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Opinião

Atos reforçam imaginário do Estado com fundos infinitos

MAIORIA DAS REIVINDICAÇÕES TEM EMBOCADURA QUASE ÚNICA: AUMENTAR A PRESENÇA DO ESTADO NA SOCIEDADE

FERNANDO RODRIGUES DE BRASÍLIA

É impossível não simpatizar com as pessoas que foram às ruas protestar e reclamar do estado geral do país. Durante o "espetáculo do crescimento" do governo Lula, tornou-se uma atividade quase proscrita criticar o Brasil. Quem ousava fazer isso era logo classificado de "fracassomaníaco" ou portador incorrigível do "complexo de vira-lata".

Reclamar de ruas congestionadas ou aeroportos superlotados passou a ser um "preconceito da elite" (sic). Os ricos estariam incomodados por ter seu espaço invadido pela legião de brasileiros incluídos à chamada nova classe média.

Mas aí os protestos de rua mostraram algo diferente. Não são só os ricos e a elite os insatisfeitos com os serviços públicos de péssima qualidade. A massa de brasileiros que passou a consumir mais também percebeu como era postiça a ideia de que o país já pertencia ao clube dos desenvolvidos.

Só que, da mesma forma do raciocínio binário anterior, uma euforia tomou conta das análises quase sempre favoráveis aos indignados nas ruas. "O Brasil acordou" virou uma verdade absoluta.

Tem ficado de fora das avaliações um aspecto sombrio e agourento dos protestos. A imensa maioria das reivindicações tem uma embocadura quase única: aumentar a presença do Estado na sociedade.

Passe livre para todos no transporte público. Hospitais "padrão Fifa". Educação "padrão Fifa". Redução no preço ou eliminação dos pedágios. E por aí vai. Em resumo: "Ei, governo, me dá um dinheiro aí".

Pode-se argumentar que é positiva essa demanda. Cidadãos pagam impostos e querem receber bons serviços de volta. É uma verdade parcial.

Até porque não se via ali nas manifestações uma bandeira assim: "Quero um Estado justo, que torne o Brasil um país no qual pessoas que tenham interesse em empreender possam abrir suas empresas, criar empregos e não serem importunadas pelo Estado".

Não, nada disso. Os indignados brasileiros parecem olhar (pelo menos, a maioria) para o Estado como uma grande teta na qual todos podem mamar de maneira eterna --e como se os recursos públicos fossem infinitos e brotassem por geração espontânea.

Logo no início dos protestos, uma TV entrevistou um homem que reclamava dos transportes e da inflação. Está tudo caro e ele tinha dificuldade para pagar suas contas. Parecia saudável e estava bem vestido. Na parte de baixo da tela aparecia o nome do entrevistado, sua idade e qualificação: 58 anos, aposentado.

Como é possível alguém estar aposentado aos 58? Essa e muitas outras são anomalias da organização de um Estado-nhonhô que não interessam aos que protestam nas ruas. No Brasil, como se sabe, o Estado nasceu antes da sociedade. As demandas dos indignados são mais uma prova disso.


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