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FonteCindam cobra US$ 46 milhões
da Sucursal do Rio
Em um dos telefonemas de Mendonça de Barros para André Lara
Resende, captado pela escuta clandestina em 3 de agosto do ano passado,
o então ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça
de Barros disse que o Banco FonteCindam cobrou comissão de US$
46 milhões dos fundos de pensão por assessorá-los
na compra de 19,9% do consórcio Telemar.
Sem saber que a conversa estava sendo gravada, o ministro contou a Lara
Resende que os fundos baixaram a comissão para US$ 13 milhões,
mas que, ainda assim, o banco recusava-se a assinar o acordo de acionistas
com o BNDES, enquanto não tivesse garantia do recebimento da comissão.
No telefonema a Lara Resende, Mendonça de Barros disse que daria
um ultimato a Eduardo Modiano, diretor do FonteCindam. Disse que iria
ligar para Modiano com a seguinte ameaça: Você tem
dez minutos para assinar isso, certo? Porque, senão, é outro
que vai ter que torcer pro Lula ganhar.
Ou seja, cogitou ameaçar o diretor do FonteCindam com retaliação
do governo, caso não assinasse imediatamente o acordo de acionistas,
na condição de representante dos fundos de pensão.
Prá cá, prá láNo mesmo dia 3 de
agosto (véspera da liquidação financeira do leilão),
Mendonça faz uma outra ligação para Lara Resende
e se refere, de forma enigmática, ao pagamento de comissões:
Lara Resende Impressionante. Olha, um negócio, Luiz Carlos, inacreditável.
Uma história...
Mendonça de Barros Comissão prá cá, comissão
prá lá.
As novas fitas obtidas pela Folha mostram que, nos cinco dias que
se seguiram ao leilão da Telebrás, houve intenso confronto
entre governo, empresas privadas e fundos de pensão pelo controle
da Telemar (que comprou a Tele Norte Leste), com manobras, ameaças
e artimanhas de todos os lados.
O primeiro confronto ocorreu logo depois do leilão, quando os empresários
Carlos Jereissati (grupo La Fonte) e Atilano de Oms Sobrinho (grupo Inepar)
foram até a presidência do BNDES, para uma reunião
com Lara Resende, sem nem sequer marcarem audiência.
Em depoimento ao Ministério Público Federal, em dezembro
do ano passado, Jereissati disse que foi ao BNDES fazer uma visita
de cortesia, como recomenda a boa educação e
que encontrou Lara Resende transtornado.
Para se ter uma dimensão da temperatura do encontro, Jereissati
disse em seu depoimento que Lara Resende teria chamado o consórcio
Telemar de chapa branca e afirmado que, por esse motivo,
não teriam o financiamento do BNDES. Jereissati afirmou ter sido
também chamado detesta-de-ferro do Banco do Brasil.
Depois do leilão, o BNDES exigiu ficar com 25% das ações
da Telemar como contrapartida para a liberação de financiamento
ao grupo vencedor, e os sócios tiveram de abrir mão de parte
de suas ações na empresa. Para complicar o troca- troca,
Jereissati, que não fazia parte do bloco inicial que foi ao leilão,
comprou 14,5% das ações dos demais acionistas.
As duas seguradoras do Banco do Brasil reduziram sua participação
de 20,1% para 10%. Macal, Inepar e Andrade Gutierrez baixaram de cerca
de 20% cada um para cerca de 11%, enquanto os fundos de pensão
ficaram com 19,9%. Apesar da queda-de-braço entre os sócios,
a divisão não está oficializada.
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