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Gente estranha com negócio esquisito

Start-ups com propostas fora do comum recebem investimento e procuram espaço no mercado

REINALDO CHAVES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Existe no país uma start-up (empresa tecnológica iniciante) para controlar o uso de lentes de contatos e enviá-las pelo correio antes que o estoque do consumidor acabe.

Em São Paulo, um empreendedor lançará um revestimento de plástico para proteger o dedo do cliente enquanto ele digita a senha em máquinas compartilhadas.

A princípio, essas ideias podem parecer estranhas, mas já receberam investimento e ambas são consideradas promissoras pelo mercado.

Produtos ou serviços inovadores, ou mesmo engraçados, têm chance de sucesso, mas precisam resolver problemas ou demandas do consumidor. O diretor-executivo da eÓtica, Bruno Ballardie, 29, por exemplo, viu uma oportunidade assim.

"Descobri que quem usa lente de contato esquece com frequência de comprar uma nova. No Brasil, o tipo mais usado é a lente que dura um mês. Nosso site administra a compra e a entrega do produto. Já contamos com 2.000 assinantes", destaca.

Com a ideia, a empresa já recebeu sua primeira rodada de investimentos da Kaszek Ventures e do investidor-anjo Kai Schoppen. Os valores não foram divulgados.

CAMISINHA PARA O DEDO

Problemas pessoais também inspiram start-ups estranhas. O engenheiro mecânico Patrick Hunaudaye, 50, lembra que, em 2011, sujou as mãos quando estava pagando uma compra em um supermercado. "A maquininha do cartão estava imunda. A caixa até fez uma brincadeira desagradável, dizendo que uma cliente que usou o terminal antes estava com conjuntivite", lembra.

Hunaudaye iniciou uma pesquisa. Descobriu que médicos infectologistas consideram que grande parte das doenças são transmitidas pelo toque e que os terminais de senha são apontados como propícios para proliferar micro-organismos, pois são quentes, têm ranhuras e não são limpos em profundidade.

Ele e a mulher Maria Fernanda Goulène, 41, criaram a start-up PAT (Proteção ao Toque), que desenvolveu o que seus inventores chamam de "camisinha para o dedo", isto é, uma pequena luva para o dedo indicador. O produto foi criado em março do ano passado e pode ser vendido em rolos individuais descartáveis ou em versão de caixinha para levar no bolso.

"Já temos a patente nacional e recentemente conseguimos a internacional. Empresas devem lançar o produto comercialmente neste ano."

OVO DE COLOMBO

Outra dificuldade pessoal foi a inspiração para a criação da empresa ColOff. A instrumentadora cirúrgica Carolina Fagundes, 37, descobriu em 2007 que sua mãe Ivonice Satie estava com câncer de colo-retal e a forma correta de tratamento só podia ser descoberta com um exame muito preciso para detectar sangue nas fezes.

Então, Fagundes desenvolveu um revestimento de assento sanitário que ajuda a coletar o material. A invenção impede que os detritos entrem em contato com a água e o vaso sanitário. Junto com o marido Eliezer Dias, 36, ela criou a empresa ColOff.

No ano passado, venceu o Desafio Brasil, um dos concursos de start-ups mais conhecidos do país, e ganhou uma vaga na competição mundial de start-ups em Berkeley (EUA). O produto é usado no hospital Albert Einstein e vendido em drogarias por R$ 2,50. "Foi como um ovo de Colombo. Todos afirmam que a ideia é muito simples, mas ninguém a enxergou antes", comenta Dias.

MALUCOS

Sergio Risola, diretor-executivo do Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia), da Universidade de São Paulo, afirma que toda semana recebe pelo menos uma proposta de start-up estranha para analisar. "Minha primeira reação é tentar descobrir se o cara é normal ou não. Recebemos muitas pessoas excêntricas."

Ainda segundo ele, o caminho que faz para escolher quais start-ups serão incubadas é conversar com o futuro empreendedor para conhecer currículo, experiência no mercado e detalhes da ideia. Uma falha comum de muitos candidatos é que eles não sabem explicar o projeto.

"Propostas muito inovadoras têm mais riscos, por isso muitos desistem. Mas para aqueles que insistem e verificamos que têm potencial, fornecemos 15 dias de aulas para que eles aprendam a fazer um plano de negócio."

O diretor da DGF Investimentos Patrick Arippol diz que a visão do "Professor Pardal" não funciona no mercado. "O futuro empreendedor tem que demonstrar que consegue resolver um problema concreto e a maneira de executar isso em escala."

Para Arippol, que ajuda a administrar R$ 500 milhões de fundos, o investidor procura características comuns: o empreendedor tem que demonstrar como irá faturar com sua ideia, mostrar possíveis clientes, provar que seu produto interessa ao mercado e saber de quanto dinheiro precisa. Em dois anos, ele analisou mais de mil projetos e fez só três investimentos.

Apesar dessa dificuldade maior para os produtos ou serviços estranhos, Risola cita um diferencial. Ele destaca que a maioria das start-ups atuais "segue a corrente", isto é, nasce para atender um mercado já consolidado ou apenas copiam ideias de sucesso no exterior.

"Sem dúvida isso diminui riscos, mas em contrapartida a competição e os gastos com marketing são bem maiores. Já uma ideia muito inovadora, se for viável, tem um potencial enorme", destaca.

MIRANDO O FUTURO

Uma proposta que lembra um filme de ficção científica move outra empresa. A start-up DB Genética tenta realizar no Brasil uma mescla de modelo de negócio já existente fora do país com uma inovação tecnológica.

A empresa irá comercializar testes genéticos para medir a probabilidade de recém-nascidos terem características como calvície, habilidade para esportes, memória e intolerância à lactose. Nos EUA, a empresa mais famosa nesse modelo é a 23andMe.

"Nossa intenção é alertar com antecedência para possíveis problemas. Isso ajuda a montar as rotinas necessárias para evitar ou minimizar sofrimentos às crianças", afirma André Ribeiro, 29, um dos sócios da DB Genética.

A próxima inovação buscada, em parceria com a start-up americana Natera, será traçar as características ainda durante a formação do feto. A DB Genética foi aceita no Cietec no ano passado.

Ribeiro e seu sócio Ricardo Di Lazzaro Filho, 26, criaram um plano de negócios para buscar uma subvenção na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e o apoio de investidores. Uma das dificuldades encontradas foi estimar o tamanho de mercado para os testes genéticos. "Empresas muito inovadoras têm essa dificuldade comum para medir o interesse por produtos novos. Fizemos uma estimativa baseada em quanto o brasileiro gasta com saúde."

EU QUERO TCHÚ

Entre as start-ups digitais também existem casos de empresas que tentam caminhos estranhos. A Meu Karaokê foi criada em junho como um site para que internautas compartilhem suas performances como cantores.

Seu fundador é Mauricio Anthony Neres, 32, que trabalhou em empresas do ramo de tecnologia nos EUA, como a Amazon. A primeira música publicada foi "Eu Quero Tchú, eu Quero Tchá", de João Lucas e Marcelo. "Enviei o link do site para meu sobrinho em Porto Seguro (BA) e, em duas semanas, metade do colégio dele tinha gravado uma versão e criado uma página no Facebook", lembra.

O site tem cerca de 3.500 acessos mensais. Foram investidos aproximadamente R$ 40 mil de capital próprio, que a empresa espera recuperar até 2014. O site ainda não cobra assinaturas e negocia com um investidor.


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