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Crítica - Drama

Cineasta trata com frieza situação dramática

Francesa Catherine Breillat transpõe ao filme 'Uma Relação Delicada' caso real em que foi vítima de um trapaceiro

CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA

Os admiradores do cinema da francesa Catherine Breillat costumam defender seus trabalhos como exercícios de transgressão que têm no centro a sexualidade como uma matriz eterna de tabus.

Em "Uma Relação Delicada", Breillat mais uma vez filma o desejo como algo inextricável, um motor que leva o indivíduo a ceder a algo mais forte e instintivo que a liberdade de escolha.

Em vez de fantasmas imaginados, a cineasta transpõe sua própria experiência num rumoroso caso em que ela foi vítima do trapaceiro Christophe Rocancourt, por quem ela sentiu atração e a quem cedeu parte dos bens.

Isabelle Huppert interpreta uma cineasta que sofre um AVC e, assim, torna-se frágil. Enquanto se recupera, ela vê na TV a entrevista de um escroque, feito pelo rapper Kool Shen, em que acredita ter encontrado o bruto ideal para seu próximo filme.

Nesse curto-circuito entre vida e cinema, Breillat parte, como sempre, dos corpos. Para expor as sequelas da doença de sua personagem, Huppert capricha nos esgares e encarna convulsões como se mirasse uma indicação ao Oscar.

Kool Shen faz o mesmo que o ator pornô Rocco Siffredi em "Romance" e "Anatomia do Inferno", outros filmes da diretora: um tipo de homem-objeto em que o filme pretende fazer desaparecer a distância entre o ator e sua imagem.

Mais uma vez, a proposta de Breillat nunca supera o ponto de partida, a situação que ela considera dramaticamente forte, mas que filma com frieza clínica.

Apesar de evocar as obras de Buñuel e Pasolini, mestres em exibir entranhas caóticas do que chamamos de "ordem", a diretora os renega quando insiste numa visão naturalista e despojada de fantasia. Mesmo os fantasmas do sexo pouco diferem de um verbete de enciclopédia. Parecem bem moldados para fascinar um olhar psicanalítico, mas são nulos como ficção.

Nesta visão teórica, os corpos ainda poderiam ser uma força que resiste ao excesso de elucubração. Só que comparada ao que um filme como "Ferrugem e Osso" consegue, a relação de dependência entre a frágil e o bruto revela como fica aquém do que poderia ser.


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