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Biólogos investigam doença de focas no Ártico
Ausência de barreira de gelo pode ter desencadeado contágio entre diferentes espécies
Esqueça os ursos polares por ora. Há outros espectros rondando o Ártico, e as focas --vítimas de doenças misteriosas que estão aparecendo por lá-- merecem a atenção dedicada a seus predadores e ao derretimento do gelo em torno do polo Norte.
O encolhimento da calota de gelo no verão ártico bateu recordes em 2007 e 2012. O ar na região está 2ºC mais quente que em meados da década de 1960. Os cientistas apelidaram a situação de "nova norma" para o Ártico.
No centro da preocupação está a foca-anelada (Pusa hispida, ou Phoca hispida). É um dos mamíferos mais abundantes acima do Círculo Polar Ártico, com uma população estimada em mais de 1 milhão de animais.
A partir de 2011, várias delas foram encontradas com uma doença grave, prostradas e incapazes de fugir de seres humanos. Já foram registradas mais de 400 mortes.
O enigma foi apresentado no encontro anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), em Chicago, por Raphaela Stimmelmayr. A veterinária é a encarregada pelo Departamento de Vida Selvagem do Alasca de investigar o "evento incomum de mortalidade".
Ninguém sabe o que está causando a enfermidade das focas-aneladas, mas já se descobriu que sintomas da mesma doença estão aparecendo em focas de outras espécies, como a foca-barbuda (Erignatus basbatus) e a foca-listada (Histriophoca fasciata).
Seria essa nova doença um sintoma dos impactos da "nova norma" sobre os mamíferos do Ártico? Stimmelmayr responde: "Não sabemos".
Outra espécie que passa por um mau momento é a foca-cinzenta. Cerca de 400 animais morreram em março de 2012 na ilha Hay, que pertence ao Canadá, infectadas por um parasita que destruíra seu fígado. O grupo do parasitologista molecular Michael Grigg, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, verificou que se tratava de um protozoário similar a um que infesta cães. A nova cepa, endêmica do Ártico, foi batizada de Sarcocystis pinnipedi.
Grigg descobriu que o S. pinnipedi também infesta as focas-aneladas, mas elas parecem ter imunidade a ele, ao contrário das cinzentas, que vivem mais ao sul.
A equipe agora investiga se as aneladas não seriam a fonte de infecção das cinzentas. A hipótese é que as duas populações, antes isoladas por grande quantidade do gelo, passaram a nadar e a caçar nas mesmas águas. Como não tinham contato com o parasita, as focas-cinzentas nunca precisaram desenvolver defesas contra ele.