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Três ministros
agem para mudar consórcio
em São Paulo
Os ministros Pedro Malan (Fazenda) e Clóvis Carvalho (Gabinete
Civil) e o então ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros
(Comunicações) se envolveram na disputa entre Banco do Brasil
e BNDES pela posse das ações do consórcio Telemar.
A disputa entre os dois bancos federais começou assim que o leilão
da Telebrás terminou. Instruído por Mendonça de Barros,
o BNDES pressionou o BB a reduzir a participação das seguradoras
Aliança do Brasil e BrasilVeículos na Telemar de 20% para
7,3%.
O objetivo do ministro era abrir espaço para que a BNDESPar assumisse
25% do capital da telefônica. Como acionista das duas seguradoras,
o Banco do Brasil não admitiu baixar de 10%. Com esse percentual,
as seguradoras do BB teriam o direito de indicar um membro do Conselho
da Telemar.
Em telefonema a André Lara Resende, então presidente do
BNDES, Mendonça de Barros, por três vezes, chamou Pedro Malan
de babaca, pois, no seu entender, estava fazendo lobby
do Banco do Brasil.
A guerra começou com uma declaração de José
Pio Borges à imprensa de que o consórcio Telemar era chapa
branca e, por isso, não teria financiamento do BNDES.
Ele se referia à presença das seguradoras BrasilVeículos
e Aliança do Brasil, que tinham 20% do consórcio.
A declaração desagradou ao BB, que, como detentor de apenas
40% das ações das duas seguradoras, exigia que elas fossem
consideradas empresas privadas pelo BNDES.
No dia 3 de agosto, data da liquidação financeira do leilão,
Malan telefonou para Lara Resende, no BNDES, e lhe informou sobre o descontentamento
do BB com a notícia publicada nos jornais.
Eu notei (...) assim, um desconforto, com o fato dessa discussão
ter ido para a imprensa sem que eles tivessem tido a oportunidade de discutir
de maneira não pública, afirmou Malan.
É possível identificar a data precisa do diálogo
porque, naquele dia, o então secretário-executivo do Ministério
da Fazenda, Pedro Parente, participava da reunião do conselho de
administração do Banco Brasil, na condição
de seu presidente. Na conversa com Lara Resende, Malan disse que Parente
se encontrava na reunião do conselho, naquele momento.
O Banco do Brasil exigiu que o BNDES oferecesse formalmente um financiamento
às seguradoras (embora elas não precisassem disso) como
demonstração de que as considerava empresas privadas. Se
fossem públicas, não poderiam ser financiadas pelo BNDES.
A sugestão foi aceita. O BNDES enviou uma carta com proposta de
financiamento, acertando previamente nos bastidores que ela seria recusada
pelo Banco do Brasil.
Laranjão
O recuo do BNDES não eliminou os atritos com o Banco do Brasil.
Aproximava-se a hora da liquidação financeira do leilão
e os cheques teriam de ser depositados na CLC (Câmara de Liquidação
e Custódia) da Bolsa do Rio até as 15h30 do dia 3 de agosto.
O Banco do Brasil recusava-se a admitir que sua participação
fosse reduzida para 7,3%, como queria Mendonça de Barros.
A direção do BNDES havia colocado a situação
nos seguintes termos: ou 7,3% ou nada.
Mendonça de Barros ligou de seu gabinete em Brasília para
Lara Resende e ouviu dele que o Banco do Brasil ainda estava se
debatendo, mas que eles (BNDES e o Ministério das Comunicações)
não deveriam ceder.
Claro que não. O Clóvis (Clóvis Carvalho, chefe
do Gabinete Civil) me ligou e disse que estava tudo ok. Se quiser, eu
telefono para o Clóvis e falo que tem que mandar fazer,
respondeu Mendonça.
As seguradoras estão dizendo que não assinam. Não
reduzem a posição. Então vai dar merda,
continuou Lara Resende.
Então vai dar merda, concluiu o ministro.
Ao contrário do que previa Mendonça de Barros, Clóvis
Carvalho articulou para que o Banco do Brasil ficasse com 10% das ações
da Telemar. Foi uma derrota para Mendonça de Barros e Lara Resende.
Os outros empresários que formavam o chamado núcleo
duro (grupo controlador) do consórcio reduziriam sua
participação de 47,8% para 45,1% para permitir a entrada
do BNDES no consórcio.
Com esse revés, Mendonça de Barros sugeriu a Resende assinar
o acordo com o consórcio e fechar aquela página da história.
Resende respondeu que os empresários já haviam concordado
em ter a posição acionária diluída e que o
presidente das seguradoras do Banco do Brasil, Luiz Felipe Denucci, havia
ficado na maior alegria.
O Denucci, estou, estou convencido que é ...,
disse Resende. Laranjão, completou Mendonça
de Barros.
Laranja é um termo usado para identificar pessoas
que apenas representam interesses de outras que não podem aparecer.
Telemar
Oficialmente, o BNDES e o empresário Carlos Jereissati não
são sócios da Tele Norte Leste. O consórcio que comprou
o controle da companhia no leilão de privatização
é formado pela Andrade Gutierrez (21,20%), Inepar (20%), Macal
Investimentos (20%), Fiago Participações (18,7%), BrasilVeículos
(10,05%) e Aliança do Brasil (10,05%).
O BNDES tem apenas um contrato de opção de compra de debêntures
(títulos de longo prazo emitidos para captação de
recursos) conversíveis em ações a serem lançadas
pela companhia, que vão lhe assegurar, no futuro, uma participação
como acionista de 25% do capital com direito a voto.
O empresário Carlos Jereissati, do grupo La Fonte, está
em situação semelhante. Ele tem um contrato de opção
de compra de 14,5% das ações com direito a voto firmado
com os demais acionistas.
A formalização desses acordos, no entanto, ainda depende
de autorização da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações)
e há problemas nesse sentido.
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