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Crítica - Drama

Macabro e com ar circense, 'Circo Negro' mostra batalhas básicas da existência

CAROLIN OVERHOFF FERREIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O argentino Daniel Veronese é um autor incontornável da dramaturgia latino-americana contemporânea. A peça "Circo Negro", de 1996, que a CiaSenhas de Teatro apresenta na direção de Sueli Araujo é a mais experimental que já escreveu.

No entanto, mantém-se fiel a sua temática principal: a relação intrínseca entre realidade e ficção, atuação humana e representação.

Ao dispensar personagens e lugares definidos ou ações coerentes, o texto cabe na concepção do "pós-dramático". Na verdade, é pouco mais do que um roteiro que propõe situações para atores e bonecos. A companhia de Curitiba abriu mão dos autômatos para focar melhor nas complexas relações humanas.

Quatro comediantes, dois homens e duas mulheres (Ciliane Vendruscolo, Greice Barros, Luiz Bertazzo e Rafael di Lari), demonstram que a interpretação no teatro, baseada na reprodução mimética dos comportamentos humanos, deve expressar sobretudo os dois extremos que marcam os sentimentos humanos: o desprezo e a compaixão.

Explica-se, assim, o título: assistimos a um espetáculo macabro e com ar circense que revela as batalhas básicas da existência.

Num espaço simples onde sobressaem retratos digitais animados dos atores na parede (cenografia: Paulo Vinícius), o espetáculo começa com o aperfeiçoamento da técnica de interpretação.

Parte depois para o entrelaçamento entre ofício e a agressão humana em situações que vão do conflito fatal entre amigos até o abuso sexual. Dentre ofensa, humilhação e vingança há pouco espaço para a compaixão.

Quando finalmente ganha uma cena na qual as duas atrizes contam uma história de misericórdia, mostram logo que conseguem deturpá-la facilmente com sua técnica.

"Circo Negro" propõe uma teoria do teatro em ação. Indica cenas que podem expressar a preocupação principal do teatro: mostrar com técnica apurada os paradoxos da alma humana.

A CiaSenhas de Teatro entendeu isso e aqui evidencia em cenas fortes a inseparabilidade das ferramentas do ator da interpretação dos abismos que nos habitam.


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