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Espetáculo discute relação entre classes

'O Patrão Cordial' mostra como a falsa postura amistosa de patrões aprofunda as diferenças com subordinados

Montagem da Cia. do Latão tem como base texto teatral de Brecht e teoria de Sérgio Buarque de Holanda

GABRIELA MELLÃO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para Sérgio de Carvalho, Bertolt Brecht escreveu uma peça brasileira: "O Senhor Puntila e seu Criado Matti". Neste texto do autor alemão, as relações estabelecidas entre o protagonista e seus empregados são baseadas na falsa cordialidade.

Tal comportamento é tipicamente brasileiro, segundo Sérgio Buarque de Holanda em seu estudo basilar sobre o país, "Raízes do Brasil". "O Patrão Cordial", peça da Cia. do Latão que estreou ontem no Sesc Belenzinho, nasce da junção dessas duas obras.

Puntila, renomeado como João Cornélio na peça, é um fazendeiro brasileiro de caráter oscilante. Quando está bêbado, é cordial e fraterno com seus empregados. Na sobriedade, é impiedoso e distante.

"Ao mudar as regras das relações de trabalho o tempo todo, o protagonista exerce o pior da cordialidade. Camufla as diferenças de classes, mas ao camuflá-las, as aprofunda", diz Carvalho, diretor e dramaturgista da montagem.

A ambiguidade do vínculo entre Cornélio e seu motorista é irradiada aos demais personagens, recriados a partir de histórias de trabalhadores brasileiros.

A Cia. do Latão fez ensaios abertos de "O Patrão Cordial" pelo país durante cerca de um ano. "Só assumimos o espetáculo como tal quando a qualidade de atuação mudou", afirma Carvalho. Ele considera o trabalho de ator nesta peça o mais complexo de seus 26 anos de Cia. do Latão.

Os atores devem negar a tipificação e, ao mesmo tempo, revelar um mundo regido não por indivíduos, mas por classes. Outro desafio é apresentar o tratado sociológico contido na trama sem didatismo, com humor, desvelando-o sobretudo através da ação física. "Muito se vive e pouco se fala dos problemas", justifica o diretor.


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