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Rock'n Cosmos

Festival em Tenerife reúne o físico Stephen Hawking, o guitarrista Brian May e outras estrelas da música e da ciência para debater as origens do Universo

LUISA BELCHIOR MOSKOVICS ENVIADA ESPECIAL A TENERIFE

Em uma ilha vulcânica no oceano Atlântico, o ex-guitarrista da banda Queen, Brian May, também doutor em física, mostrava imagens estereoscópicas (que criam a ilusão de tridimensionalidade) do Universo para 600 pessoas com óculos especiais.

Na plateia, estavam dois astronautas que já pisaram a Lua e o físico Stephen Hawking, que acabara de atracar após cinco dias navegando.

Depois de assistir no Reino Unido a uma sessão do filme "Theory of Everything", que retrata sua vida e ainda não tem data de estreia no Brasil, Hawking embarcou em um cruzeiro --o primeiro de sua vida-- rumo à ilha.

Lá, por uma semana, dividiu a mesa de café da manhã com prêmios Nobel e bateu papo, por meio do computador que usa para se comunicar, com jovens mestrandos em matemática. "Você tem sorte, meu pai não me deixou estudar matemática", disse Hawking a um deles.

O cenário inusitado culminou com uma reunião à meia-noite, a 2.400 metros de altitude, para uma festa em escuridão total. O programa incluía ver estrelas, observar meteoros por grandes telescópios e, por que não, assistir a um show de rock comendo tapas espanholas.

A miscelânea é o festival Starmus, encontro trienal de astronomia, ciência e música que teve sua segunda edição na semana passada na ilha de Tenerife, parte das Canárias, arquipélago 320 km ao noroeste da África. Com o terceiro maior vulcão do planeta, o local abriga o Observatório de Teide, um dos principais pontos de observação astronômica do mundo.

Orçado em € 500 mil (R$ 1,5 milhão), o Starmus uniu músicos, astronautas, físicos, químicos e astrônomos para opinar sobre a origem do Universo e seu futuro.

A primeira versão do festival, em 2011 --quando Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar a Lua, fez sua última aparição pública-- reuniu quase cem pessoas. Nesta edição, 800 inscritos pagaram € 300 (R$ 923) para assistir a 13 palestras de nomes como Richard Dawkins, polêmico biólogo evolucionista, Harold Kroto, Nobel de Química, e os astronautas Charlie Duke e Walt Cunningham, que já pisaram a Lua.

Todos, durante os seis dias do festival, se misturavam aos participantes do congresso.

Na plateia e de camiseta de manga curta, Kroto conversava com dois jovens, enquanto quase metade do auditório fazia "selfies" com Hawking.

"Só de ver esse número colossal de pessoas vale a pena estar aqui. A astronomia atrai as pessoas para a verdadeira ciência", disse à Folha, com ironia, o inglês Harold Kroto, Nobel em 1996 por descobrir a "bucky-ball", molécula em forma de bola de futebol com 60 átomos de carbono.

Hawking, o mais aguardado, recomendou à plateia: vejam televisão. Mas não algum programa, e sim um canal fora do ar para observar os chuviscos da tela. Essa imagem é na verdade a antena da TV captando radiação remanescente de quando o Universo tinha menos de 400 mil anos.

Já o Nobel de Física John Mather anunciou um trágico fim para a vida no planeta dentro de 1 bilhão de anos, quando, segundo ele, o Sol se aquecerá até tornar impossível a vida humana. A "boa notícia", disse, é que robôs serão capazes de habitar a Terra em nosso lugar.

O físico apresentou o telescópio James Webb, sucessor do Hubble, que a Nasa está construindo, capaz de ver luz infravermelha. "Veremos a luz em mais cores do que nosso olho é capaz de enxergar."

Brian May, do Queen, conduziu o auditório por uma viagem virtual, revelando, com montagens que transformavam imagens planas em tridimensionais, crateras profundas e nuances de cor na Lua. De blusa com desenhos de estrelas, ele defendeu a miscelânea do festival.

"No colégio me diziam que eu não podia ser artista e cientista, tinha que escolher. Mas os vitorianos eram os dois e por isso eles fizeram tantas descobertas em tão pouco tempo", afirmou antes de seu show de rock.


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