Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

A pele que habito

Moradores tatuados de um dos edifícios mais populosos de São Paulo são retratados em pinturas

ROBERTO DE OLIVEIRA DE SÃO PAULO

Pouco adiantou o artista plástico Marcos Schmidt, 41, fixar avisos nos murais do Copan, convidando moradores tatuados a servir de modelo para uma exposição.

O comunicado passou batido. Difícil competir com uma enxurrada de anúncios, que vão da venda de eletrodoméstico e bike ao disputadíssimo aluguel de garagem.

O jeito foi ele mesmo sair à "caça", arregalar bem os olhos (3,75 de miopia em cada um, fora o astigmatismo) e ficar atento ao movimento incessante de um dos edifícios mais populosos do país.

Desenhado por Oscar Niemeyer, o Copan é uma "cidade de superlativos": no centro de São Paulo, 2.038 moradores ocupam 1.160 apartamentos, distribuídos em seis blocos; há ainda 72 lojas.

Schmidt se mudou para lá em 2009. No "formigueiro", percebeu uma marca registrada entre os moradores do Copan: a tatuagem.

Daí surgiu a ideia de entrevistar, fotografar e pintar os tatuados do prédio. Primeiro, Schmidt os abordava (foram cerca de 30) e falava sobre o projeto. Depois, batia à porta dos "escolhidos" para conhecer onde eles viviam.

O artista plástico aplicava, então, um questionário. Queria saber quantos desenhos o entrevistado tinha pelo corpo e o que o inspirou.

ROCK E SANTOS

"A grande maioria fez a primeira tatuagem quando jovem. Era uma maneira de afrontar os pais", conta.

O artista fotografou os moradores em seus apartamentos, quase todos à noite.

Com base nas fotos, fez as pinturas com óleo sobre tela. Até ontem à noite, eram 13.

"Assim como o lugar onde as pessoas vivem revela muito sobre elas, o mesmo acontece com as tatuagens."

Pelas respostas dos entrevistados, Schmidt descobriu que as tatuagens estão relacionadas à música (rock, principalmente), desde a capa de um disco ao desenho do rosto de um ídolo.

Outro traço é o "universo espiritual", com imagens de santos e símbolos religiosos.

A projetista Juliana Trento, 27, mostra, na perna direita, a tatuagem colorida de uma santa "genérica".

"É a nossa senhora da Juliana", brinca a moça, cinco anos de Copan, dez desenhos --por enquanto.

"Elas representam as fases da minha vida, da minha personalidade", conta. "Demorei cinco anos para deixar o meu apartamento de um jeito que eu gostasse. O mesmo aconteceu com o meu corpo."

FAMÍLIA

Outra tema recorrente entre as tatuagens do Copan é a família. "Desenhos dos pais, de um amuleto ou uma alguma imagem que os remeta à família são muito comuns", conta o artista plástico.

Com 23 tatuagens espalhadas pelo corpo, o estilista Walério Araújo, 42, foi outro "selecionado" por Schmidt. No braço direito, o rosto da mãe e objetos que fazem referência ao universo materno; no braço esquerdo, o pai.

As costas são território ocupado por nomes de ex-namorados. Quando o relacionamento termina, Araújo "risca" o nome do agora ex.

EXPOSIÇÃO

O estilista, Juliana e outros 11 moradores do Copan "estarão" nas telas da exposição "A Pele que Habito", que será aberta no próximo dia 10, numa galeria de um estúdio de tatuagens, o Soul Tatoo, em Pinheiros (zona oeste).

Não estranhe se Schmidt se sentir um pouco deslocado por ali. É porque ele não tem nenhuma tatuagem.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página