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Cientistas descobrem genes relacionados a aroma e sabor do café

Grupo internacional de pesquisadores, que inclui agrônomo brasileiro, sequenciou genoma do cafeeiro

Estudo publicado na "Science" deve ajudar a melhorar a qualidade do café e tornar a planta mais resistente

REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um consórcio internacional de pesquisadores, do qual participa um agrônomo da Embrapa, acaba de publicar os resultados da "leitura" completa do genoma do cafeeiro --feito que deve melhorar a qualidade do café e ajudar a planta a enfrentar doenças e desafios climáticos.

A espécie escolhida para o estudo é a Coffea canephora, também conhecida como "robusta" ou "conilon", presente em cerca de 30% dos cafezais no Brasil e no mundo. É conhecida por ser mais resistente e por dar origem a uma bebida de qualidade um pouco inferior à que vem da C. arabica, espécie que predomina no mercado hoje.

Mas acontece que a C.a arabica descende do cruzamento da C. canephora com outra espécie. E a C. arabica tem um genoma complexo e híbrido, mais difícil de estudar, o que deve fazer com que o estudo que sai nesta semana na revista "Science" se torne a base do conhecimento sobre o DNA da planta.

"Quando você vai tentar fazer a montagem do genoma do C. arabica [ou seja, colocar as "letras" de DNA na sequência correta], acaba aparecendo um problema: em certas regiões, a similaridade entre os dois subgenomas, cada um herdado de uma espécie diferente, é enorme. Aí você não sabe a qual deles aquele trecho pertence", explica Alan Carvalho Andrade, da Embrapa de Brasília, que assina a pesquisa.

De posse do genoma do C. canephora, é possível escapar dessa confusão, o que ajuda tanto a mapear corretamente o DNA da planta mais cultivada quanto a guiar com mais precisão o melhoramento genético do vegetal.

"O que deve acontecer é parecido com o que vemos na área médica: assim como você pode analisar o DNA de um paciente e estimar a probabilidade de ele desenvolver algumas doenças, vamos poder genotipar' as plantas e estimar seu potencial."

O avanço das técnicas de leitura do genoma também tem permitido que esse processo seja feito num número muito maior de plantas, a um custo cada vez menor, o que aumenta a confiabilidade das análises, diz ele.

AROMA E SABOR

No genoma descrito em estudo na revista "Science", a equipe identificou, por exemplo, genes cruciais para o aroma do café e para a retenção do sabor depois que os grãos são torrados.

Mas uma das principais surpresas tem a ver com a cafeína, componente da planta que já chegou a ser descrito como a droga psicoativa mais consumida do mundo.

A substância também está presente no cacau e nas folhas de chá, por exemplo. No entanto, a equipe descobriu que os genes do cafeeiro que contêm a "receita" para a produção da cafeína evoluíram de forma independente e em velocidade acelerada.

Essa história evolutiva, originalmente, não tinha nada a ver com ajudar humanos a encarar mais um dia de trabalho: a cafeína funciona como inseticida (nas folhas) e atrapalha a germinação de plantas concorrentes (nos frutos e sementes).

Andrade afirma que a equipe da Embrapa já está usando os dados do genoma para identificar plantas com maior capacidade de resistência à seca, por exemplo. "Com as mudanças climáticas, isso deve ser cada vez mais importante", aponta. Parte do trabalho tem sido feito em parceria com a Nestlé.

"Hoje a gente já consegue gerar uma variedade melhorada para ser testada em campo com base nesses dados. Outra coisa muito importante é que o genoma também nos ajuda nos cruzamentos, para produzir híbridos com o máximo de diversidade genética", afirma Andrade.


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