São Paulo, terça, 25 de Maio de 1999 | ||
36 - "O Pedro Malan é um babaca que está sendo enganado", diz Mendonça Segunda-feira, dia 3 de agosto. Luiz Carlos Mendonça de Barros telefona para André Lara Resende. Conta que Clóvis Carvalho ligou, a mando do presidente da República, se oferecendo para interceder no Banco do Brasil a respeito de dois assuntos: 1) considerar privadas as seguradoras do BB e 2) modificar o controle acionário da Tele Norte Leste para dar mais poder ao governo. Fica claro que Clóvis Carvalho e FHC sabiam o que se passava. Nesse diálogo, Mendonça de Barros admite que a entrada da BNDESPar na Telemar era uma intervenção do governo, com o objetivo de comandar o processo a partir daí. André relata que acabara de falar com Malan. "Pega o Malan e o Pedro Parente, que são dois babacas", diz Mendonça. O ministro e André avaliam que Pedro Malan e Pedro Parente estariam muito envolvidos com o discurso privatista. "O Pedro Malan é um babaca que está sendo enganado", diz Mendonça. E completa: "(Malan) tá fazendo o lobby. E eu sei qual é o discurso: 'Nós aqui queremos privatizar'. Está errado tudo aquilo lá". André responde, concordando: "É impressionante". Ao longo desse diálgo, Mendonção chama Malan de "babaca" três vezes, sendo uma delas em conjunto com Pedro Parente. André acha que Malan está desinformado: "Não sabe nem o que está se passando. Eu vou te dizer..." André Lara Resende - Alô? Luiz Carlos Mendonça de Barros - Oi. André - Oi. Mendonça - Ligou o Clóvis (Carvalho, ministro da Casa Civil) aqui. André - Ahm? Mendonça - Falou: "O presidente pediu... que eu precisava interferir no Banco do Brasil". Eu falei: "Não, não precisa mais, não" (risos). André - Ahm... Não, me ligou o Malan agora. Mendonça - Ham? André - Aí, o Malan disse, olha, "não...", mesma coisa, o problema deles é que precisa o financiamento, tudo bem não teria problema nenhum em aceitar o acordo de acionistas, mas desde que desse o financiamento para a seguradora. Mendonça - Mas isso aí não precisa dar o financiamento. Dá a carta. André - Mas eu falei o seguinte: olha, mas é só eles me dizerem que não precisam. Mendonça - Isso. André - Eles dizem que não querem o financiamento, não precisam do financiamento, está resolvido. Mendonça - É. André - Então... porque... ô, Luiz Carlos, tem um problema, o seguinte. Nós estávamos pensando aqui, nós vamos ficar muito fragilizados depois do ponto de imprensa, do ponto de vista de percepção disso. Porque, do ponto de vista... vai aparecer o seguinte... da história complicada, ninguém aparece. Então, parece que nós fizemos o seguinte: nós implicamos com o Banco do Brasil... Mendonça - Não, mas aí deixa que eu dou uma declaração... André - ...Nós implicamos com o Banco do Brasil. Nós fomos lá e fizemos... igual eu falei com o Zé Pio: vai ter que explicar que não financia chapa branca, mas nós temos 25% do BNDESPar. Mendonça - Por isso aí, fala pro Pio ficar tranquilo que nós dois vamos dar uma declaração de imprensa. André - Pois é, então o que nós temos que fazer é o seguinte é dizer o seguinte: olha, realmente, nós temos que dizer o seguinte, o consórcio estava... não tinha um plano, estava meio desorganizado, e nós fizemos, em comum acordo com eles, numa pequena participação do BNDESPar de transitoriedade, reorganizar isso tudo e de paz... Mendonça - ...indicada pelo próprio Sistema Telebrás. André - Perfeito. Mendonça - Nós vamos fazer desse limão, vamos fazer uma limonada. André - É isso. Isso. Mendonça - Fala pro Zé Pio ficar calmo. André - Ele tá calmo, ele tá calmo. Agora, se nós, se nós, nós, nós financiarmos a seguradora do Banco do Brasil, depois de fazermos toda essa, esse, essa onda... Mendonça - É, mas faz... troca essa carta que, no fundo, não quer dizer nada, também. Porque eu não quero, 'cê entende? Olha, o negócio é mais