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Identificar usuário 'pop' e pagar para que internautas divulguem produtos ajuda empresários a lucrar com onda de exposição pessoal na rede
Fazer "selfies", ou seja, tirar fotos de si mesmo com celulares ou webcam, virou moda. Até os chefes de Estado Barack Obama (EUA), David Cameron (Reino Unido) e Helle Thorning-Schmidt (Dinamarca) se juntaram para fazer uma na semana passada, durante uma homenagem a Nelson Mandela.
Se as pessoas querem registrar sua presença até em cerimônia de homenagem a um líder morto, há espaço para negócios com o fenômeno. Enquanto o Instagram, o aplicativo mais famoso para postar autorretratos, começa a implementar anúncios, empreendedores brasileiros tateiam diferentes modelos de negócio para faturar com a exposição dos usuários.
O publicitário Felipe Venetiglio, 30, criou o aplicativo Dujour, que permite que os usuários mostrem aos seguidores como estão vestidos no dia. "As pessoas adoram receber avaliações sobre se estão no caminho certo ou não [com o vestuário]. O aplicativo só torna essa comunicação mais rápida", diz.
O app, que tem 115 mil usuários, é gratuito, mas fatura com marcas que desejam divulgar conteúdo na rede. Nas próximas semanas, será implementado um sistema em que as pessoas poderão acessar lojas on-line parceiras para comprar itens que viram no aplicativo --não está definido com quanto a Dujour vai ficar de cada venda.
Marcelo Pimenta, organizador do Laboratório de Start-ups da ESPM, diz que as empresas devem ter cuidado ao adotar esse tipo de método. "As companhias precisam criar estratégias para cada perfil de consumidor e, antes, saber o que eles desejam, principalmente em relação à privacidade", afirma.
Ele identifica três perfis básicos: os que gostam de se expor e buscam prestígio, os que têm interesses comerciais ou profissionais e aqueles só topam aparecer mediante alguma recompensa.
A Hookit, uma rede social de moda e design, aposta nesse último grupo. A página estimula os usuários a mostrar, em sites como o Facebook, produtos dos quais gostam. Em troca, ficam com uma comissão de ao menos 2% se um de seus amigos comprar o item na loja on-line indicada.
"Há uma predisposição das pessoas em revelar seus gostos. A ferramenta só estimula isso", afirma o presidente-executivo Vinícius Dambros, 35.
Por enquanto, o sistema ainda tem participação limitada: são 600 usuários e dez e-commerces parceiros.
Pimenta diz que a publicidade tradicional perdeu credibilidade. "Hoje, as pessoas acreditam nas recomendações de amigos." Portanto, é preciso fazer com que os clientes sinalizem que estão usando seu produto.
Pensando nessa lógica, a empresa Recomind criou um sistema para que os internautas troquem contatos de prestadores de serviços, como diaristas, manicures e até médicos. No site, amigos contam que precisam de ajuda e recebem indicações de profissionais, que são avaliados.
A empresa fatura com o subsídio de empresas que pagam pela criação de perfis de profissionais de seus setores no site. O presidente-executivo Juliano Martinez, 30, classifica essas páginas como um "LinkedIn de pedreiro".
A companhia, que recebeu investimento de R$ 1 milhão do Buscapé, começou a funcionar em meados do ano passado e tem 30 mil usuários e 180 mil recomendações.
Lucas de Paula Lima, sócio da agência digital DBR, conta que empresas que desejam explorar o conteúdo produzido pelos usuários sobre a sua marca devem monitorar as redes e identificar quais são os internautas que influenciam os outros --e propor parcerias. "Também é importante mensurar que tipos de compartilhamentos geram engajamento e aumento de vendas", diz.
Thiago Di Fiore, 27, sócio da produtora de filmes Contém Conteúdo, resolveu criar este ano sua distribuidora, a Maff, usando uma loja que funciona dentro do Facebook.
Ele aposta na "viralização" (popularização) gerada pelos comentários dos usuários para divulgar o produto --ele dá desconto para quem postar na rede social que efetuou uma compra.
"Recebi mensagens da Paraíba, de uma turma do ensino médio que assistiu um dos nossos filmes sobre a obra de Machado de Assis, incluindo vídeos com comentários dos alunos", conta.