeiros" locais, William Quebradeira, 20, não quer outra vida: "Não me imagino fazendo outra coisa. Esse era o meu sonho".

Os que vêm de fora se dividem em dois grupos: os que estão ali pelo trabalho e os que querem aproveitar o verão na Bahia sem gastar.

"Vou ficar uma temporada e, depois, tchau. Samba dá mais dinheiro", diz a mineira Emmanoelle Camila, 25.

Outra mineira que veio de testes pela internet e parte depois do Carnaval é Renatinha, 22: vai terminar o curso de educação física e começar um de engenharia civil.

"As pessoas acham que todo dançarino é só um corpo. Para mim, é um jeito de ganhar quatro vezes mais do que em um estágio", diz.

Já Diego Veiga, 20, nem perguntou quanto ganharia para dançar no Barramares. "São férias pagas", definiu, ainda perdido no primeiro dia de coreografias. Ele vai ganhar R$ 1.320 por mês, sem precisar pagar por comida nem por aluguel. Vai dividir quarto com três colegas.

A coabitação é um jeito de manter os funcionários na linha. A república dos dançarinos de Sharon, por exemplo, fica colada ao seu sobrado. Se ela ouve barulho, abre as portas sem fechadura para uma incerta. Sexo, drogas e bebidas são interditados.

Já as meninas do Toa Toa são proibidas de perambular pelas festas. Namorico só é permitido se jantar com o "painho" Sérgio antes, para garantir a autorização.

Fotomontagem
Matéria de capa sex
Renatinha, 22, de Belo Horizonte; William Quebradeira, 20, de Porto Seguro (BA); e Peter Christ, 24, de Vila Velha (ES)
Fotomontagem
Matéria de capa sex
Kelly Case, 23; e Poliane Freitas, 25, de Contagem (MG)

"DE LEVINHO"

A estudante de oceanografia Dina Angelo --ex-Dininha-- já se apresentou em barraca, casa noturna e parque aquático. Dina, 25, diz que era proibida de comer das 8h às 19h na época em que ia à luta de shortinho.

Quatro quilos mais gorda e sem saber a coreografia do "Rebolation", ela diz ser mais feliz hoje. "É prostituição, de levinho. Pagam para ter nossos corpos, mesmo que só para passar os olhos."

O problema é que hoje em dia a plateia quer só ver, diz Lady Butterfly, coreógrafo e drag queen que dança em barracas há quase 20 anos.

"Antes, o turista vinha ver a ginga do baiano e tentar aprender. Hoje, complicaram demais as danças."

editoria de arte/folha press/editoria de arte/folha press
superhit do verao
 
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