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Ciência + Saúde

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Opinião

Pesquisador que joga mais para torcida também pode fazer gols espetaculares

MARCELO LEITE DE SÃO PAULO

Acompanho as pesquisas de Miguel Nicolelis sobre interfaces cérebro-máquina pelo menos desde 2003, se bem que com menos admiração nos últimos anos. Quanto mais espetaculares se tornavam as promessas, menos relevância científica via nelas.

Fazer um menino ou menina incapaz de locomover-se levantar da uma cadeira de rodas e dar o pontapé inicial do jogo de abertura da Copa do Brasil, se isso de fato ocorrer, não será um feito trivial. Pouco importa, para o público, quais técnicas e aparelhos serão escalados.

Entretanto, essas coisas importam para a percepção que o público tem da ciência. Nesse campo, não há milagres. Há engenho, trabalho duro e avanços incrementais.

É preciso dizer: a maioria dos meninos paraplégicos de hoje crescerão e verão sua juventude esvair-se da perspectiva de uma cadeira de rodas.

Muitas décadas serão necessárias para desenvolver as tecnologias necessárias para que ganhem autonomia bípede e para que elas se tornem acessíveis a todos. Isso se estudos com exoesqueletos robóticos e células-tronco de fato renderem frutos maduros.

A troca de eletrodos por eletroencefalografia também importa, muito, para a própria ciência. Não tanto pela reviravolta de Nicolelis, pois ninguém deve ser execrado, nem o mais arrogante intelectual, por mudar de ideia.

A importância está em que, com o abandono dos eletrodos, perde-se também o mais cativante na visão de Nicolelis: tornar atos de vontade humana executáveis, com minúcia, por uma máquina.

Esse sonho, como gosta de dizer o cientista palmeirense e petista roxo, nem por isso está arquivado. Apenas não se tornará realidade, em junho, no jogo do Itaquerão.

Proponho, no entanto, uma questão talvez mais fundamental: se um dispositivo técnico for capaz de fazer um menino andar, com um mínimo de destreza, importará tanto assim que só 10% dos comandos partam de seu próprio cérebro e os restantes 90%, da inteligência encarnada na própria máquina?


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