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Entrevista Ric O'Barry

Fim de caça às baleias pode elevar matança de golfinhos

CONSERVACIONISTA AMERICANO DIZ QUE PROIBIÇÃO NO JAPÃO PODE TER IMPACTO SOBRE OS ANIMAIS QUE ELE DEFENDE HÁ ANOS

SILVIO CIOFFI ADRIANA FARIAS DE SÃO PAULO

O conservacionista norte-americano Ric O'Barry, 74, dedica sua vida a combater a carnificina a que são submetidos os golfinhos em Taiji, no oeste do Japão. Ali, ocorre uma forma de pesca em que golfinhos são conduzidos por barcos a uma área da qual não podem escapar, onde dezenas ou até centenas de animais são capturados.

Os golfinhos são sacrificados para o comércio de sua carne ou vendidos para aquários de todo o mundo. Na cidade de Taiji, a pesca é legal e o consumo de carne de golfinho se baseia em uma tradição de muitos anos, embora no resto do país ele seja menos comum.

Agora, diante da proibição da caça às baleias que a Corte Internacional de Justiça impôs ao Japão, nesta semana, ele teme que a medida tenha como consequência o aumento da matança de golfinhos.

A decisão determinou a interrupção da caça às baleias iniciada pelos japoneses no final dos anos 1980. O Japão sempre advogou que a caça tinha propósito científico.

Ric também é crítico de shows com golfinhos e orcas nos EUA. No final dos anos 1960, ele capturou e treinou as cinco fêmeas de golfinhos usadas na série televisiva "Flipper", mas mudou de lado no dia em que uma delas morreu em suas mãos. Depois, integrou a produção do documentário "The Cove", vencedor do Oscar em 2010, que denunciou a matança dos golfinhos em Taiji. Veja trechos da entrevista à Folha.

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Folha - Que consequências o veto à caça às baleias na Antártida pode ter no Japão?
Ric O'Barry - Embora seja bom que a caça na Antártida seja reduzida pela Corte Internacional de Justiça, temos que ver o que fará a Agência Japonesa de Pesca diante disso. Acredito que a decisão pode aumentar a pressão sobre os golfinhos, assim como aconteceu quando a moratória sobre a caça comercial de baleias entrou em vigor nos anos 1980. Na época, a agência aumentou substancialmente a cota para a matança de golfinhos no Japão. Se o governo fosse inteligente, desistiria de matar cetáceos. Seriam vistos como heróis do mundo, em vez de zombar das leis com essas desculpas de que matam mamíferos marinhos "com propósitos científicos".
Acho que essa é uma grande oportunidade para o Japão repensar sua relação com o mar, com os peixes, os recursos oceânicos naturais, as baleias e os golfinhos.

A medida terá impacto global?
Felizmente, isso pode fazer que menos nações usem o argumento de que fazem ciência como desculpa para matar mamíferos marinhos inteligentes e dotados de comportamento social como são as baleias e os golfinhos.

Quais espécies de cetáceos estão em perigo agora?
Muitas espécies de baleias grandes foram caçadas até quase a extinção ao longo dos últimos 300 anos. Algumas delas estão se recuperando. As mais ameaçadas são as baleias-francas, que eram espécies costeiras que nadavam lentamente e eram as mais fáceis de se matar. Só algumas populações ao redor do mundo estão seguras.
As baleias-azuis na Antártida foram igualmente vitimadas pela caça indiscriminada --e não mostraram sinais de recuperação ainda. Claro, há muitas espécies de golfinhos em perigo ao redor do mundo devido também à poluição, aos danos nos rios e às barragens --isso vale para as espécies de golfinhos de rio que existem no Brasil, por exemplo--, sem mencionar os que morrem presos em redes de pesca.

Algumas fontes estimam que o Japão matou cerca de 10 mil baleias entre 1989 e 2009.
Sua cota anual inicial foi da ordem de centenas de baleias. Depois, conseguiram licença para matar mil animais por ano. É claro que, devido à interferência da sociedade conservacionista Sea Shepherd contra os baleeiros, só foram capazes de matar algumas centenas por ano.
Quanto aos golfinhos, cada temporada de Taiji mata tantos golfinhos quanto a frota da Antártida mata de baleias a cada ano. Mas o tamanho não importa. O Japão está permitindo o massacre de milhares de animais por ano ao redor de suas margens. É horrível do mesmo jeito.


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