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Coreografia questiona o conceito de autoria

'Crackz', dirigido pelo coreógrafo Bruno Beltrão, usa movimentos copiados de clipes exibidos na internet

Mistura de dança urbana e contemporânea, espetáculo chega a São Paulo depois de turnê por festivais europeus

IARA BIDERMAN DE SÃO PAULO

É coreografia de rua e dança contemporânea. É cópia e é original. É belo, mas não tem nada de bonitinho.

"Crackz" é o novo trabalho do Grupo de Rua, dirigido pelo coreógrafo fluminense Bruno Beltrão, que estreia amanhã em São Paulo.

É também a palavra usada para designar a quebra do sistema de segurança de programas de computador para uso não autorizado.

O espetáculo concebido pelo coreógrafo de 34 anos e seu grupo de dançarinos de rua de Niterói gira em torno da ideia de autoria e propriedade intelectual.

"Ninguém inventa nem é dono de nada, a gente está o tempo inteiro bebendo nos outros. Eu queria discutir isso e a única maneira era colocar o grupo numa armadilha", conta Beltrão.

A armadilha era escolher clipes na internet e reproduzir os movimentos. "A gente ficava quatro, cinco meses em cada trecho, só aprendendo a fazer igual. Era chato, os meninos ficavam irritados."

Foi a primeira vez que o grupo, fundado em 1996 e que estreou no circuito da dança contemporânea em 2001, produziu uma obra em esquema de "grande companhia", com 13 pessoas em cena e ensaios diários de oito horas por quase dois anos.

Também foi a primeira produção financiada por empresa brasileira (Petrobras). As outras foram subsidiados por instituições da Europa, onde ocorrem 90% das apresentações do grupo.

"Crackz" segue a mesma trajetória: estreou na Bélgica e, antes de chegar ao Brasil, passou pela Áustria, pela Holanda e pela Alemanha.

As primeiras apresentações por aqui foram no Rio, na semana passada. Mesmo já tendo se apresentado antes para públicos superexigentes --incluindo os curadores de festivais europeus que subsidiam seus trabalhos--, Beltrão estava tenso.

"Virão a família, os amigos, faz tempo que isso não acontece. Mas não somos muito conhecidos por aqui, fiquei achando que o teatro ia ficar vazio", conta ele à Folha após a estreia carioca, no festival de dança Panorama.

O teatro encheu e tanto os amigos quanto o povo da dança puderam ver o que já conheciam (hip hop, capoeira, giros e saltos) e o que foi capaz de surpreendê-los.

É surpreendente quando as exibições virtuosísticas de solos típicos de dança de rua viram coreografias de grupo e a iluminação transforma os bailarinos em sombras compactas. Nessa hora, não se veem cópias ou originais, apenas movimento.

Mas Beltrão resiste à ideia de posar como o criador de algo nunca antes imaginado. "As coreografias não brotam do nada. A dança contemporânea usa movimentos da vida, muitas vezes do dia a dia. Então, quem é o dono?"


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