São Paulo, terça, 25 de Maio de 1999
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31 - Mendonça de Barros revela que sabia valor da oferta italiana

Mendonça de Barros conversa com Renato Guerreiro, da Anatel. Consulta-o sobre possibilidade de o BNDES ficar por um período de alguns meses com mais poder na Telemar. Nessa conversa, o ministro comete uma indiscrição: revela que o valor exato da proposta da italiana Stet no leilão da Tele Norte Leste era de R$ 5,1 bilhões. Como a Stet perdeu o leilão, o envelope com sua proposta foi destruído.

Mendonça de Barros revela a Guerreiro que está "com os italianos" na sala. Constrangido, Guerreiro sugere: "Então é bom não falar".

Luiz Carlos Mendonça de Barros - A BNDESPar já é sócia da Telemar, da holding lá, da Tele Centro Leste.

Renato Guerreiro - Tele Norte Leste.

Mendonça - Tele Norte Leste, tá?

Guerreiro - Hã. hã?

Mendonça - Ela era sócia da Telebrás e no split ficou uma porra pequena, 1% ou 2%. O que nós queremos fazer e eu queria que você pensasse é, num primeiro momento, com os sócios que formaram consórcio e portanto estão entrando individualmente no capital da Tele Central do Norte fazer uma acordo de acionistas em qualquer votação tem que incluir as ações do BNDESPar. Tá?

Guerreiro - Hã, hã?

Mendonça - Isto pra evitar qualquer decisão complicada aí antes de acertar a formação da holding. Tá?

Guerreiro - Certo.

Mendonça - Que vai controlar a Telemar, né?. Na holding, nós vamos entrar com debêntures conversíveis, certo?

Guerreiro - Hã, hã.

Mendonça - E, a partir daí, a gente vai fazer um acordo de acionistas em que a gente vai estabelecer um quorum mínimo para as decisões mais importantes, exatamente pra não deixar eles sozinhos, tá? Eu queria que você olhasse isso do ponto de vista de vocês.

Guerreiro - Veja, é por isso que os jornalistas estão afoitos.

Mendonça - Isso, isso.

Guerreiro - Eles tiveram aqui e me fizeram uma pergunta: como é que fica a situação de entrar um outro sócio. Eu disse: olha, desde que o grupo inicial não perca o controle...

Mendonça - Isso, isso, não tem problema.

Guerreiro - Isso pode acontecer.

Mendonça - Não, não. Não vai perder o controle porque o que nós vamos fazer é um quorum qualificado do tipo assim de 80% dos votos. Porque o que nós queremos montar é uma estrutura que tenha o conselho de administração com os sócios, né, mas a gestão seja toda ela profissional. Aí eu pedi para o Zilli (Ércio Zilli, que era assessor especial do ministro), e ele vai te mostrar também, uma lista de dez pessoas de confiança nossa da área, tipo aquele japonês, aquele negócio todo, prá gente montar a administração com esse tipo de gente. Para depois que a gente identificar qual foi o problema realmente, que parece que tem coisa séria, a BNDESPar vende as suas debêntures num leilão para que entre gente que dê segurança pra a coisa, tá? Então, basicamente, vamos precisar de um período de, sei eu, de três meses, quatro meses, cinco meses, em que vai existir esse acordo de voto qualificado.

Guerreiro - Tá certo.

Mendonça - Você vê problema nisso, ou não?

Guerreiro - Não, não. Em princípio não. Desde que essa venda em três ou quatro meses assegure que o consórcio vencedor que comprou as ações mantenha mais de 50% das ações...

Mendonça - Não, não, isso vai manter. Deixa eu só te falar. O problema é que foi montada uma maracutaia aí que nós estamos sabendo agora, e que no fundo foi o Tesouro que sai perdendo, tá? Porque o preço da Tele Norte ia ser 5.100. (R$ 5,1 bilhões)

Guerreiro - Nossa...

Mendonça - Aí, como saiu pelo mínimo, mais 1%, esse pessoal está querendo ganhar essa diferença, tá? E só sobre o nosso cadáver que vai acontecer isso (rindo).

Guerreiro - Pelo amor de Deus, pô.

Mendonça - Mas olha, foi uma coisa feia, viu?

Guerreiro - É?

Mendonça - Eu estou com os italianos aqui..

Guerreiro - Então é bom não falar.

Mendonça - Não vou falar não. Eu só queria saber disso e eu vou pedir para o Zilli te passar a lista lá, tá?

Guerreiro - O Zilli também está sabendo desse esquema?

Mendonça - Não, não. Só você. Isso aí, quanto menos gente souber, melhor.

Guerreiro - Tá legal. Porque eles tentando me colocar aqui, Luiz, me colocaram uma questão de que está sendo criticado, que teria sido criticado por você, que uma empresa que não tenha operadora não tem competência.

Mendonça - Não, não foi isso não.

Guerreiro - E eu inclusive disse prá eles que eu acho que o Brasil tem competência e que você várias vezes referendou a competência das empresas.

Mendonça - Não. O que nós estamos preocupados é que foi montado aí um...

Guerreiro - Tá. Não, tudo bem.

Mendonça - Tá? E como eles precisam do nosso dinheiro, do nosso, do dinheiro aqui do banco, pra pagar nós estamos impondo as coisas. Agora, eu não quero impor um a coisa que ... agora, tem muita coisa podre aí que depois nós precisamos conversar, tá bom?

Guerreiro - Tá legal.

Mendonça - Tá bom?

Guerreiro - Um abraço.


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