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Saiba
como foram obtidas as fitas do grampo no BNDES
da Redação
A Folha publica nas próximas oito páginas os principais
diálogos encontrados nas 46 fitas a que o jornal teve acesso. Não
é possível identificar a ordem exata das conversas, pois
as fitas estavam sem identificação.
Os repórteres da Folha Fernando Rodrigues e Elvira Lobato
passaram vários dias ouvindo as gravações e as organizaram
segundo o que seria a ordem cronológica mais provável. A
transcrição dos diálogos é publicada nessa
ordem.
Para facilitar o entendimento, os diálogos foram parcialmente editados,
com a eliminação de interjeições e outros
sons que prejudicam a compreensão do material impresso. Mas a Folha
divulga a versão sonora dessas conversas no site do Universo
Online (www.uol.com.br) a partir de hoje.
A Folha obteve as fitas, com o compromisso de que a fonte do material
fosse mantida em sigilo.
As 46 fitas são nitidamente cópias de outras gravações.
É possível perceber isso, pois há várias repetições
de conversas entre os diversos cassetes. Não é possível,
portanto, saber a ordem exata e a data de todos os diálogos.
Como são fitas com 90 minutos de duração cada uma,
a escuta do material completo foi trabalhosa e lenta. Alguns trechos tiveram
de ser ouvidos mais de uma vez para total interpretação
dos fatos a que se referem. A Folha considerou necessário transcrever
primeiramente todos os trechos que pudessem conter alguma informação
relevante para o entendimento da privatização das empresas
de telecomunicações.
As 46 fitas de 90 minutos resultam em 4.140 minutos de gravação,
ou 69 horas. Há muitos trechos em silêncio ou em branco (cerca
de 30% das fitas, pelo menos).
Muitos trechos foram descartados pela reportagem por conterem conversas
irrelevantes ou de caráter unicamente pessoal.
Não é possível saber em quais telefones foram feitos
os grampos. É certo que os ramais da presidência do BNDES
foram grampeados. Mais de uma centena de diálogos começam
com as secretárias do BNDES atendendo o telefone.
Há também várias conversas gravadas no telefone da
casa de Elena Landau _ex-diretora de Desestatização do BNDES
e funcionária do Banco Opportunity na época do leilão
das teles.
Quem forneceu as fitas à Folha não quis dizer ou
não sabia o período exato das gravações. Disse
apenas que a parte principal seria referente ao período de 15 de
julho a 15 de agosto do ano passado.
Ao ouvir minuciosamente as 46 fitas, entretanto, vê-se que o grampo
foi mantido por um período muito mais longo. É possível
perceber isso, por exemplo, quando uma secretária recebe um telefonema
a cobrar do Canadá, país onde seus pais estavam em férias.
Nessa conversa particular da secretária, ela pergunta ao pai se
ele soubera que o atacante Romário havia sido cortado da seleção
brasileira de futebol naqueles dias. O jogador Romário foi cortado
da equipe que representou o Brasil na Copa do Mundo em 2 de junho do ano
passado.
Em outro trecho, secretárias do BNDES falam sobre uma passagem
do presidente Fernando Henrique Cardoso pelo Rio de Janeiro. FHC estava
na cidade para o lançamento no fim-de-semana do livro O Mundo
em Português - Um Diálogo (357 págs., ed. Paz
e Terra), no qual dá uma entrevista ao ex-presidente de Portugal
Mário Soares. Esse livro foi lançado no Rio no dia 19 de
setembro.
A qualidade das gravações varia muito entre as 46 fitas.
A Folha escolheu sempre o diálogo mais nítido (porque
há muitas conversas repetidas) para fazer a transcrição.
Isso possibilitou ao jornal reproduzir agora, de forma mais completa,
trechos já publicados antes na imprensa.
Em um trecho das conversas estão FHC e o então ministro
Mendonça de Barros (Comunicações). O assunto é
o valor total que o leilão das teles poderia atingir. O ministro
prevê uma receita próxima de R$ 16 bilhões.
Nas reproduções dos diálogos feitas pela imprensa,
depois que Mendonça de Barros cita os R$ 16 bilhões, FHC
aparece dizendo ajuda, né? (risos). Ajuda na dívida
(revista Época de 23 de novembro) ou ajuda, né,
as reservas (revista Veja de 18 de novembro e Carta
Capital de 25 de novembro).
Conforme as fitas em posse da Folha, a frase de FHC é diferente
das publicadas. O presidente disse o seguinte: Ajuda, né?
(risos) Para quem está na miséria.
O caso mais relevante é o que mostra a participação
de FHC na montagem da operação para favorecer o banco Opportunity
e a empresa italiana Stet.
Até agora, apenas a revista quinzenal Carta Capital
(edição de 25 de novembro do ano passado) havia mencionado
que FHC aparecia nos grampos falando diretamente sobre a operação.
Mas a revista não teve, aparentemente, acesso à conversa
completa.
A única frase de FHC sobre o assunto é a seguinte: Precisamos
convencer a Previ. Essa afirmação do presidente, segundo
a Carta Capital, estaria em um diálogo com o então
presidente do BNDES, André Lara Resende.
Pela descrição da Carta Capital é o mesmo
diálogo a que a Folha teve acesso completo. FHC não diz
precisamos convencer a Previ. Quando André Lara pergunta
se pode usá-lo para pressionar o fundo de pensão
dos funcionários do Banco do Brasil, o presidente diz: Não
tenha dúvida. Não tenha dúvida.
Além dos trechos inéditos que são revelados hoje,
há dezenas de correções como essas nos diálogos
já conhecidos.
Trata-se de um cuidadoso trabalho de reconstituição histórica
dos bastidores da maior privatização que o país já
teve. Quando foram vendidas as jóias da coroa, como
costumava se referir à Telebrás Sérgio Motta, que
foi ministro das Comunicações e morreu em abril do ano passado.
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