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Nina Horta

Fãs de farinha

Eu poderia viver de farofa. Adoro, sei que não tem vitaminas, mas quem é que quer comer vitaminas?

Depois da leitura do "Formação da Culinária Brasileira", do sociólogo Carlos Alberto Dória, tive uma recaída de burrice e comecei a estudar o Brasil de novo --se é que estudei algum dia.

Vejam no blog, estou pra lá de assanhada com a escravatura e com a farinha de mandioca, culpa dele.

E, lê daqui e dali, achei que se queremos ser tão brasileiros e tão autênticos, estamos nos esquecendo da farinha de mandioca (da de milho também). Esquecendo, propriamente, não, tomando-a como tão evidente e óbvia que quase não a enxergamos. Fiz uma pesquisa sobre farinha e farofa no Facebook e é muito engraçado, todo mundo simplesmente adora uma farinha! Farinha sempre teve uma importância ímpar, coisa de causar guerras, meu reino, meu engenho, meu apartamento por um quilo de farinha!

Ainda há mesas onde vai a farinheira em todas as refeições, mas são poucas. Aqui em casa foram suprimidas, ponho numa garrafa antiga, mas acho que vou voltar às raízes da farinheira de madeira, pois já vi que ultimamente ela tem estado numa garrafa de Coca-família, que, convenhamos, é demais. Alguma coisa está errada, se gostamos tanto de farinha, de farofa, por que são tão pouco vistas nas casas mais ricas, nos restaurantes, nos pratos modernos de cozinheiros famosos?

Eu poderia viver de farofa. Adoro, sei que não tem vitaminas, mas quem é que quer comer vitaminas? Quero mais o que é gostoso, maravilhoso.

Durante os quase 30 anos de bufê sempre tive briga com os cozinheiros por causa dela. Na minha família farofa é uma coisa quente, muito quente, feita geralmente com manteiga em frigideira. Se você prova a farofa ainda na frigideira ela faz zzzzz na sua língua. Farofa simples, sem nada. Feita na hora. Tem que ser. Jamais se convenceram do contrário, imagino que não seja teimosia, que seja um costume e daqueles costumes impossíveis de se ir contra. (Aliás, um dos meus consultados no "Face" confessou que adora farofa gelada. Mas só um.)

Num dia de aniversário, já indo me deitar, recebi visitas de surpresa para jantar. Fui ao freezer e desgrudei com machadinha uns camarões, queria fazê-los à provençal, só com manteiga e alho, muita salsinha e limão. E não tínhamos arroz e aquele caldo todo. Pois tive coragem de servir com farinha de mandioca, nada de farofa, farinha mesmo, e ficou bom. Melhor do que com arroz.

O Miltinho, dono de um dos bons restaurantes de Paraty, me ensinou a fazer um acompanhamento para peixe que é o seguinte: pegar uma farinha boa e ir pingando nela suco de limão e salsinha até virar um pirão mole que vai às mil maravilhas com qualquer peixe.

E uma menina do bufê, baiana, pegava uma frigideira, punha água, deixava esquentar e juntava farinha, e ficava mexendo, deixando a farinha se impregnar de água, inchar. Ao mesmo tempo, ia temperando com salsinha ou coentro, sal e, quando achava que estava bom, abria um ovo dentro, bem no meio, e ele se cozinhava naquele pirão quente. Quando tinha torresmos, juntava alguns. "Cucina povera", mas sensacional.

Entrem no blog, há jeitos de comer farinha pra lá de insuspeitados.

ninahorta@uol.com.br

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ninahorta.blogfolha.uol.com.br


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