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Mostra em SP traz cinema essencial de Jacques Rivette
Diretor de 'O Truque do Pastor' (1956), marco inicial da Nouvelle Vague, foi ofuscado por Godard e Truffaut
Seleção do CCBB inclui filme mais recente do francês, '36 Vistas do Monte Saint Loup', ainda inédito no país
Raros foram os que mudaram o cinema em mais de uma frente. É o caso do francês Jacques Rivette. Primeiro na crítica, depois na direção, Rivette foi fundamental para o desenvolvimento do que entendemos por cinema moderno.
O cinéfilo paulistano terá a oportunidade de conhecer uma dessas facetas a partir de hoje, graças à mostra promovida pelo CCBB com quase todos os seus filmes, incluindo o mais recente e inédito por aqui, "36 Vistas do Monte Saint Loup" (2009).
Como crítico, Rivette defendeu cineastas como Roberto Rossellini (1906-1977), Kenji Mizoguchi (1898-1956) e Howard Hawks (1896-1977) em textos estudados até hoje.
Como diretor, foi um dos mais importantes da Nouvelle Vague. Seu curta "O Truque do Pastor" (1956) é tido como marco inicial do movimento mais frequentemente associado a Truffaut e a Godard.
PASSEIO PELAS ARTES
Seu cinema promove rico e instrutivo passeio pela história da arte. Pois Rivette, 85, é, ao lado de Éric Rohmer (1920-2010), o cineasta francês mais erudito de sua geração.
Da pintura extraiu o sublime "A Bela Intrigante" (1991), longa de quatro horas, inspirado em um conto de Balzac, que investiga a criação artística. Michel Piccoli é o pintor, e Emmanuelle Béart, no auge da beleza, é sua musa.
Do teatro, vêm "Amor Louco" (1969), longa experimental com mais de quatro horas; o impressionante "Out 1: Espectro" (de 1974, que será exibido em sua versão remontada de quatro horas, enquanto a original tem mais de 12); e os longas "O Amor por Terra" (1984) e "O Bando das Quatro" (1989).
Da literatura provêm obras majestosas como "A Religiosa" (1966), baseada em Denis Diderot; "O Morro dos Ventos Uivantes" (1985), adaptação de parte do famoso livro de Emily Brontë; e "Não Toque no Machado" (2007), filmado a partir de Balzac.
Da improvisação dos atores vêm o charme e a estranheza de "Céline e Julie Vão de Barco" (1974), "Um Passeio por Paris" (1981) e "Paris no Verão" (1995).
A partir de uma perspicaz observação do mundo, Rivette lapidou uma gama de filmes rigorosos, em boa parte de longa duração, e brilhantemente encenados. É o cinema em estado de graça.