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16/04/2011 - 05h26

Com Misfits, punk 'dos infernos' marca primeiro dia do Abril Pro Rock

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ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
ENVIADA ESPECIAL A RECIFE

Atualizado às 11h59.

Os gritos guturais ricocheteam já pelas redondezas do festival.

Na madrugada de sexta para sábado, primeira noite do Abril Pro Rock, as bandas atendem por nomes como Torture Squad, Violator e Facada.

É para pegar pesado mesmo. Dedicada à face mais punk e metaleira do rock, a abertura do festival recifense parece dizer ao público: "À meia-noite levarei seu tímpano".

A atração mais esperada, aliás, é a norte-americana Misfits, que parte em seguida para tocar na Virada Cultural paulista.

O nome, que em português quer dizer "desajustados", foi copiado do último filme que Marilyn Monroe fez antes de morrer, em 1962.

É no cinema --em especial nos filmes B, com suas caretas de horror numa era pré-botox-- que o grupo sacou vários sucessos da carreira, como "Astro Zombies", "Horror Hotel" e "Hollywood Babylon".

Músicas como "Attitude" e "Last Caress" acabaram regravadas por Guns N' Roses e Metallica, respectivamente.

Nas várias encarnações da banda, a atual é uma espécie de "a volta dos que não foram".

Da formação inicial, só resta o baixista Jerry Only, "desajustado" há quase 35 anos. Mas um baterista que tocou com a banda nos anos 80, o colombiano Robo, volta à função --já ocupada por Marky Ramone, aliás. O cabeludo guitarrista Dez Cadena fecha o trio.

"Autoparódia" é uma expressão que se ajusta aos Misfits como uma calça de couro dois números menor. Precursores do "horror punk", a banda adota um visual que poderia muito bem ter saído de uma "Hell Fashion Week".

Cadena, por exemplo, usa uma maquiagem cadavérica que lembra a pintura nos rostos do Kiss. Jerry Only (algo como "Jerry Apenas", da mania de dizer que seu nome era "apenas Jerry") gosta de couro, munhequeira e colete com espetos.

Não há fogos de artifício ou línguas de fogo saindo do palco, como nos shows do Kiss. Como cenário, um painel com "Misfits" escrito em vermelho sangue e uma caveira (o símbolo da banda). E só. Os efeitos especiais ficam por conta do magnetismo do trio, que toca até dezenas de músicas em 1h30 de apresentação --quase 10 só nos primeiros 20 minutos.

Com um punk tosco (sim, isso pode ser um elogio no underground), o repertório dá um passeio pelas várias fases dos "desajustados" --inclusive quando eles eram liderados por Glenn Danzig (de 1977 a 1983).

Também entraram músicas de um novo disco, que o líder do Misfits classifica como "a melhor coisa que já fiz até agora". Ele garante que "Devil's Rain" ("chuva do diabo") será um álbum com pé grudado no acelerador.

Na plateia, jovens eram maioria --e praticamente todos vestidos de preto.

Após o show, Jerry achou graça da faixa etária. "Eles não eram nem nascidos quando a gente começou, cara!"

Fã de George Romero e de sua invasão zumbi em "A Noite dos Mortos Vivos", o músico não sabe apontar algo mais assustador, hoje em dia, do que "assistir ao Disney Channel com a minha filhinha".

Em entrevista ao Folhateen, em seu camarim, Jerry contou que "tem uma bandeira bastante pesada para carregar nas costas". Fala da "herança maldita" deixada por Sid Vicious, Joey Ramone e outros malucões do rock que já morreram.

"Não quero ferrar com tudo", diz com uma solenidade até então inédita em sua voz.

METALCRACIA

O lado mais pesado do rock é, também, o mais democrático. Ao menos é o que se percebe na plateia do Chevrolet Hall, onde aconteceu a primeira noite do Abril Pro Rock --um pancadão que começou às 22h e só foi pregar o último prego do caixão às 3h30, com os Misfits.

Não há cercadinho VIP para separar o artista da maioria do público. As clássicas "rodinhas" (grupos que abrem um clarão no meio do show para se digladiarem entre si) se encaracolam com facilidade, mas o clima é festivo.

Vira e mexe, a plateia carrega alguém no colo em direção ao palco. Os seguranças, contudo, devolvem o roqueiro ao público que nem bola de pingue-pongue.

E os músicos capricham na pose. A cearense Facada era uma delas: gritava aos berros pelo fim dos tempos, como se estivesse disposta a escrever um novo capítulo do Livro do Apocalipse ali mesmo, na frente da audiência.

As músicas da paulista Torture Squad ("esquadrão da tortura") são outras que falam em "horror e tortura" e "viver para a matança".

No thrash metal da brasiliense Violator, os músicos balançam as longas madeixas como se o último comercial de xampu dependesse disso.

Derrick Green, vocalista do Sepultura, também deu a impressão de que gargarejou com sangue antes de subir ao palco com a Musica Diablo --projeto com Andre (Nitrominds). No setlist, "Sweet Revenge", "Flame of Anger", "Twisted Hate" e outras.

O Abril Pro Rock continua no domingo com atrações que pegam mais leve nos decibéis, como Tulipa Ruiz, Arnaldo Antunes e os jamaicanos do Skatalites.

A repórter ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER viajou a convite da Petrobras

 
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