Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Acontece

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Peça revisita história de heroínas gregas

No espetáculo 'Trágica.3', Letícia Sabatella, Denise Del Vecchio e Miwa Yanagizawa vivem Antígona, Medeia e Electra

Atrizes se apresentam em performances independentes em espetáculo com trilha executada ao vivo

GABRIELA MELLÃO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Guilherme Leme buscou aproximar tragédia grega e show de rock em "RockAntygona", espetáculo encenado por ele há quatro anos. Sua nova incursão no universo trágico procura produzir energia similar na plateia servindo-se sobretudo da força do discurso poético de três heroínas da Grécia antiga.

Em "Trágica.3", cuja estreia nacional acontece no sábado em São Paulo, o diretor leva ao palco uma nova leitura de "Antígona", clássico de Sófocles, realizada pelo dramaturgo Caio de Andrade.

Adiciona a esta peça uma encenação de "Medeamaterial", do alemão Heiner Müller, e a versão que o autor Francisco Carlos dá ao mito de Electra.

Leme chamou grandes atrizes (Denise Del Vecchio, Letícia Sabatella, Miwa Yanagizawa) para apresentarem os fragmentos por meio de performances independentes, cadenciadas por uma trilha executada ao vivo por Fernando Alves Pinto, Marcello H e a própria Sabatella.

"A palavra é levemente cantada, acompanhada por uma música muito delicada", diz ela, que toca piano e surdo em cena.

A atriz dá vida a Antígona, mulher que desafia o poder vigente para pregar contra a intolerância e reivindicar o direito de enterrar seu irmão.

"Numa sociedade de verdades absolutas, tem sempre alguém que se questiona sobre a ordem imposta e leva adiante sua desconfiança. Antígona é essa pessoa", diz Sabatella.

Ao mesmo tempo em que sua fala sobre o palco resguarda a fúria da indignação, é envolta pela delicadeza que é própria da linguagem lírica. Seu discurso surge carregado de imagens simbólicas.

"Quando a tempestade devasta bosques e florestas com sua respiração possessa e vingativa, é comum encontrar grandes árvores no chão, tombadas, vítimas de sua rígida altivez. Arbustos, no entanto, sobrevivem", diz em cena Sabatella, que construiu uma atuação distanciada da personagem.

Leme afirma que existe uma tênue separação entre as atrizes e as heroínas interpretadas. As personagens não são encarnadas pelas atrizes, apenas as atravessam. "Letícia, por exemplo, não é propriamente Antígona, mas uma atriz falando por meio do poema de Antígona", explica.

O encenador vê as heroínas trágicas como válvulas de escape da sociedade. Cada uma, a seu modo, usa a força desmedida que possui para lutar contra a tirania.

"Elas não nos servem apenas como exemplo de conduta repreensível. São também expurgo dos distúrbios sociais de um mundo completamente sem destino, que se esgota nas suas convicções e transformações", diz Leme.

Sabatella diz crer que sua heroína será a personagem de "Trágica.3"que mais vai gerar identificação com a plateia.

"Embora ajam de forma justificada, as vinganças de Medeia e Electra podem ser vistas como aberrações do comportamento humano. Antígona é mais próxima de nós e nos relembra que o sagrado deve ser preservado em nosso mundo coisificado."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página