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Crítica - Comédia

Ritmo e ironia marcam texto dos anos 1930

'Vidas Privadas', peça de Noël Coward na Broadway, mostra atualidade na crítica a padrões de comportamento

DE SÃO PAULO

Lavínia Pannunzio, como Amanda, é quem mais se delicia com as tiradas cortantes, escolhidas a dedo por Noël Coward (1899-1973) em "Vidas Privadas" --e traduzidas com igual precisão por Marcos Renaux.

Já experiente em dramaturgia inglesa, a atriz se esforça por tirar tudo o que Coward explora ou insinua no texto de quase um século atrás.

Aspectos de um relacionamento não dão motivo para melodrama novelesco nem preconceito, como se vê até hoje, e sim para inteligência e mordacidade. Na trama, Amanda e o ex-marido Elyot se reencontram na noite de núpcias --com novos esposos.

Com o correr da peça, também José Roberto Jardim, o ex-marido, embarca no crescente duelo, que remete aos casais virulentos das comédias shakespearianas, como "Muito Barulho por Nada".

Ou seja, muito "wit", perspicácia, e diálogos em que a mulher não aparece em grau abaixo, pelo contrário. O exemplo maior é o segundo ato, em que os dois vivem um instante de liberdade e paixão, a ponto de beirar a androginia, até que voltam a se atacar verbal e fisicamente.

Nos diálogos, nos gestos e marcações, o resultado desvairado parece refletir um detalhamento da encenação de José Possi Neto, aproveitando cada deixa do texto.

Com isso, o melhor da peça se concentra nas atuações, não só dos protagonistas, mas de Daniel Alvim e Maria Helena Chira, seus novos esposos. É o ritmo veloz conseguido em conjunto pelo elenco que dá vida a Coward.

Fica flagrante que ele está questionando padrões de costumes vigentes até hoje. Expõe a hipocrisia e o autoengano, que pouco ou nada mudaram desde 1930.

A percepção é de um humor muito diverso de Joe Orton em "O que o Mordomo Viu", encenada por Miguel Falabella, ou de "Os 39 Degraus", por Alexandre Reinecke, que abraçam farsa e paródia, uma comédia mais popular.

O maior problema aparece na cenografia e nos objetos, que não têm a precisão que a produção consegue noutras frentes, inclusive no figurino sensual de Fábio Namatame. Sem luxo nem praticidade, transmitem até fragilidade e insegurança.


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