complicado, André. André - Agora, eu também acho o seguinte, eu também acho que, se no último instante, que ele falou o seguinte: por que... qual é o problema de financiar? Eles não estão nem precisando do dinheiro? Mendonça - Eu sei, mas o problema é o seguinte. Aí ele (Clóvis Carvalho) me falou: "Estão com problemas com o Tribunal de Contas". E aquilo lá é uma mutreta, concorda? André - Claro, evidente. Mendonça - Pega o Malan e o Pedro Parente, que são dois babacas, faz aquele discurso privatista e monta uma mutreta. Depois, o que aconteceu? O Tribunal de Contas está enchendo o saco deles, tá? Então, o que ele falou é o seguinte: "Nós não... Se o BNDES disser que não dá dinheiro porque é uma empresa pública é um argumento para o Tribunal de Contas". André - É, mas nós dissemos isso tudo. O limite dos 25% é a mesma coisa. Mendonça - É isso aí. André - Só não dá dinheiro. Mendonça - "Nós não assinamos". 'Cê vê como ele falou. 'Cê vê? O que é bom, isso, é que vai revelando... (risos) Mas, tudo bem. Então, faz o seguinte: nós mandamos uma carta oferecendo e vocês dizem que não precisam. André - Não, e o Pedro Malan, ouve de lá, não sei se é gente de boa fé dizendo do lado de lá, que diz assim, não, como a coisa foi para a imprensa como se tivéssemos... nós que tivéssemos levado isso para a imprensa. Mendonça - O Pedro Malan é um babaca que está sendo enganado, ô André. André - É impressionante, pô. Impressionante. Mendonça - 'Tá fazendo o lobby. E eu sei qual é o discurso: "Nós aqui queremos privatizar". Está errado tudo aquilo lá. André - É impressionante, olha... Mendonça - Só não adianta, neste momento, querer resolver essas questões. André - Não, tá bom. Eu acho que, agora, nós temos que, nós temos que, nós temos é que fechar isso aqui hoje... Mendonça - E, outra coisa. É o (Ércio) Zilli que é presidente da empresa. André - Já falei isso aqui, viu. Mendonça - (risos) (inaudível) aceitou. André - É, eu já disse que é o Zilli... Mendonça - Porque agora nós temos que mostrar sinais do que realmente aconteceu. Foi uma intervenção e que nós vamos agora comandar o processo do coisa... André - Porque isso, se não... essas coisas ficam aqui... depois, o que estou dizendo é o seguinte... daqui para frente nós estamos ganhando uma batalha, que é assim, ganhando uma série de aporrinhações daqui pra frente que vai ser uma loucura. Mendonça - Ah, mas não tenha dúvidas. E não tem outro jeito? André - É, não tem. Mendonça - Não tem, porque a grande aporrinhação é esses caras fazerem uma cagada e nós vamos ser acusados de ter deixado, entende? André - É, não tem dúvida, não. Mendonça - Agora, que nós vamos ter aporrinhação, vamos, mas não tem outro jeito. Agora, por isso que é importante pôr o Zilli lá, que a gente tem absoluta confiança, e, mais importante do que isso, dá o sinal claro do que aconteceu. Ou será que os caras não vão entender? André - É, é. Mendonça - Ó, eu falei com o Atilhano (Atilano Oms Sobrinho, da Inepar) e tá todo mundo doce, 'cê entende? Agora, a resistência vem de onde agora? Do Banco do Brasil. André - Só, só. Mendonça - Que é onde tá o, o... André - O mais engraçado é que o próprio Carlinhos Jereissati já acalmou, já amansou. Mendonça - Lógico, já viu que ganhou. Agora, o problema é lá dentro. Daí vem Daniel Dantas, daí... passa pela Bahia a confusão (Daniel Dantas é da Bahia e ligado ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA); além disso a seguradora Aliança do Brasil, da qual o BB tem 40%, é contralada pelo grupo Aliança da Bahia). André - É... não tem dúvida nenhuma. Mendonça - Agora, o duro é ver o nosso ministro da Fazenda, babaca, dizendo... André - Não sabe nem o que está se passando. Eu vou te dizer... Tá bom. Agora vamos acertar aqui. Mendonça - Tá bom. André - Um abraço.
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