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Autor de "Ronda", Paulo Vanzolini morre aos 89 anos

Um dos ícones do samba paulista, ele estava internado com pneumonia; velório e enterro ocorrem hoje em SPPaulistano também era um zoólogo renomado e ajudou a desenvolver uma teoria sobre evolução de espécies

DE SÃO PAULO

O compositor e zoólogo Paulo Vanzolini morreu ontem aos 89 anos, vítima de complicações decorrentes de uma pneumonia. Ele estava internado desde a noite de quinta --dia 25, seu aniversário--, na UTI do hospital Albert Einstein, em São Paulo.

O velório, para a família, será hoje no Einstein. O enterro, no mesmo dia, será no Cemitério da Consolação.

Deixa mulher, a cantora Ana Bernardo, e cinco filhos do primeiro casamento.

Ícone do samba paulistano, criou clássicos como "Ronda", "Volta por Cima" e "Praça Clóvis", interpretados por Chico Buarque, Maria Bethânia, Paulinho da Viola e outros nomes da MPB.

No mês passado, Vanzolini foi um dos 87 artistas a se apresentar em evento no Teatro Oficina para arrecadar fundos para reformar e ampliar a Casa de Francisca, pequena casa de shows paulistana. Também em março, recebeu o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) pelo conjunto da obra.

Compositor bissexto, de músicas que chegavam a demorar um ano a ficar prontas, Vanzolini não tocava nenhum instrumento (para escrever as canções, entoava-as a amigos músicos) e tinha, assumidamente, um "grande problema com a afinação" (como disse em entrevista ao "Jornal do Brasil", em 1970), mas se firmou como um grande compositor de samba.

Compunha nas horas vagas do trabalho como zoólogo --de renome internacional-- especializado em répteis. Com doutorado em Harvard, Vanzolini foi por três décadas diretor do Museu de Zoologia da USP, onde trabalhou por mais de 50 anos.

Ao lado do geógrafo Aziz Ab'Sáber (1924-2012), trabalhou em teoria sobre desenvolvimento de espécies que ajuda a explicar a rica biodiversidade da Amazônica.

"Não tenho carreira de compositor. Música, para mim, é um hobby. Trabalho 15 horas por dia como zoólogo, adoro minha profissão. Não sei cantar, nem sei a diferença entre o tom maior e o menor", disse, em 97, à Folha.

Filho do engenheiro Carlos Alberto Vanzolini, Paulo Emílio Vanzolini nasceu em São Paulo em 1924 e morou, dos quatro aos seis anos no Rio.

Desde cedo, habituou-se a ouvir sambas no rádio. Ao entrar na Faculdade de Medicina da USP, em 1942, aos 18 anos, passou a frequentar rodas de samba.

Antes mesmo de concluir o curso universitário, ingressaria como pesquisador no Museu de Zoologia.

Em 1948, casou-se com Ilze, secretária da reitoria da USP, com quem teria cinco filhos, incluindo o diretor de cinema Tony Vanzolini, sócio da Conspiração Filmes. Embarcou com Ilze para os EUA, onde faria o doutorado e conviveria com músicos de jazz.

A primeira composição, "Ronda", é de 1951, ano em que também publicou o volume de poemas "Lira", pelos Cadernos do Clube de Poesia de São Paulo. A canção seria gravada só dois anos depois, em 1953, por Inezita Barroso.

Ficaria famosa na voz de Marcia, nos anos 1960, e ganharia o país com outras intérpretes, como Bethânia (que a incluiu, em 1978, no LP "Álibi") e Carmen Costa.

Em 1963, foi a vez de o cantor Noite Ilustrada lançar a segunda composição de Vanzolini a ser gravada, "Volta por Cima" --antes recusada por Inezita, que a considerou pouco comercial.

A gravação foi incluída no filme "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro" (1969), que renderia a Glauber Rocha o prêmio de melhor diretor em Cannes. Faria sucesso na voz de Jair Rodrigues.

Em 1967, mais de 20 anos após começar a compor, Vanzolini teria um disco inteiro gravado com suas canções, "11 Sambas e uma Capoeira".

Anos depois, seria considerado por ele seu único disco "que presta". Em 1979, ele gravou suas canções em "Paulo Vanzolini por Ele Mesmo".

Em 2009, foi retratado no documentário "Um Homem de Moral", de Ricardo Dias, com imagens da cidade dialogando com suas canções.

Nos últimos anos, não costumava compor, apesar de ainda participar de shows.


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