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O Brasil que treme

Sismólogo conta em livro a história dos abalos que atingiram o Rio Grande do Norte nos anos 80 e resgata a trajetória das pesquisas sobre terremotos no país

SALVADOR NOGUEIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Toda vez que se ouve falar de tremor de terra no Brasil, as pessoas estranham. Afinal, faz parte do senso comum dizer que o país é livre de terremotos. Mas nada poderia estar mais longe da verdade.

Para acabar de uma vez com esse mito, o sismólogo José Alberto Vivas Veloso escreveu o livro "O Terremoto Que Mexeu com o Brasil".

Centrada principalmente na série de abalos que atingiu a cidade de João Câmara, no Rio Grande do Norte, sobretudo o grande tremor de 30 de novembro de 1986, a obra vai muito além disso.

Ela resgata uma longa história do estudo dos terremotos brasileiros, que remonta ao tempo do Império. Coube a Dom Pedro 2º ordenar a realização da primeira pesquisa sismológica nacional.

O imperador, sempre interessado em assuntos de ciência, passou da curiosidade à preocupação no dia 9 de maio de 1886. Em seu palácio em Petrópolis, às 15h, ele sentiu a terra tremer.

O soberano julgou importante reportar o caso em detalhes e, com isso, tornou-se o primeiro brasileiro a publicar na prestigiosa revista científica britânica "Nature".

DE LÁ PARA CÁ

Com uma prosa envolvente, Veloso, pesquisador aposentado pela UnB (Universidade de Brasília), conduz o leitor pela história dos primeiros estudos brasileiros de terremotos antes de mergulhar na sismologia do Nordeste e então esmiuçar o caso de João Câmara.

"Meu livro mostra que não só existem terremotos no Brasil, como eles podem trazer problemas às pessoas e às cidades", afirma o autor. "O principal tremor de João Câmara, com magnitude 5,1, danificou mais de 4.000 construções e criou um contingente de 26 mil desabrigados."

Veloso tem autoridade para relatar o caso, tendo sido um dos membros da equipe científica despachada para a região na época dos abalos.

É uma experiência pessoal impactante chegar a uma região remota e explicar que aqueles abalos não são castigos de Deus ou coisa que o valha, conta.

"Não dá para ser um cientista de sangue frio o tempo todo", diz Veloso. "Na experiência de acompanhar sequências sísmicas com duração de dias e semanas no Rio Grande do Norte, no Ceará, em Pernambuco e em Minas Gerais, particularmente em cidades pequenas, percebi que logo surge uma afetividade entre o sismólogo e os habitantes locais."

O pesquisador passa a ser uma referência para orientar a população. "Aí a responsabilidade aumenta, porque você não está apenas registrando abalos de terra, mas lidando com a segurança e o bem-estar das pessoas."

A mais importante mensagem do livro, contudo, é mostrar que o episódio de João Câmara não se trata de um caso isolado.

"Abalos desse tamanho acontecem a cada cinco anos em algum lugar do Brasil. Onde, ninguém sabe", afirma Veloso. "O que temos de fazer é continuar monitorando e estudando os nossos tremores, porque eles continuarão acontecendo."

Exemplos claros disso podem ser resgatados do ano que passou. Em 2013, o Brasil viu vários tremores em Montes Claros, no norte de Minas Gerais. Casas racharam, outras foram destelhadas e algumas chegaram a ser interditadas pela Defesa Civil. "A população ficou sobressaltada com tais tremores", lembra Veloso.

Nos últimos meses do ano, foi a vez de Pedra Preta (RN) sentir a terra tremer. É uma região bem próxima de João Câmara. "Surgiram rachaduras nas casas e a população entrou em pânico", diz o sismólogo.

O livro traz, além de relatos pormenorizados dos tremores históricos brasileiros, apêndices que explicam a ciência por trás dos terremotos, das placas tectônicas às formas de medir os abalos. Há também um vídeo em DVD com imagens captadas em João Câmara nos anos 1980.


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