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Vizinho bilionário

Atraso para entregar apartamentos deixa 70 famílias morando em bairro que já foi quase todo esvaziado, em frente de obra de R$ 2 bilhões para ampliar aeroporto de Cumbica

RICARDO GALLO DE SÃO PAULO

Deolinda Maria Antonio, 44, é uma das poucas moradoras remanescentes de um bairro em extinção: ela vive em uma casa do Jardim Novo Portugal, em Guarulhos (Grande São Paulo), que ocupa irregularmente uma área dentro do aeroporto internacional de Cumbica e está prestes a ser esvaziado.

A dona de casa, a filha e a neta são uma das 70 famílias a permanecer ali. O bairro, com casas de alvenaria e ruas de terra, tinha 594 famílias até novembro. As demais foram indenizadas e saíram.

O resultado são quarteirões quase desertos, com casas aqui e ali, a formar uma cidade fantasma. Ironicamente, a vista dá para as obras de ampliação de Cumbica para a Copa de 2014, um investimento estimado no ano passado em R$ 2 bilhões e que, entre outros, criará um terminal de passageiros.

ELA QUER SAIR

Não que Deolinda não queira sair: nascida na região, moradora do bairro boa parte da vida, ela recebeu um apartamento do Minha Casa Minha Vida a 13 quilômetros dali, no bairro dos Pimentas, perto do distrito paulistano de São Miguel Paulista.

Já era para o imóvel ter sido entregue quatro meses atrás, o que faria esse trecho do Novo Portugal, uma ocupação ilegal feita nas últimas décadas, ter desaparecido.

Só que um atraso fez o residencial Esplanada ainda não ter sido liberado pela Caixa Econômica Federal, responsável pelo empreendimento. Daí ela e as outras 69 famílias estarem quase isoladas hoje no que restou do Jardim Novo Portugal.

"Aqui tem ratos, cobras, cachorros que os donos deixaram e vivem atacando quem ficou. E à noite sempre tem gente estranha rondando", diz Deolinda. A iluminação chegou a falhar, o que torna o bairro um breu à noite --o problema foi resolvido.

Mas o que deixa a dona de casa irritada é a razão pela qual ela ainda não se mudou: a presidente Dilma Rousseff mandou colocar pisos nos apartamentos do Minha Casa Minha Vida em todo o país, o que fez a entrega do residencial ter sido adiada.

Até então, os apartamentos eram entregues sem piso.

Assim que informados da exigência do piso, os moradores disseram que, primeiro, lhes foi dito que a ida deles para o Esplanada seria em fevereiro, depois março e, por fim, maio. À Folha a Caixa não deu detalhes --limitou-se a dizer que a entrega está prevista para julho.

Enquanto isso, a GRU Airport, administradora do aeroporto, mantém assistentes sociais para atender as famílias e faz rondas durante o dia para, entre outras ações, evitar invasões no local.

Interessados, há. "Já vieram me perguntar quanto custa um terreno aqui", diz Eliana de Oliveira, 25, dona de casa que também espera o Esplanada ser liberado para deixar o Novo Portugal.

Uma vez que isso aconteça, o bairro ficará vazio, como parte do perímetro de segurança de Cumbica --ele está perto demais das duas pistas do aeroporto.


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