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Crítica - Drama
Peça expõe lapsos da comunicação cotidiana
'Opus 12 para Vozes Humanas' usa cenografia estilizada e diálogos desencontrados para falar sobre relações
AS FALAS COMPÕEM UM QUADRO DE PERGUNTAS, RESPOSTAS E RÉPLICAS DESENCONTRADAS NO TEMPO
MARCIO AQUILES CRÍTICO DA FOLHAJunção de duas peças de Sérgio Roveri ("Um Dia" e "Uma Noite"), o espetáculo "Opus 12 para Vozes Humanas" trata de um tema onipresente na arte contemporânea: a dificuldade de comunicação e entendimento.
Na primeira cena, múltiplos sujeitos aparecem nos diálogos entre dois atores imóveis, frente a frente. A mulher discorre sobre a previsão do tempo e a respeito de um guarda de trânsito; enquanto isso, seu parceiro fala sobre o PIB brasileiro, acerca de um pôster, e por aí vai.
Ambos discursam como autômatos, como se estivessem possuídos por vozes que não lhes pertencem. Em alguns momentos, no entanto, seus discursos se reencontram, como se voltassem a fazer parte da mesma história.
Na cena seguinte, dois casais conversam sobre temas variados durante um jantar.
Suas falas, porém, têm lapsos, compondo um quadro de perguntas, respostas e réplicas desencontradas no tempo. O comentário sobre uma afirmação desponta minutos depois. Uma resposta a um questionamento surge descontextualizada no meio da conversa posterior.
A anfitriã só quer saber da salada de batatas orgânicas, seu marido deseja conversar sobre os vinhos que ganha de seus pacientes, enquanto o outro casal briga por não conseguir concordar com nada.
Para esse caos verborrágico, o diretor José Roberto Jardim concebeu uma montagem estilizada. Os personagens são figuras verossímeis --afinal de contas, a imagem de casais que não se comunicam bem é algo conhecido.
O que os distingue é que se comportam como alegorias abstratas. O personagem de Felipe Folgosi, Lucas, está sempre sorrindo; o de Anna Cecília Junqueira, Carol, mantém um recipiente de vidro erguido o tempo todo.
A peça transmite, com isso, uma sensação de estranhamento por meio de uma linguagem universal, facilmente compreensível, como o jantar na casa de amigos.
CORES NA ESCURIDÃO
Com penumbra dominante no palco, a iluminação da montagem é pontual, com focos de luz vindos de um projetor (azul), de dois abajures (amarelo) e de uma lâmpada vermelha. As cores primárias fazem o contraponto ao figurino em tons escuros.
Essa estética minimalista, aliás, é bastante próxima à utilizada nas encenações do Club Noir, onde está em cartaz, assim como a duração breve do espetáculo, de aproximadamente 45 minutos.
O final parece ter sido concebido para deixar o público estupefato, sem compreender a história, reforçando a tese da peça sobre a incomunicabilidade dominante.