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Opinião

A ignorância é uma bênção e pode nos livrar de preconceitos

JOSIMAR MELO CRÍTICO DA FOLHA

Não tenho dúvidas: para muita gente, a ignorância é uma bênção na hora de comer. Por exemplo, tanta gente adoraria a delicadeza da carne de rã ou a textura única de uma boa língua, se não soubesse o que é.

A ideia de comer o sêmen humano, por exemplo, causa arrepios a muita gente. Até mesmo, imagino, a quem come e aprecia sêmens e correlatos de outros animais --as gônadas de peixe (deliciosas, os japoneses gostam, embora poucos restaurantes sirvam aqui; comi não faz muito tempo no Sakagura A1); de bovinos, ovinos, aves (os testículos); de frutos do mar (o delicado uni, do ouriço-do-mar; o coral das vieiras).

Curiosamente, há uma especial aflição por nossos excrementos e fluidos corporais --que na infância são obras tão queridas... Se considerarmos que nosso primeiro alimento é um fluido desses, até que deveríamos estar mais acostumados com eles. A ignorância sobre suas origens talvez mais uma vez nos livrasse de preconceitos. Que, por sinal, nem todos têm.

Assim como em culturas diversas se podem comer ingredientes que em outras são repulsivos (larvas vivas, por exemplo), em uma mesma cultura cada pessoa pode ter preferências variadas. Inclusive pelo sêmen humano.

Muitos anos atrás uma revista de gastronomia com a qual eu colaborava perguntou a uma grande sambista o que ela gostaria de comer ou beber, se esta fosse a sua última refeição.

"Um copo de sêmen", ela respondeu prontamente (embora com termo mais chulo). O editor preferiu não publicar. Mas garanto que muitos leitores e leitoras com ela se identificariam sem problema.


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